1 de 1 Dua Lipa no desfile da Versace
- Foto: Jacopo Raule/Getty Images
A pandemia de coronavírus mostrou que as previsões podem cair por terra rapidamente. Depois de dois anos com medidas restritivas para conter o vírus e o aumento da vacinação, um cenário pós-pandêmico começa a parecer possível. Pensando nessa retomada, a coluna conversou com especialistas de diversos segmentos da moda para entender o que pode despontar no próximo ano.
O período pandêmico nos apresentou o conforto do home office e dos moletons como looks de trabalho. Com a volta das atividades presenciais, entra em cena a vontade de caprichar nas produções. Porém, uma tônica que seguirá presente é o estilo comfy!
“Silhuetas fáceis de usar e confortáveis. Um equilíbrio entre natural e tecnológico, que já vemos há 10 anos, seja ele nas cores ou nas próprias formas. Vamos ver cada vez mais um mix de silhuetas muito básicas e ao mesmo tempo coisas mais complexas”, conta à coluna Lenny Niemeyer, diretora criativa da marca homônima de beachwear.
Lenny Niemeyer/DivulgaçãoPeças confortáveis, com silhuetas amplas, são apostas de marcas como Lenny Niemeyer
ALUF/DivulgaçãoA paulista Aluf tem como marca registrada uma nova abordagem de silhuetas amplas
Yebo/DivulgaçãoA Yebo, parte do casting da Casa de Criadores, destaca-se pelo streetwear que mescla conforto e estilo
Nada discreto
Diversas marcas das semanas de moda internacionais e nacionais desfilaram coleções nas quais o brilho era o protagonista. A aposta é certeira, segundo Henri Farias, coordenador de Estilo da Coca-Cola Jeans e da Triton. “Muito impulsionado pela geração Z, que tem uma grande atração por tudo que reluz, veremos o brilho em looks inteiros e, em doses homeopáticas, em roupas, acessórios e maquiagens. A regra é misturar cores e texturas”, aposta.
No próximo ano, também podemos praticamente esquecer os tons sóbrios. Essa escolha se relaciona com a busca do bem-estar e com o termo dopamine dressing. “A ideia é vestir roupas que te deixarão feliz. E as cores, em especial, terão um efeito muito forte. Será como um arco-íris depois da tempestade, que inclui roupas novas, elegantes e de cores vivas”, explica Mariana Santiloni, gerente de atendimento ao cliente e especialista de tendências na WGSN, empresa de tendências de comportamento e consumo.
Segundo Mariana Santiloni, entrarão no nosso radar “cores como o rosa orquídea, que é tom intenso de magenta e o bio lime, um verde quase neon”. A tendência também apareceu no report de previsões para 2022 da rede social Pinterest.
Victor VIRGILE/Gamma-Rapho via Getty ImagesA primavera/verão 2022 da Versace trouxe brilho e cor. Na foto, Lourdes Maria, filha da cantora Madonna, desfilando
Victor VIRGILE/Gamma-Rapho via Getty ImagesVerde, laranja, rosa e amarelo foram os tons de neon escolhidos para a última coleção da Versace
Stephane Cardinale - Corbis/Corbis via Getty ImagesA francesa Saint Laurent também apresentou uma coleção com cores fortes e brilho, em especial nos acessórios
Corpo na rua
Depois de – quase – dois anos confinados, é natural a vontade de ganhar as ruas. Ainda segundo Mariana Santiloni, da WGSN, “o consumidor redescobriu a importância das atividades ao ar livre. Com isso, marcas e varejistas passaram a investir em roupas, calçados e acessórios para explorar a natureza”.
Além de estar na rua, a máxima é se exibir! Decotes e recortes inusitados que deixam a pele à mostra virão com tudo no próximo ano. Quem defende essa ideia é o professor Lorenzo Merlino, do curso de moda da Fundação Armando Álvares Penteado.
“Eu acho que o principal aspecto que a gente verá em 2022 é a exibição corporal. Vamos ter muita roupa transparente, com partes do corpo de fora e roupas pequenas. Minissaia, miniblusa, calças apertadas, enfim, uma hipervalorização do corpo”, explica o professor à coluna.
Matteo Rossetti/Archivio Matteo Rossetti/Mondadori Portfolio via Getty ImagesVersace à frente das tendências: fendas, decotes e barriga de fora marcaram presença
Arturo Holmes/Getty ImagesA brasileira PatBô apresentou uma coleção com muita pele à mostra na Semana de Moda de Nova York
Ze Takahashi/Agência FotositeA tendência também apareceu no SPFW, em marcas como a Misci
Revenge buying
O professor Lorenzo Merlino também acredita que o consumo desenfreado vai marcar o próximo ano. “Essa questão da inflação que estamos vendo agora no fim do ano, não só no Brasil, mas no mundo todo, é reflexo disso. As pessoas estão voltando a consumir mais porque estão com vontade de comprar”.
E o mercado se beneficiará da tendência do “consumo de vingança”. Como explica Mariana Santiloni, da WGSN: “Provavelmente teremos um aumento na compra de itens de alto luxo que são difíceis de adquirir on-line, como relógios e joias, e itens que a experiência não pode ser reproduzida no digital”.
Stephane Cardinale - Corbis/Corbis via Getty ImagesO fenômeno de revenge buying acontece em lojas de departamentos e também nas grandes grifes
Samuel Boivin/NurPhoto via Getty ImagesApós o período de confinamento e restrições, as pessoas tendem a querer comprar “pelo tempo perdido”
Geovien So/SOPA Images/LightRocket via Getty ImagesA grife Hermès bateu recorde de vendas em sua abertura na China no ano passado
Práticas sustentáveis
Por outro lado, diferentes nomes da indústria apostam na sustentabilidade como uma tendência deste ano que seguirá no próximo. Cristina Lucchetti, diretora de estilo da Farm, contou à coluna que “a pandemia deu [atenção] para temas importantes como diversidade e sustentabilidade, assuntos urgentes. Aconteceu forte em 2021 e vai ficar para sempre na gente como marca”.
Ana Freitas, head de marketing da Animale, também defende a ideia. “Os consumidores querem se conectar com marcas que trazem para além de uma proposta de estilo, um propósito que abraça causas sociais e/ou ambientais”, explicou.
Farm/DivulgaçãoA Farm possui uma linha chamada Refarm que procura fazer peças em jeans com menos impacto ambiental
Osklen/DivulgaçãoA carioca Osklen é uma das marcas que trabalha com práticas sustentáveis há mais tempo
Zé Takahashi/Agência FotositeA Lenny Niemeyer também começou a trazer tecidos mais sustentáveis para o beachwear
Moda social e política
O Brasil enfrenta, no próximo ano, eleições. O professor Lorenzo Merlino acredita que a moda vai contribuir para a polarização no país: “A moda não tem esse papel – nem é sua função – de apaziguar os ânimos. Ela é o reflexo da sociedade. Então, a gente vai ter isso facilmente colocado nas roupas”.
A busca por maior diversidade também é destacada pelo professor. “A questão da aceitação das diferenças, dos padrões corporais diversos, da valorização das culturas antes marginalizadas, a questão trans e a multiplicidade de gêneros: tudo isso é uma macrotendência forte por um período longo”, completa.
Ze Takahashi/Agência FotositeO baiano Isaac Silva costuma trazer pautas como ancestralidade negra e indígena e quebras de padrões corporais em suas coleções
Augusto Pessoa/Ronaldo Fraga/DivulgaçãoO veterano Ronaldo Fraga traz temas sociais e políticos para as suas coleções. No verão 2022, homenageou os saberes artesanais do Nordeste
Zé Takahashi/Agência FotositeNa foto, desfile no SPFW N47, com a primavera/verão 2020 de Ronaldo Fraga
O apanhado geral mostra que tendências que surgiram na pandemia, como o desejo por peças confortáveis e marcas com responsabilidade social e ambiental, seguirão. O fim das medidas restritivas, por sua vez, será um convite para eventos sociais em que cores e brilhos serão os protagonistas.
Colaborou Carina Benedetti
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