SPFW N58 evidencia autenticidade da moda nacional; veja mais destaques
Com espetáculo visual de Artemisi e moda artesanal de Sou de Algodão e Ateliê Mão de Mãe, SPFW N58 segue programação de desfiles
atualizado
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O São Paulo Fashion Week N58 (SPFW) segue reafirmando seu espaço de criatividade e vanguarda na moda brasileira. Nos últimos dias, inovações e homenagens marcaram as apresentações de etiquetas como Artemisi, Bold Strap, Dario Mittmann e do movimento Sou de Algodão.
Vem conferir os últimos destaques!
Normando e a cultura paraense no SPFW N58
A estreia de Normando no São Paulo Fashion Week levou à passarela a coleção Vândalos do Apocalipse, uma interpretação urbana e sofisticada da cultura paraense. Inspirada nos filósofos modernistas que se reuniam no mercado Ver-O-Peso, em Belém, nos anos 1920, a coleção combina elementos da tradição local com uma alfaiataria inovadora.
Logo no primeiro look, a marca apresentou um bustiê feito de cuias de tacacá, prato típico do Pará. Para compor o resto do visual, a marca escolheu uma saia cuja cintura em látex contrastava com o tecido acetinado desfiado nas pernas. Essa proeza de combinação de texturas é um ponto forte da coleção.
Ternos com mangas arredondadas, vestidos trench coat, e camisas brancas com ombreiras definidas deram ainda um toque de sofisticação ao conjunto de criações. Um dos destaques foi a camisa de smoking com jabô, a qual os recortes de tecido à frente simulavam delicadas asas de inseto.
Estampas de escamas de tucunaré e pirarucu foram aplicadas em vestidos de seda, enquanto peças com representações da madeira, seja em estampas ou ripas úmidas, adicionaram um ar rústico ao desfile.
O maximalismo da Martins
A nova coleção da marca Martins no SPFW N58 foi um espetáculo de maximalismo, energia e criatividade. Embalada ao som da banda inglesa Prodigy, a apresentação foi uma explosão de texturas, volumes e referências que misturaram o cyberpunk ao psicodélico.
Conhecido pelos babados exagerados, franjas volumosas e estruturas metálicas, Martins desfilou construções ousadas e dramáticas, mas com um toque mais contido nas estampas desta vez. O diferencial da coleção foi o uso criativo de recortes de calças jeans Levi’s, aplicados sobre camisetas e outras peças.
Além disso, a coleção incorporou elementos psicodélicos dos anos 1960, como brincos longos de penas, ponchos de plush e malhas adornadas com bordados florais tridimensionais, o que criou um contraste entre a cultura vintage e a modernidade agressiva do cyberpunk. As peças eram vibrantes e carregadas de personalidade.
O fetiche sonhador da Bold Strap
Durante a 58ª edição do São Paulo Fashion Week, a Bold Strap apresentou uma coleção que reafirma a estética provocadora da marca. Agora, com uma releitura moderna e sofisticada do próprio DNA. Camila Queiroz, musa da marca, estreou a passarela e fechou o desfile.
A nova coleção revisita os códigos iniciais da etiqueta, e oferece uma abordagem mais refinada ao fetiche e à moda, elementos centrais da identidade da Bold. Com uma proposta de sensualidade sutil, as peças exploram transparências e tons nude, que resultam em uma atmosfera de nudez velada que sugere mais do que revela.
A tensão entre o sexy e o prático se manifesta em uma variedade de peças, como vestidos, calças, jaquetas e camisetas, além das icônicas underwears da marca. Os harnesses, acessório bastante usado no meio fetichista e que se tornaram símbolo da Bold, ganham uma nova função nesta coleção, sendo incorporados diretamente às roupas invés de funcionarem como acessórios separados.
Dario Mittmann e a “paródia do streetwear“
Sem esconder suas referências, o designer Dario Mittmann não deixou a desejar em sua estreia no SPFW, com a coleção Dupe: A Streetwear Parody. Conhecido pela estética colorida e cheia de símbolos, o paranaense provou que pode ir muito além da moda urbana que já havia apresentado e com ela conquistado artistas, como Anitta e Maiara e Maraisa.
“Começa como streetwear e termina como moda de rua”, brincou Mittmann ao definir o desfile, que transitou entre referências a animações japonesas, grafite de rua, robôs e o “faroeste disco” recentemente disseminado na cultura pop.
Forte tendência nessa edição do SPFW, os spikes também estiveram presentes em diversas abordagens, desde as tradicionais tachinhas, até em grandes formas de espinhos dispostas como armaduras. Capacetes e máscaras completaram a grande mistura que foi o desfile do estreante.
A artesanalidade de Catarina Mina
A marca cearense Catarina Mina apresentou, nessa quinta-feira (17/10), a coleção Herdeiras do Futuro. Com uma fusão habilidosa entre técnicas tradicionais e uma visão contemporânea, as novas criações da etiqueta exploram padrões geométricos e, claro, o artesanato cearense.
No desfile, 35 looks estiveram presentes na passarela, e, segundo Celina Hissa, diretora criativa da Catarina Mina, Herdeiras do Futuro é um convite para repensar o papel do artesanato no mundo contemporâneo:
“O artesanato é uma tecnologia ancestral da qual a gente precisa aprender com as formas comunitárias de pensar”, afirma Hissa à coluna.
A borracha amazônica, fruto de uma parceria com a marca Da Tribu, é um dos elementos mais inovadores da nova coleção. Ele simboliza a valorização de processos sustentáveis. “Trabalhar com fios de borracha da Amazônia, para a gente, é um luxo, e nossa vontade foi introduzir novas materialidades sustentáveis na nossa marca para que cada vez mais caminhemos em direção a minimizar o impacto ambiental e fortalecer o pilar, que já temos bem forte, de trabalhar impacto social”, destaca a designer.
A paleta de cores, dominada por tons de azul, vermelho, off-white e dourado, deu vida a peças com cortes geométricos e alfaiataria refinada. O uso de técnicas como o filé e o bilro foi reinventado, o que resultou um frescor contemporâneo a elementos clássicos do artesanato cearense.
Nos pés das modelos, chinelos Havaianas complementam o visual — item de moda bem característico do jeitinho brasileiro ao se vestir. “Para nós, essa marca tem a cara do Brasil, assim como o artesanato. Ambas as marcas se conectam profundamente com a cultura brasileira. Dessa forma, elas se ligam também com o minimalismo do design, o que não tira o valor e a qualidade estética”, ressalta Celina sobre a escolha do calçado.
A moda inédita de Artemisi
A estilista Mayari Jubini, fundadora e designer da marca Artemisi, apresentou a coleção Into the High durante o São Paulo Fashion Week N58 nessa quinta-feira (17/10). Com a união de alta tecnologia e técnicas artesanais para atravessar as fronteiras entre moda e arte, a estilista se viu inspirada no cinetismo – movimento artístico dos anos 1950 que explora a ideia de movimento real ou ilusório.
A coleção em si propôs uma ruptura com a bidimensionalidade tradicional, e apresentou peças que capturam o dinamismo na forma mais pura. Ao brincar com efeitos ópticos, texturas tridimensionais e formas hiper-realistas, a designer promoveu uma experiência imersiva que mexeu com a percepção visual do público presente — que aplaudiu de pé o espetáculo.
Foram desfilados 26 looks, que misturam couro cortado à mão, flores feitas manualmente e vestidos com efeitos visuais marcantes. À coluna, Jubini diz que “tudo isso tem muito a ver com a Artemisi, porque a gente tira a roupa do tecido e traz para novos universos”.
Sou de Algodão reúne importantes nomes do SPFW
Catarina Mina, Ateliê Mão de Mãe, João Pimenta e Weider Silveiro são alguns dos nomes que apresentaram looks no desfile do Sou de Algodão, movimento que promove o uso do algodão nacional na indústria da moda.
Ao todo, foram 36 visuais feitos de formas diferentes, com diversas técnicas manuais — renda, crochê, tricô e macramê —, mas sempre com o algodão como o denominador comum. Cada peça foi a representação da individualidade de cada estilista, mas também da coletividade da cultura e do produto brasileiros.
Ateliê Mão de Mãe
Em tons de terra ardente, a força criativa da mulher brasileira foi mostrada, por meio da moda, no desfile da marca Ateliê Mão de Mãe. Peças leves e técnicas manuais ditaram a apresentação da grife baiana, formada por Vinicius Santanna, Patrik Fortuna e Luciene Santana.
Outro destaque do desfile foram o acessórios: a marca provou, por meio deles, que argolas podem ser maiores do que se imagina, que até mesmo as “sombrinhas” são moda e que as bolsas de crochê são mais versáteis do que estamos acostumados.
SPFW N58
Desde 14 de outubro, o São Paulo Fashion Week N58 movimenta a moda nacional, com desfiles entre o shopping Iguatemi São Paulo e o Pavilhão de Culturas Brasileiras no Parque Ibirapuera. O evento reuniu apresentações de etiquetas como Another Place, Lilly Sarti, Weider Silverio e mais. A programação segue até 21 de outubro.