Viagem no tempo: brechó Lixomania reúne garimpos de diferentes décadas
Fundado por Rachel Smidt, o empreendimento brasiliense tem antiguidades, itens vintage e roupas de grifes renomadas. Confira!
atualizado
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Ao olhar fotografias antigas dos pais ou avós, quem nunca se perguntou: “Onde será que essa peça foi parar?”. Em um momento em que a moda olha cada vez mais para o passado, os visuais usados em décadas anteriores se tornam verdadeiros artigos de desejo. Com a certeza de que o “lixo” de um pode ser um tesouro de descobertas para o outro, Rachel Smidt resolveu reunir as peças garimpadas no Brasil e no mundo em um só lugar. E, assim, nasceu o antiquário de vestir Lixomania. Para a série Moda Brasília, a coluna bateu um papo com a idealizadora do projeto.
Vem conferir!
Vintage em foco
A moda é altamente influenciada pelos visuais de décadas anteriores. Depois das tendências que marcaram a geração oitentista e as peças que definiram a década de 1990, elementos dos anos 2000 ressurgem nas vitrines mundo afora. Esse resgate prova um ponto importante: o passado segue inspirando o presente. Nesse sentido, os empreendimentos voltados para a revenda são locais ideais para adquirir garimpos únicos. Segundo a McKinsey & Company, empresa especializada em consultoria empresarial, a geração Z representa 40% dos consumidores globais de brechós.
Rachel Smidt, fundadora do Lixomania, entendeu o recado. “Nos meus garimpos pelo Brasil e pelo mundo, eu comecei a pegar peças que não eram necessariamente para mim, mas que também eram muito preciosas para serem deixadas para trás. Logo, veio o nome Lixomania à minha mente, pois muitos dos meus garimpos eram descartes de peças que as pessoas não queriam mais”, conta à coluna.
O empreendimento foi moldado de maneira gradual. Em 2019, Rachel expôs pela primeira vez na festa Boogie, de Brasília. Depois, participou de feiras, encontros e eventos voltados para a economia circular. Paralelamente, iniciou as vendas pelo Instagram. O projeto ganhou um novo status em 2020, quando a empresária reservou um espaço charmoso na garagem de casa para atender o público com hora marcada. Com um acervo cada vez mais robusto, migrou para uma sala comercial e, recentemente, desembarcou na comunidade criativa Infinu.
As peças da Lixo se destacam por um fator marcante: a curadoria especializada. Como em poucos lugares no Brasil, o espaço reúne achados de décadas distintas, antiguidades e itens raros de grandes grifes. “Entendo a importância de todos os segmentos de brechós, mas vejo no vintage a possibilidade de se ter uma roupa com mais qualidade, durabilidade, história, estilo e, principalmente, exclusividade”, pontua.
Confira entrevista com Rachel Smidt, fundadora do brechó Lixomania.
Você já tinha afinidade com a moda antes de fundar o brechó? Como foi delimitado o segmento que o portfólio do Lixo Mania abrange?
Rachel Smidt: Eu fui uma criança muito conectada com o vestir. Sempre pegava as roupas velhas da minha mãe, inventava figurinos e sempre me expressei criativamente por meio das roupas que colocava em meu corpo. Isso nunca deixou de ser parte da minha vida. Aos 20 anos, comecei a comprar em brechó. Não por nenhum tipo de ideologia de sustentabilidade, mas porque lá achava roupas estilosas, exclusivas, bem mais em conta e, às vezes, assinadas.
Como você faz o garimpo das peças? Você costuma viajar para fazer a curadoria?
Tenho mapeado em Brasília uma vasta gama de “fornecedores”, do entorno ao Plano Piloto. O segredo é manter o olhar atento e uma boa comunicação. Você nunca sabe onde vai encontrar aquela joia vintage, a não ser que vá atrás. Eu faço o meu garimpo em vários outros estados e também fora do país. Não tenho uma década específica ou preferida durante a minha “caça ao tesouro”, mas tenho em mente achar peças de boa qualidade e que, de fato, representem a década na qual elas foram produzidas.
O brechó segue uma estética ou preferência de estilo?
As peças têm que representar a década e ter qualidade. Uma roupa de baixa qualidade, por mais que seja dos anos 1970, provavelmente não entrará no acervo. E nem uma peça sem estilo, mais comum. Quando eu falo em qualidade, não quero dizer que ela tem que estar impecável. Aliás, isso é zero determinante!
Eu pego itens superdetonados e alguns levam até um mês para ficarem prontos, porque passam pelo processo de higienização (tirar mofo, manchas e ferrugem); são consertados os buracos ou reconstruídas as peças que eu sei que são supervaliosas. Apesar do meu foco não ser em etiquetas famosas, eu fico de olho, entendo e valorizo o valor agregado de uma boa marca.
Quem é a cliente da marca? O que ela almeja na hora de investir em uma joia?
Os lixomaníaques (apelido carinhoso que dou aos nossos clientes) são pessoas de idades e objetivos diversos. Mas existem algumas características em comum. “Váries” são colecionadores, compram as peças pois tem acervo e, às vezes, nem usam, só colecionam mesmo. “Muites” procuram a roupa duradoura que faz sentido consumir em um contexto atual onde se entende que os recursos do planeta estão colapsando (lembrando que a indústria têxtil é a segunda mais poluente do planeta). Mas, se tem uma característica que é quase unânime, é a procura de uma roupa exclusiva e com muita personalidade.
Como está a fase atual do Lixomania? Quais são os planos para o empreendimento?
Hoje, além do foco em vendas presencial e pela internet, estou investindo nos trabalhos autorais de moda, como fashion films, curtas-metragens e ensaios com muita “contação” de história. Acredito que, além de uma moda sustentável e circular, a criatividade por meio do vestir deve ser valorizada. A moda é arte e diversão também, não precisa ser apenas uma função. Tenho meus “parceires” fotógrafos, modelos, atores, maquiadores, dançarinos e músicos nessa jornada da divulgação do belo e do divertido. Agora que podemos fazer eventos novamente, a tia Lixo (o meu alter ego da Lixomania) vai voltar a produzir feiras, agregando à comunidade entusiasta do vintage. Vem muita coisa boa por aí!
Moda Brasília
A coluna Ilca Maria Estevão deu início à série Moda Brasília em 2021. Toda semana, apresentamos marcas, designers e etiquetas locais, a fim de dar ênfase à moda criada no Distrito Federal, no Centro-Oeste.
O objetivo é apresentar iniciativas e empresas que atuam em prol da cadeia produtiva regional de maneira criativa, sustentável e inovadora. Os nomes são selecionados de forma independente pela equipe da coluna, a partir de critérios como diferencial de mercado, pioneirismo e ações que valorizem a comunidade.
Colaborou Marcella Freitas