“Tentamos encontrar o novo em cada época”, diz Consuelo Blocker
Durante o lançamento do livro O Fio da Trama em Brasília, a influencer, filha de Costanza Pascolato, falou sobre o poder de adaptação
atualizado
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As Blocker-Pascolato são conhecidas como referência de moda no Brasil. Elas revolucionaram tanto a industria têxtil quanto os bastidores do universo fashion, mas a trajetória de conquistas vai além. Em conversa com a coluna durante uma tarde de autógrafos para o lançamento do livro O Fio da Trama na última terça-feira (19/11/2019), a influenciadora digital Consuelo Blocker, terceira geração destas mulheres empoderadas, falou sobre a importância da capacidade de adaptação de sua família.
Na obra, assinada em parceria com a irmã Alessandra Blocker, a escritora rememora as adversidades da vida, que não foram poucas. Filha do maior nome da moda no Brasil, Costanza Pascolato, as histórias de força e trabalho resgatam memórias desde a época da avó, Gabriella (1917-2010). Vem comigo!
Italianos, Gabriella Pascolato e o marido, Michele, vieram para o Brasil fugindo da Segunda Guerra Mundial, nos anos 1940. Trouxeram consigo a papisa da moda brasileira, a filha Costanza, futura consultora de moda, além do filho Alessandro.
“Ela, assim como a minha avó, é uma pessoa que, em face a um desafio, busca uma nova ideia para conseguir fazer algo novo e se fazer valer”, conta Consuelo.
Consuelo, que tem 55 anos, é formada em relações internacionais e atuou como trend hunter para a empresa de tecelagem da família, Santaconstancia, durante muitos anos. Em 2010, quando assumiu o blog do site da família, começou a se aventurar no meio digital.
No ano seguinte, a influencer alçou voo solo com o próprio blog e mídias digitais. Acostumada com a lidar com palavras, ela percebeu a escrita evoluir de forma orgânica. O livro foi publicado pela editora Tordesilhas e tem participação de Costanza, além de trechos do diário de Gabriella.
Dividida em duas partes, Uma linha por dia e Prêt-à-porter, a obra traça depoimentos sobre perdas, mudanças de casa e país, divórcios e tentativas frustradas de gravidez. Em meio aos relatos de superação, a moda é um fio que passa pelas três gerações, de três formas: na indústria têxtil, no mercado editorial e no meio digital.
A avó, por exemplo, viu uma oportunidade na retomada da tecelagem após a Segunda Guerra Mundial. A mãe foi colunista e trabalhou na área de moda de alguns veículos de comunicação, enquanto Alessandra embarcou no mundo das letras, e abriu a própria editora em 2003, batizada de Jaboticaba.
“Quando a situação não combina com a gente, inventamos uma nova”, defende Consuelo. Hoje, uma das mensagens das Blocker-Pascolato é o exemplo de serem mulheres com presença e opinião após os 50 anos.
A primogênita diz que dita tendências, pois acredita que o estilo pessoal é mais importante. Adepta de pulseiras, ela comentou sobre um de seus inseparáveis locks, além de dar alguns detalhes sobre o livro e a própria vida. Radicada em Florença, na Itália, ela é viajante e acompanha a movimentação fashion nos principais destinos da moda no mundo.
Confira a entrevista:
Há dois meses, sua mãe lançou A Elegância do Agora. Agora, você e Alessandra lançam O Fio da Trama. Houve algum motivo para os livros saírem tão próximos?
Sim, porque eles se complementam. No [novo] livro da minha mãe, ela fala da elegância na idade do agora e muito do que aprendeu com o pai dela. O nosso é mais do feminino, falamos de quatro mulheres em quatro gerações e do lado das superações femininas. Foi comissionado para encontrarmos o fio condutor de moda nas três gerações, o qual existe. Minha avó foi pioneira no industrial, minha mãe no editorial e eu, de alguma forma, no digital. Qualquer coisa escrita toma uma vida própria, é orgânico.
Então é bem atual, certo? Para sua mãe ter sido da forma que ela foi na vida, só pode ter tido uma mãe muito forte.
Minha avó saiu de uma guerra, chegou em um continente novo, onde tudo é diferente – língua, clima, cultura – e teve que encontrar um trabalho. Investiu na ideia de criar tecidos depois da guerra. Sabe o New Look, da Dior? Uma saia com 7m de tecido e o porquê daquilo ser tão importante culturalmente depois de seis anos de parcimônia, em um continente inteiro. Você não podia fazer isso na guerra, então era uma reação. Minha avó viu essa oportunidade. Ela começou na decoração, com tecidos de seda, tanto que a capa tem um pouco disso [da textura]. Depois, passou para a moda, mas foi um desenvolvimento.
Qual foi a principal influência da família Blocker-Pascolato na moda?
Temos o têxtil, em seguida, o editorial e, depois, o digital. É sempre tentar encontrar o bacana, o bonito e o novo em cada época. Não é sempre de moda, é da vida: quando a situação não combina com a gente, inventamos uma nova.
No meu caso, logicamente, as pessoas gostam de ver como eu me visto, mas, no Brasil, ser velha é ruim e é errado. Muitas mulheres sentem que, depois dos 50 anos e da menopausa, ficam transparentes. Isso sempre foi vendido. Agora, com menos revistas que glorificam a juventude, nos sentimos no direito de sermos sexy, de termos uma opinião, de sermos ativas depois de uma certa idade. Acho que isso sempre foi um dos nossos exemplos.
Por falar em se sentir sexy, você já falou que os acessórios fazem muita diferença no look. Você tem algum truque de como usá-los?
Acho que você tem que ser fiel ao seu estilo. Dez anos atrás, quando comecei a namorar com Roberto Leone, meu “namorido”, ele usava esses pulseirismos como um souvenir de viagem. Usava no verão e tirava no inverno, ia crescendo no braço. Eu adorei a ideia e comecei a usar também. Este é o meu estilo, não digo que todo mundo tem que ter. A primeira pergunta que todo mundo faz é se eu durmo e tomo banho com isso, e sim: eu durmo e tomo banho com elas! Só tiro as grandes.
Um deles é como um cadeado. Tem algum motivo pelo qual você tem esse modelo específico?
É um lock de verdade. Ele abre, como o industrial, e é de uma pessoa pela qual eu me apaixonei no Instagram, vi uma foto e viramos amigas. Ela se chama Marla Aaron. Eu tinha esses diamantes de uma aliança de um ex-namorado. Diamantes não podem ficar na gaveta e eu havia me apaixonado pelo produto dela, então, pedi para fazer alguma coisa com eles. O fantástico disso é que esse é um jeito de usar, mas, no inverno, coloco em uma corrente, com um laço de veludo [no pescoço]. Já usei para segurar alças de vestido atrás.
Essa é uma peça linda e única, ela fez para mim e fiquei muito grata. Me apaixonei e comecei a comprar outros locks. Minha filha está em Nova York e quer ser atriz, mas está trabalhando lá com ela. O Instagram pode abrir mil portas que você nem espera, além de uma ótima amizade. Ela cria esses locks que têm de várias cores, tipos. Pode escrever, dá para você e você faz o que quiser com eles. As pessoas misturam muito com peças vintage.
Por falar em Instagram, você comentou sobre a participação da sua família no têxtil, no editorial e no digital, área em que você atual. Como aconteceu essa transição?
Nove anos atrás, eu estava trabalhando na Santaconstancia como trend hunter. Buscava tendências da Europa e mandava as informações para cá. Fizeram um site novo e inserimos um blog, porque diziam que aumentava o SEO. Pediram para mim e foi aquele momento “eureka“. Isso era uma coisa que eu sabia que poderia fazer bem e encontrei uma voz no blog. Depois de um ano, comecei a profissionalizar isso e encontrei os meus leitores, que viraram família. Depois que você vai se descobrindo, a coisa é orgânica. Hoje, isso é muito mais forte no Instagram, mas é muito estranho como é diferente em cada lugar. No IGTV, tenho vídeos que têm 80 mil views, no Facebook tem dois milhões. Muito curioso onde funciona e onde não.
Para você, qual é o significado da sua mãe, Costanza Pascolato, em relação ao empoderamento?
Ela, assim como a minha avó, é uma pessoa que, em face a um desafio, busca uma nova ideia para conseguir fazer algo novo e se fazer valer. Esse exemplo é a melhor coisa. Me perguntam muito como é ser filha de Costanza. Ela é uma mulher de extrema inteligência e sensibilidade. Tanto que ela nunca terminou a escola, mas não é um segredo. Ela sempre coloca qualquer coisa dentro do contexto cultural e isso explica muita coisa. Por isso, sempre tento entender o porque de algo, por que funciona agora. Ao mesmo tempo, te permite personalizar. Atualmente, a tendência é démodé, importante é o estilo. Com isso, você pode adaptar ao seu.
Veja alguns looks da tarde de autógrafos:
Histórias de força, luta e conquista são o foco do livro O Fio da Trama. O encontro foi promovido pela multimarcas Wish.
Colaborou Hebert Madeira