Veja como A Substância usa moda como ferramenta narrativa de dualidade
O figurino do filme usa cores e estilos para representar a transformação das personagens e reforça temas de insatisfação e renascimento
atualizado
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Você percebeu que o inesquecível casaco amarelo usado por Demi Moore em A Substância remete à simbologia da gema do ovo, que é multiplicada após a aplicação do elemento que dá nome ao filme? O fenômeno cinematográfico do momento, dirigido por Coralie Fargeat, tem esse e diversos outros símbolos visuais relacionados ao figurino e à moda, que ajudam a contar a história de Elizabeth Sparkle.
Vem conferir mais detalhes!
Apesar de as imagens explícitas e viscerais serem o veículo principal da mensagem que o filme tem a passar, a equipe de figurino, comandada por Emmanuelle Youchnovski, foi perspicaz ao usar a moda como técnica de narrativa, com sutileza e impacto visual ao longo do longa-metragem.
O filme começa com roupas em tons intensos de vermelho, amarelo e azul. O programa de ginástica apresentado pela personagem de Demi Moore teve seu auge entre os anos 1980 e 1990, assim como o sucesso da personagem. As roupas demonstram um apego a esse passado, defendendo a ideia de que lá tudo era mais simples, ao mesmo tempo em que Elizabeth tenta se defender da mudança de ares e de cores.
Com o desenvolvimento da narrativa, novos estilos, cortes e paletas de cores representam a fragmentação das identidades de Elizabeth e Sue. Atenção, se ainda não assistiu ao filme, corre para ver e volta aqui, por teremos spoilers!
Mesmo após usar a substância, a protagonista, em seu corpo mais velho, não perde sua essência, e marca um encontro com alguém que está interessado na Elizabeth real. A personagem poderia, influenciada por sua outra metade, vestir roupas que fogem de sua paleta para demonstrar uma personalidade mais jovial e divertida, mas não: ela está determinada a ser ela mesma.
Contudo, aos poucos, ela perde a autoestima ao pensar em sua versão “ideal”, desiste de ir ao encontro e decreta o fim de sua personalidade real. É neste ponto que Sue passa a tomar conta da vida das duas versões.
A moda pós-substância
Quando Sue começa a viver sua nova vida, distanciando-se de seu corpo de origem, as personalidades começam a diferir, e os estilos caminham em direções contrárias. As cores neutras passam a ser exclusivas da versão de 60 anos, enquanto a personagem idealizada assume um guarda roupa rosa, roxo e brilhoso, em alguns dos looks que marcam a estética fantasiosa do filme.
Roupas — e cabelo — que remetem à estética “reptiliana”, como uma mutação, também são usados em A Substância. A ficção científica da narrativa é explorada na moda por meio de um body preto de pele de cobra e um robe com lantejoulas em formato de dragão — referências aos temas de troca de pele e renascimento.
No cinema, escolhas de estilo ajudam a contar a história para além do que é falado e mostrado explicitamente. A moda tem essa importante ferramenta de comunicação por meio do figurino, e em A Substância (The Substance) não foi diferente.