Tictóxica: Gabb fala sobre internet, carreira e moda
Com milhões de visualizações e uma base fiel de seguidores, a influencer transforma críticas de moda em um entretenimento imperdível
atualizado
Compartilhar notícia
Gabb é o nome artístico de Gabriel Moraes, uma criadora de conteúdo não binária que conquistou a internet com humor ácido e comentários hilários sobre moda. A consequência? Bordões virais como “movie star”, “horrorosa” e “iconic” invadem diariamente o vocabulário de internautas. Em entrevista à coluna, ela fala sobre a própria ascensão na web, e, claro, a carreira fashion.
Vem saber mais!
No caminho de se tornar uma “movie star”
Natural de São Paulo, mas criada em Minas Gerais, Gabb está na internet há anos. Ela começou com conteúdos para o Snapchat, mas havia uma diferença no repertório.
“Não era o mesmo tipo de conteúdo no começo, era um pouco mais tóxico do que eu faço hoje”, brinca. “Eu morava em Juiz de Fora, em uma avenida que era muito movimentada, que é a Rua Santo Antônio, de esquina com a Independência. E eu ficava na janela filmando as pessoas da minha casa criando histórias para elas”, relembra a movie star.
Os comentários, que atualmente são voltados para as celebridades em tapetes vermelhos, antes tinham como alvo as pessoas do cotidiano de Gabb: “Eu dizia ‘Ah, eu acho que esse aqui é um médico divorciado, que gosta de tomar suco de laranja’, mas, claro, fazia coisas pesadas também do tipo ‘Ah, e essa aqui tem cara que já matou uma pessoa'”, explica.
Segundo a influenciadora, a criatividade fluía de acordo com a roupa da pessoa analisada. E foi assim que alguns habitantes passaram a evitar circular perto da casa de Gabb.
“Era eu, com Snapchat, em uma cidade pequena, né?! Imagina! As pessoas do colégio sabiam o que eu fazia. Aí, começaram a não passar mais em frente à minha casa, porque sabiam que eu ia acabar filmando. Porém, sempre foram apenas comentários sobre as pessoas com base em uma semiótica”, avalia a criadora de conteúdo.
As inspirações para os vídeos que Gabb grava são variadas. Para a criação do formato atual, a Tictóxica — nome de usuário da influencer na plataforma — pegou referências da “instituição” brasileira que se chama “Gays Assistindo Clipes na Sala”, que é praticamente o que ela replica, mas no formato audiovisual.
“Toda gay já passou por isso. Ela senta com os amigos para ver vídeos antigos da Madonna, da Mariah [Carey], da Cher, e rola esse tipo de comentários: ‘nossa, tá horrorosa’ ou ‘nossa essa roupa tá incrível’”, observa.
Ainda na época do Snapchat, Gabb assistia ao talk show Fashion Police, apresentado pela atriz e comediante Joan Rivers: “Era o que mais me divertia assistindo. Depois que ela morreu, em 2015, eu nunca mais vi, nesses dez anos, nenhum tipo de conteúdo parecido”.
Assim, nasceu a ideia de começar algo similar. “Eu sou sociólogo, então o meu conteúdo era sobre tudo; filme, política, etc. Só que eu sentia que falava de tudo e nada ao mesmo tempo, sabe? Aí eu pensei ‘cara, eu vou nichar na moda. Vou fazer um conteúdo que eu gostaria de assistir’”, conta.
“Such a beautiful girl”: o estilo camp de Gabb e a vida na internet
Gabb é conhecida por ter estilo um camp — que é uma gíria em inglês para comportamento exagerado e/ou teatral —, além do humor afiado. Com a coluna, ela compartilha o papel que a moda tem na própria vida.
“A moda é fundamental na minha vida. Isso porque, eu, como um comunicador, preocupado com os elementos da moda, acho que faz com que a minha comunicação se torne mais ‘360’”, sintetiza.
Diferente das milhares de personalidades na internet, a influenciadora se destaca por ter um apelo mais energético, e isso, claro, deve-se também às escolhas fashionistas. “Quando eu vou para o Domingão do Hulk, procuro usar um visual mais camp, porque acho que falta na televisão figuras que tínhamos nos anos 2000. Tipo a Elke Maravilha, sabe? Você está passando pelo canal e você vê uma figura estranha. Eu quero ser isso, essa figura estranha”, brinca a fashionista.
Com uma identidade que foge de padrões impostos, ela tem receio de ser cancelada na web em algum momento. “Sinceramente, é uma linha muito tênue. E talvez [o cancelamento] seja o maior medo da minha vida, porque eu acho que eu estou construindo uma coisa tão legal, que eu não queria derrapar por uma bobeira.”
“Eu já errei e já apaguei muitos vídeos. Qualquer menção do tipo ‘ah, Gabb, achei isso ofensivo’ ou ‘olha, Gabb, acho que isso pode ser interpretado de outra forma’, eu já apago. Eu quero que as pessoas riam e que seja um espaço seguro. Comentar um look e dar uma opinião para a gente entender a construção que a outra pessoa usaria pra aquela roupa”, complementa a criadora de conteúdo.
De um tempo para cá, o universo fashion diminuiu o julgamento sobre o que pode ser considerado um look bonito — mesmo que ainda seja um conceito relativo. Com o próprio conteúdo, a socióloga tem o objetivo de promover conversas responsáveis. “Eu sinto falta de um diálogo aberto na moda, então eu quero fazer humor sem ofender as pessoas”, destaca.
“É muito difícil, porque sempre vai ter alguém que vai achar que, por mais que eu não ofenda ninguém, eu posso cair por misógino, mas eu tento me blindar. Se eu estiver tranquilo, sabendo que não não teve nada disso, e a pessoa está me tirando de contexto, eu não fico chateada. Eu fico chateada se eu vir algo que eu fiz e de fato não foi legal, porque aí eu tenho que lidar comigo mesmo, sabe?”, reconhece.
Collab Iconic com a C&A
Em abril, a C&A se deparou com o sucesso de Gabb e aproveitou o hype para lançar uma collab, intitulada Iconic, com a tikoker. Entre as peças da coleção-cápsula, estão camisetas com os clássicos bordões da diva, como “shes’s a movie star” e “mona, o kiki?”, além de um boné; todos disponíveis nas cores preta e branca.
O convite especial foi uma surpresa: “Essa história da C&A foi uma divisão de águas mesmo. Primeiro eu pensei ‘eles são loucos’. Eu acabei de chegar e instaurar todos esses bordões, sabe?”, brinca a influencer. “Eu fiquei com muito medo de não ter saída. Bate uma síndrome de impostora, porque uma coisa é você comunicar algo, outra coisa é você vender esse algo em camiseta”, explica.
Apesar do receio, Gabb não desperdiçou a chance da parceria. A oportunidade, inclusive, fez a jovem refletir sobre a própria relevância.
“Quando chega uma empresa tipo a C&A, que a gente admira e tem loja em todos os cantos do Brasil, e quer fazer uma parceria, é um momento em que é preciso parar o patinete e se dar conta de que ‘tá, eu tomei essa proporção’. E foi o que aconteceu. Até hoje eu não acredito. Eu tô vivendo um sonho, and that’s iconic!”, celebra Gabb.
Ambulatório da M.O.D.A
Com quase 800 mil seguidores, juntando o TikTok e o Instagram, Gabb lançou um programa no YouTube, o Ambulatório da M.O.D.A, em parceria com a Chango TV. A iniciativa, que estreou no dia 1º de maio, convida personalidades do mundo fashion para um bate-papo.
A criadora de conteúdo está realizada com a novidade. “Minha avó falava que eu tinha a ‘boca maldita’. E parece que, depois dos 30, está dando certo mesmo”, diverte-se.
Celebridades como Isabella Fiorentino, Manu Gavassi, Caroline Trentini e Dudu Bertholini, entre outras, já passaram pelo “ambulatório”. À coluna, Gabb revela quem gostaria de ter especialmente no quadro: “Como o meu programa tem quatro lugares, acho que meu sonho seria a ‘santíssima trindade’: Xuxa, Eliana e Angélica. Se eu conseguisse levar qualquer uma das três, eu já ficaria muito feliz, mas se eu conseguisse as três, seria tudo”.
No ambiente da gravação, a comentarista de moda também gosta de ousar em looks excêntricos e inéditos. No entanto, busca aproveitar a visibilidade também para dar espaço a criações mais rebuscadas.
“Na moda, por mais que exista um mercado nacional imenso, a gente também quer comunicar de fora para dentro. Então, é muito importante eu estar afinado nessa estética de agradar a um público exterior, que vai se interessar em me vestir quando eu for em uma fashion week. Porém, eu também quero usar a marca brasileira de um estilista que acabou de sair da Casa de Criadores”, destaca a fashionista.
Vale lembrar que, inclusive, Gabb vestiu um look da designer Mariana Ferso, no primeiro episódio do Ambulatório da M.O.D.A. “Ela é uma costureira de Juiz de Fora, que teve um câncer, e aquela foi a primeira roupa que ela fez depois que ela se curou. Então, eu fiquei muito feliz de fazer parte desse momento.”
“A moda está comigo nos detalhes, em todos os lugares. É como se fosse uma caixinha que eu tenho pra explorar e ter uma troca com as pessoas, para que elas façam parte da minha vida também. Eu estou sempre atenta e eu acho que ela [a moda] é uma simbiose comigo”, acrescenta.
Gabb se orgulha do que criou: “Ninguém acreditava quando eu dizia que eu ia fazer um Fashion Police do Brasil. Diziam que eu estava louca. E eu acreditei em mim. Poderia não dar certo, mas pelo menos eu me diverti fazendo”.
Como conselho para quem a admira, Gabb reforça que desistir não é uma opção. “Eu acho que é como a Mariah Carey fala no último bloco do show dela: ‘Dê valor ao seu sonho, porque é ele que vai te levar para outro lugar’. É o seu sonho que vai te tirar do seu espaço e vai te catapultar para um outro universo”.
Para aproveitar os conteúdos ao máximo, é necessário perceber que os vídeos da movie star não são críticas; são apenas comentários de humor sobre roupas — que podem ser mudadas a qualquer instante.