Virgil Abloh se desculpa após criticar manifestantes no Instagram
Fundador da Off-White comentou em um vídeo no qual aparece uma loja destruída e gerou controvérsia por seu posicionamento
atualizado
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O estilista Virgil Abloh não escondeu o seu descontentamento ao ver uma loja destruída durante protesto nos Estados Unidos, no último fim de semana. Em vídeo publicado por Sean Wotherspoon, Abloh deixou um comentário criticando a depredação provocada pelos manifestantes. Posteriormente, no entanto, o fundador da Off-White esclareceu o que, realmente, quis dizer com a crítica. Ainda assim, alguns internautas não perdoaram. Depois da repercussão negativa, ele se desculpou com um texto de sete páginas.
Vem comigo saber os detalhes!
A polêmica
Toda a confusão começou por causa de um vídeo do Instagram publicado pelo designer Sean Wotherspoon no último domingo (31/05). No post, ele mostra o estrago deixado em sua loja de tênis vintage, Round Two Los Angeles, após ter sido destruída por manifestantes. Abloh comentou criticando os responsáveis pela ação. O posicionamento do estilista repercutiu. Teve mais de 10 mil likes e dividiu opiniões.
Em um comentário paralelo deixado no post, Wotherspoon, responsável pela filmagem, se posicionou de forma diferente de Abloh, deixando claro que sua maior preocupação não era a situação da loja. “Precisamos que nosso mundo mude. Todas as pessoas devem ser tratadas da mesma forma”, publicou o dono da Round Two Los Angeles.
Um internauta chegou a reclamar que Virgil Abloh “não postou nada sobre [a morte de] George Floyd” e o acusou de valorizar mais as coisas materiais do que vidas humanas. Entretanto, antes mesmo do comentário, o estilista já havia se manifestado sobre o ocorrido. No dia 28 de maio, Virgil usou o próprio Instagram para divulgar um número de telefone pelo qual os seguidores poderiam pedir justiça pelo ex-segurança negro.
Esclarecimento e críticas no Twitter
Depois de fazer o comentário, Abloh usou uma série de Stories do Instagram para dizer que seu incômodo não foi sobre produtos roubados, mas pelo ataque à cultura do streetwear. “Streetwear é uma comunidade. São grupos de amigos que têm um vínculo em comum. Ficamos nas esquinas, brigamos entre si, brigamos um pelo outro”, escreveu. “Em nenhum momento que usei a palavra streetwear eu mencionei um sapato, camiseta ou moletom.”
Mesmo assim, internautas se sentiram incomodados com a postura. Um deles tuítou: “Você realmente não tem nada para dizer sobre o assassinato do seu povo (pessoas negras), mas teve tempo de escrever um longo parágrafo sobre as lojas de seus amigos? Você não fez nada pela cultura”. “Desculpem, mas material é só… Material. É uma pena enorme que negócios estejam sofrendo, mas tem pessoas reais sofrendo mais”, opinou outro usuário do Twitter.
Pedido de desculpa
Após a repercussão negativa do comentário, Abloh voltou atrás e se desculpou com um texto de sete páginas publicado em suas redes sociais nessa segunda-feira (01/06). No comunicado, ele reafirma sua posição enquanto homem negro diante do racismo estrutural dos Estados Unidos. O estilista inicia o texto afirmando que sente medo e insegurança em diferentes situações pelo fato de ser preto.
“Deixe-me começar com alguns fatos centrais. Eu sou um homem negro. Um homem negro retinto. Tipo, retinto mesmo […] Como um homem negro, eu sinto raiva, tristeza e dor toda vez que algum de nós é vítima ou prejudicada pelo racismo sistêmico”, declarou. “Me sinto mal que George Floyd e outras gerações de pessoas pretas tenham sido mortas injustamente pela polícia.”
Depois, desculpou-se por ter dado a entender que se importava mais com a destruição das lojas do que com a violência contra a população negra. “Ontem falei sobre como minhas lojas e amigos foram saqueados. Peço desculpas por parecer que minha preocupação com essas lojas superou minha preocupação com o nosso direito de protestar contra a injustiça e expressar nossa raiva e raiva neste momento”, lamentou. Ele não deixa claro, no entanto, se alguma loja da Off-White foi afetada.
“Como muitos disseram, os edifícios são de tijolo e argamassa e coisas materiais podem ser substituídas, as pessoas não. Vidas negras importam. Neste momento, essas outras coisas, não”, continuou. Em seguida, reconheceu que críticas a saques costumam deslegitimar as lutas contra injustiças. “Eu não percebi as maneiras como meus comentários acidentalmente contribuíram para essa narrativa. Se os saques aliviam a dor e favorecem a missão geral, estou de acordo com eles.”
Doação controversa de “apenas” US$ 50
Outro detalhe tão polêmico quanto o comentário foi um printscreen publicado por Abloh, com uma doação de US$ 50 para um fundo destinado ao pagamento de fianças de mulheres presas. Para os internautas, a contribuição deveria ser maior, tendo em vista a posição do estilista como fundador da Off-White e diretor criativo da linha masculina da Louis Vuitton. As duas marcas, como se sabe, comercializam produtos de alto custo.
No texto publicado após a controvérsia, ele esclarece que, na verdade, doou US$ 20.500. O recibo de US$ 50 se tratava de uma ação solidária entre ele e amigos. “Continuarei doando mais e usando minha voz para incentivar colegas a fazerem o mesmo”, reiterou.
Mesmo depois de esclarecer o ponto de vista e se desculpar pelo comentário, as críticas continuaram. Houve também quem fizesse piada com o nome do estilista, usando “Virgil” como uma espécie de gíria para se referir ao valor de US$ 50. Para alguns, ele deveria ter divulgado o valor completo da doação, detalhe que Abloh menciona no pedido de desculpas.
“Eu estava em cima do muro sobre divulgar o valor total da quantia de dólares porque não queria parecer que estou me vangloriando por apenas quantias mais altas ou que quero ser aplaudido por isso”, justificou. Ele aproveitou para destacar alguns projetos que já realizou em prol de jovens negros e anunciou novidades, como itens que chegarão em breve, com receitas destinadas a fundos para manifestantes.
O designer conclui o texto afirmando que é um “agente da mudança”. “Quando você me vir em qualquer lugar, saiba que estou carregando a bandeira para redefinir a caixa em que nós, como negros, fomos colocados. Eu lidero com amor e me movo em relação a todos que já conheci”, completa.
Colaborou Hebert Madeira