Todo profissional de moda precisa ser influencer? Confira análise
A coluna entrevistou especialistas para responder a pergunta. Na era de trends, criação de conteúdo com autoridade se destaca no meio
atualizado
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Os efeitos da pandemia, provavelmente, serão sentidos por anos a fio. Nesse período que exigiu transformações estruturais da sociedade, profissionais das mais diferentes funções precisaram se adaptar ao momento. Na ausência de contato face a face, a internet se tornou uma alternativa para muitos continuarem vendendo, produzindo, existindo.
O mesmo acontece com o mercado da moda. Com essa página virada, profissionais de diferentes áreas se veem obrigados a criarem conteúdo na mesma constância que influenciadores digitais. A coluna entrevistou especialistas para responderem a seguinte pergunta: os profissionais de moda precisam, necessariamente, ser influencers? Vem conferir!
Desde março de 2020, quando o lockdown foi instaurado em todos os cantos do mundo, a maneira de viver foi adaptada para o momento. Consequentemente, a comunicação, o consumo e os meios de estar em contato também passaram por reformulações.
Nesse cenário, as redes sociais se tornaram a linha que unia as pontas. Perfis no Instagram, liveshops e mensagens diretas viraram quase mandatórios no planejamento de empresas. “Não só as marcas, mas todas as pessoas se acostumaram a se relacionar por vídeo. A mudança foi tão profunda que as redes sociais privilegiam esse conteúdo atualmente e as marcas aderiram ao vídeo até como uma das opções de apresentação de produtos nos e-commerces”, pontua Marília Carvalhinha, professora de negócios de moda da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap).
No campo da moda, os processos foram acelerados. Para alcançar uma omnicanalidade satisfatória, que consiste na integração entre os canais de venda, as marcas precisaram correr contra o relógio. Marília, que também atua como consultora de marcas, viu de perto redes varejistas se desdobrarem para concretizar projetos que estavam sendo desenvolvidos lentamente nos bastidores.
“Integrar estoques, permitindo que um produto vendido em um canal fosse entregue por outro, foi uma mudança que continua sendo aplicada. Ou seja, é mais comum que você compre on-line e receba de diferentes lojas de uma mesma rede, otimizando o aproveitamento do estoque geral da empresa”, observa a especialista.
Apesar de estarem na mesma seara, marcas grandes e pequenas produzem conteúdo de maneiras diferentes. Enquanto uma rede como a Arezzo, por exemplo, planeja seu conteúdo de redes sociais com antecedência, uma etiqueta menor tem maior liberdade para poder participar de uma trend ou viral.
No entanto, os contrapontos vão além. “A vantagem para o pequeno empreendedor é a agilidade estratégica. Ele tem uma mobilidade muito maior do que o grande para testar e aplicar tendências. A desvantagem é que tem menos recursos e, muitas vezes, menos visão estratégica”, completa Marília Carvalhinha.
É preciso dançar conforme a música?
De acordo com Renata Zveibel, especialista em branding e construção de imagem pessoal, a resposta para a pergunta é não. Na era da infodemia, termo que se refere ao acesso de informações que as pessoas recebem diariamente, ela indica os pontos-chaves que diferem uma pessoa qualificada de um simples entusiasta: repertório, autoridade e clareza do posicionamento.
“Na mesma medida em que as redes sociais proporcionam um alcance que não seria possível de outra forma, elas também trouxeram esse fenômeno de que todo mundo é especialista em alguma coisa, justamente por ser um canal democrático. Mesmo sem tanta bagagem, as pessoas se sentem aptas a falar sobre os temas em voga”, destaca a mentora em entrevista à coluna.
Para os profissionais de moda não cederem às dancinhas de TikTok, as metas pessoais devem estar claras e em sinergia com o conteúdo proposto. Considerando que o público valida a reputação por meio do histórico, aqueles que desejam ser referências em seu segmento devem se manter alinhados com valores e propósitos.
“Se você é visto como uma pessoa que tem autoridade, conhecimento e credibilidade naquilo que fala, naturalmente você se tornará uma influência para as pessoas que te acompanham”, avalia Zveibel.
Saber quando e como falar é uma habilidade essencial na vida, assim como no trabalho. Não é porque uma pessoa exerce uma função na moda que ela precisa, necessariamente, ter uma opinião formada sobre tudo.
Um exemplo recente que ilustra bem esse cenário opinativo foi o desfile de primavera/verão 2023 da Schiaparelli, na Semana de Moda de Alta-Costura, em janeiro. Por conta das peças que traziam cabeças artificiais de animais em 3D, alguns internautas acusaram a maison de fazer uma apologia à caça predatória.
Como o assunto foi parar no topo dos tópicos, milhares de pessoas — muitas sem conhecimento prévio sobre a história da grife com viés surrealista — começaram a emitir a sua percepção sobre a apresentação. O resultado? A web ficou dividida entre extremos em meio a uma discussão rasa.
Para Renata Zveibel, uma profissional que ilustra bem o caminho autêntico de produção de conteúdo de moda é Barbara Migliori, ex-jornalista da Vogue Brasil. “Ela encontrou um meio de linguagem de vídeo que tem a cara dela, que traduz bem quem ela é. Essa autenticidade é perceptível pelos seguidores e ajuda a construir uma reputação sólida”, avalia.
Assim como ela, nomes como Luanda Vieira, Carol Bassi e Thai de Melo Bufrem são referências em influência atrelada ao estilo de vida.
O segredo (se é que existe um) é entender que as redes sociais são ferramentas, não estratégias. Fotos e vídeos são conteúdos efêmeros e logo serão esquecidos por quem os consome. Uma marca forte, no entanto, é lembrada, apesar disso.
“Que fique claro: não há nenhum problema em usar as trends ao seu favor. É importante pinçar esses assuntos de uma forma que faça sentido para a sua essência, estando alinhado com o que você deseja agregar ao seu trabalho”, aconselha Renata Zveibel.