Victoria’s Secret e A Substância: corpos padrões nunca saíram de moda
Mesmo com supostas tentativas de inclusão, estar no mercado de moda requer, na maioria das vezes, um corpo magro e jovem
atualizado
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O polêmico retorno do Victoria’s Secret Fashion Show, após anos de hiato, e o sucesso do filme A Substância provam que a hegemonia do “corpo perfeito” na moda nunca deixou de existir. A ditadura da magreza e a busca incessante pela juventude eterna são padrões que podem ter passado de seus auges midiáticos, mas se mantêm fortes nos bastidores e são transparecidos como regra nos produtos finais dessa indústria.
Vem entender melhor!
Apesar dos discursos em defesa da diversidade que vem dominando pautas de ativistas e até mesmo de marcas, a pressão por corpos perfeitos e a idealização da beleza continuam a moldar a vida de pessoas que têm a mídia e a moda como referência de beleza.
No aguardado desfile da Victoria’s Secret, realizado no dia 15 de outubro, as representantes “inclusivas” estavam lá, mas uma regra foi seguida: quanto mais fora do padrão, mais coberto o corpo estava. Os corpos não magros tinham poucas polegadas de pele à mostra, e as modelos que não estavam mais na juventude exerceram apenas o papel de espetáculo, ajudando a construir a imagem evoluída que a grife busca construir.
Até mesmo Isabeli Fontana, com 41 anos, teve suas qualidades como modelo subaproveitadas, atuando apenas como uma convidada especial do evento.
Os anos 2000 foram marcados por práticas ligadas à magreza extrema, e a moda tem importante papel nesse fenômeno. Distúrbios como a anorexia e a bulimia dispararam na década. Contudo, apesar de não ser mais tão comentado pela mídia, esse comportamento ainda destrói a vida de milhões de pessoas.
A Associação Brasileira de Psiquiatria estima que mais de 70 milhões de pessoas no mundo apresentem algum distúrbio alimentar. No Brasil, esse número chega a 15 milhões de pessoas, de acordo com o Hospital da Universidade de São Paulo (USP), em dados divulgados em julho de 2024.
A Substância e o etarismo
A busca pelo corpo perfeito também esbarra na questão do etarismo, a exclusão baseada na idade. No filme A Substância, lançado em setembro nos cinemas brasileiros, Demi Moore interpreta a atriz Elisabeth Sparkle, sucesso no passado, e no caminho para o ostracismo por causa da sua idade. Moore já passou, ela mesmo, por duras críticas por sua aparência pelo mesmo motivo. Em 2021, o resultado de uma cirurgia plástica nas bochechas foi motivo de zombação e hate na internet.
Na ficção, após ser demitida da emissora por não atender mais a vontade do público, a personagem consome “a substância”, que promete te dar a melhor versão de si mesmo por um tempo determinado. Se vendo novamente jovem e com um corpo “perfeito”, Sparkle vive uma vida dupla, em seu corpo real e na projeção de um corpo considerado ideal.
Tanto o retorno do Victoria’s Secret Fashion Show quanto o sucesso de A Substância deixam claro que, apesar das supostas tentativas de inclusão e diversidade, a pressão por um corpo perfeito, magro e jovem ainda dita o que se entende por beleza e garante um lugar no mercado. O que se vê nos bastidores é um reflexo contínuo de uma indústria que, disfarçada de progresso, ainda perpetua os mesmos padrões excludentes, que atinge mulheres de todos os corpos e idades.