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Startup do Paraná transforma resíduos em biotecido com o uso de fungos

A empresa criou uma alternativa ecológica ao couro animal, com a ajuda do micélio de cogumelos, para transformar descartes da agroindústria

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Rogerio Junior/Muush/Divulgação
Na imagem com cor, doto do biotecido feito a partir de fungos da startup Muush - metrópoles
1 de 1 Na imagem com cor, doto do biotecido feito a partir de fungos da startup Muush - metrópoles - Foto: Rogerio Junior/Muush/Divulgação

A startup Fungi Biotecnologia, de Ponta Grossa, no Paraná, desenvolveu uma alternativa de material ecológico que pode revolucionar o mundo da moda. Com o auxílio de fungos, como o cogumelo, a Muush, uma spin-off da organização, conseguiu criar um biotecido em que o toque se assemelha ao couro animal, mas é totalmente sustentável.

O material pode ser aplicado em diversos produtos, como roupas, calçados, acessórios e componentes automotivos. O cofundador e CEO da Muush, Antonio Carlos de Francisco, e a coordenadora de produção, Raquel Nobre Silva, conversam com a coluna sobre o processo de inovação. Vem saber mais!

Na imagem com cor, doto do biotecido feito a partir de fungos da startup Muush - metrópoles
A Muush produz peças de vestuário e acessórios com o biotecido

 

Como tudo começou

A startup Fungi Biotecnologia surgiu em novembro de 2019. Fruto das ideias do professor de engenharia de processos Eduardo Bittencourt Sydney e do engenheiro químico Leandro Inagaki Oshiro, inicialmente, o projeto teria como foco a produção de embalagens sustentáveis.

Segundo Antonio Carlos de Francisco, a empresa surgiu porque os dois foram aprovados em um programa de pré-incubação de startups no estado do Paraná, chamado Sinapse da Inovação, e, com isso, tiveram que abrir um CNPJ.

“Nesse período, eu tinha contato com o Eduardo e já trabalhava com o segmento de sustentabilidade. No começo de 2020, fui chamado para compor a equipe. As coisas avançaram com essa ideia inicial, de fazer embalagens, placas acústicas, térmicas e tudo mais. No começo de 2022, percebemos que poderíamos induzir o crescimento do micélio [conjunto de hifas emaranhadas de um fungo] para produzir um biotecido”, conta.

A organização nasceu dentro da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Em outubro do ano passado, um novo espaço fornecido por investidores foi ocupado pela equipe. “Por ser uma startup, a gente estava em escala laboratorial. Com isso, era um ambiente muito mais fechado. Então, quando partiu para um aumento de processos, a gente encontrou muitos desafios”, compartilha Raquel Nobre.

“Toda a questão de adaptação do ambiente para o fungo, para crescer de acordo com as expectativas e parâmetros que a gente define, teve que ter uma sensibilidade maior e em maior controle que a gente não tinha antes. Como é uma coisa nova, nós não tínhamos referência do que poderia ser feito. Usamos a bagagem de vida e educacional para ajudar nisso”, completa.

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A Muush se posiciona como uma empresa de inovação na moda sustentável

 

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A equipe, composta majoritariamente por pessoas que passaram pela UTFPR, foca em pesquisas e desenvolvimentos altamente sustentáveis

 

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Há um processo longo por trás do resultado dos produtos

 

Diferenças entre o couro animal e o biotecido

O biotecido produzido pela Muush se destaca pela versatilidade e pelo toque semelhante ao couro animal, porém, sem os impactos ambientais negativos associados à produção tradicional. Além disso, a decomposição da substância, ainda em estudo, promete ser rápida e segura para o meio ambiente, o que reforça o caráter ecológico.

“Eu sou um professor universitário trabalhando em um programa de mestrado e doutorado em engenharia de produção, e posso te garantir que o que a gente faz é das coisas mais sustentáveis e mais singulares que eu conheço, em relação a pesquisas e tudo mais”, reforça Antonio Carlos.

O processo de fabricação do material é minucioso. “A gente utiliza, para fazer um metro quadrado de biotecido, 25 kg de resíduo. Nós usamos também 31 litros de água nesse desenvolvimento. Até a fase da extração da pele, nós fomos carbono neutro, mas até a fase final do tratamento, nós geramos aproximadamente 7 kg de carbono por um metro produzido”, destaca o engenheiro.

Para quem não tem ideia de comparação, o couro bovino gera cerca de 35 kg de CO2 por metro quadrado produzido — cinco vezes mais do que o material sustentável da Muush. Por esse e vários outros motivos, a startup paranaense se consolida como uma empresa ESG, que representa a sustentabilidade e a responsabilidade social das empresas, com base em três pilares: ambiental, social e governança.

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A ideia também promove o reaproveitamento de resíduos descartados pela agroindústria

 

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Os produtos com o material criado a partir do auxílio de fungos atendem à demanda crescente por alternativas ao couro de origem animal e fóssil

 

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Esteticamente, a alternativa se assemelha muito ao couro bovino

 

O processo por trás da inovação da startup

Como o desenvolvimento do projeto ainda é bem recente, não há um tempo definido para a durabilidade das peças desenvolvidas com o material ecológico. “A gente ainda não tem testes validados ou estruturados para avaliar esse tipo de produto. Até porque existem pouquíssimas empresas no mundo que fazem na América Latina. Porém, a gente tem submetido os nossos itens para testes similares aos que fazem com o couro de origem animal”, explica Francisco.

“Ainda estamos nesse processo do teste, mas já temos alguns resultados. Por exemplo: o biotecido aguenta até cinco mil fricções sem desgastar. Então, comparado ao couro animal, ele está dentro dos padrões do mercado”, acrescenta Raquel.

Entre as pesquisas feitas sobre a inovação, há análises que podem ter um impacto ainda maior no futuro: “A gente tem observado uma tendência de que o material, inclusive, é resistente à chamas”, afirma o professor de engenharia de produção. “O tempo de duração no geral não é possível afirmar ainda, pois é muito recente a criação. Porém, assim como todo item de moda, a durabilidade também vai depender do cuidado do usuário”, ressalta.

Confira o passo a passo do processo de criação do biotecido à base de resíduos com o auxílio de fungos:

  • Pré-tratamento do resíduo da agroindústria (esterilização do material);
  • Acréscimo de aditivos vegetais para melhorar a nutrição do fungo;
  • Adição do fungo no material em moldes para ser colocado dentro da sala de cultivo, que tem as condições climáticas específicas para ele crescer;
  • Extração do micélio, que é a pele formada em cima da camada de resíduo;
  • Tratamento da pele, para ganhar características de resistência, durabilidade e maleabilidade;
  • Por fim, no pós-tratamento, o biotecido ganha textura e acabamento para que fique mais confortável ao toque.
Na imagem com cor, doto do biotecido feito a partir de fungos da startup Muush - metrópoles
Não são utilizados metais pesados no tratamento do biotecido

 

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A aplicabilidade pode ser feita em bolsas, acessórios e sapatos, entre outros itens

 

Na imagem com cor, doto do biotecido feito a partir de fungos da startup Muush - metrópoles
Tudo que é utilizado no processo vem da terra

 

Com o biotecido à base de resíduos e fungos, a Fungi Biotecnologia se posiciona como um instrumento inovador em meio ao cenário da moda sustentável. Vale destacar que, dentro da startup paranaense, há três spin-offs: a Muush, que produz o biotecido; a Mush, que desenvolve embalagens, também com o uso dos fungos; e a Typcal, que confecciona proteína a partir de micélio. Todas as vertentes da organização contribuem então de várias formas para um futuro mais consciente.

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