Semana de Alta-Costura é marcada por salto de paraquedas. Entenda!
Iris van Herpen inovou ao apresentar look no ar. Entre os destaques do outono/inverno 2021/22, também estão Schiaparelli, Chanel e Pyer Moss
atualizado
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A Semana de Alta-costura agitou o mundo da moda com a temporada de outono/inverno 2021/22. O evento do setor mais luxuoso da moda incluiu apresentações digitais e também desfiles presenciais na capital francesa. O grande momento da edição foi um salto de paraquedas como parte do show digital da etiqueta Iris van Herpen. Além da estreia histórica da Pyer Moss, que encerrou a programação depois de um adiamento inesperado. Também houve o retorno da Balenciaga ao segmento depois de décadas. Não poderiam faltar coleções de marcas tradicionais na haute couture, como Schiaparelli, Dior, Giambattista Valli, Chanel, Viktor & Rolf, Fendi e Maison Margiela.
Vem conferir!
Iris van Herpen
O ponto alto da apresentação digital da label Iris van Herpen foi uma parceria inovadora com a campeã mundial de paraquedismo Domitille Kiger. A francesa saltou com o vestido Earthrise – que também é o nome da coleção – na Baía de Arcachon, na França.
O skydive da atleta foi registrado por Alex Aimard, fotógrafo que pulou com ela. A direção do vídeo é de Masha Vasyukova. A etiqueta destacou que nenhum efeito especial foi usado no conteúdo.
O maior desafio foi misturar a delicadeza do artesanato com a durabilidade extrema que é necessária para a experiência no ar. “O vestido é feito à mão com milhares de esferas azuis em gradientes de cor, incorporando nossa casa de ‘mármore azul'”, apontou a marca em comunicado.
Iris van Herpen é conhecida pelas técnicas minuciosas tridimensionais. No novo compilado, os cortes a laser em camadas marcaram presença. O resultado são visuais que podem ser chamados de obras de arte. Esferas transparentes, simetria precisa e drapeados chamam a atenção.
A ideia da designer foi passar uma sensação de liberdade. “Você não precisa voar para ser capaz de ultrapassar seus próprios limites”, disse Iris van Herpen à Vogue Runway. A coleção também reúne colaborações com artistas como James Merry e Rogan Brown.
Schiaparelli
Uma das apresentações mais aguardadas da alta-costura é a da Schiaparelli. Drama, exagero e volume são características marcantes do DNA da marca, que abriu o calendário de fall/winter 2021/22.
O surrealismo não poderia faltar nas criações de Daniel Roseberry, diretor criativo da maison. O estilista definiu o trabalho como uma “grandeza irreverente”. Em geral, entre os materiais usados, estão tafetá, seda, lã e couro.
Mamilos, olhos, bocas, narizes e seios são costurados em peças cheias de maximalismo. Os highlights englobam jeans que foram bordados depois de serem garimpados em um espaço vintage local. Vale reparar ainda nas joias corporais.
O dourado chama a atenção. Na paleta de cores, destaque também para o rosa e o laranja. Flores, principalmente rosas, apareceram de diferentes formas entre as peças.
A coleção foi apresentada digitalmente com um vídeo dirigido por Christophe Tiphaine. A trilha sonora é assinada por Ben Brunnemer. Luzes e sombras incrementaram o mood performático.
Dior
Com desfile presencial, o outono/inverno 2021/22 da Dior foi inspirado no livro Threads of Life: A History of the World Through the Eye of a Needle (Fios de Vida: Uma História do Mundo Pelo Olho de uma Agulha, em tradução livre), de Clare Hunter. Segundo a etiqueta francesa, o foco do compilado está no “potencial transformador dos têxteis e na inovação artesanal em um retorno à essência da costura”.
Maria Grazia Chiuri, diretora criativa da maison, apostou em uma paleta sóbria, principalmente com cinza, preto e tons terrosos. Vale reparar nas composições rígidas com tweed. Amarrações, plumas, assimetria e drapeados complementam o repertório.
O desfile aconteceu no Musée Rodin, em Paris. O espaço escolhido foi revestido com uma obra bordada enorme chamada Chambre de Soie (Câmara de Seda), da artista francesa Eva Jospin. O cenário foi inspirado nas paredes da Sala dei Ricami no Palazzo Colonna, em Roma.
A tenda retangular fez toda a diferença na composição da estrutura. “A magnífica tradução de 340 metros de seu desenho foi realizada graças ao talento do bordado das alunas da Chanakya School Of Craft, em Mumbai, na Índia”, apontou a Dior.
Giambattista Valli
“Paris, berço da haute couture. Paris a que pertence esta arte. Paris em chamas com sua vitalidade renovada.” Foi assim que a maison Giambattista Valli deu início à coleção desta edição, que representa a emoção de estar na capital francesa.
“Um passeio noturno evasivo, com leve gosto pelo perigo em busca do prazer de reviver essas emoções. Uma sensação de desconhecido permeia a caminhada pela Ville Lumière. Pedaços de memórias presentes, passadas e futuras emergem. Seus brilhos, seu glamour feito de noites repletas de luzes refletidas no asfalto molhado, sua promiscuidade, sua estética eclética e voyeurística à la Ryan Murphy”, descreveu a marca.
As peças representam bem o DNA da grife. Tule, volume e assimetria compõem os outfits. Chiffon com drapeados e plumas também estão nas criações. A cartela de tonalidades prioriza o rosa e o vermelho, além do preto.
A apresentação foi gravada no Espaço Niemeyer, em Paris. O fashion film foi produzido pela empresa Titre Provisoire, agência de cinema especializada na produção de conteúdo digital de cultura e moda.
Chanel
O fall/winter 2021/22 da Chanel, pensado por Virginie Viard, foi inspirado nos movimentos da pintura francesa. A artista impressionista Berthe Morisot e a cubista Marie Laurencin estão na lista de referências.
O brilho e o metalizado tiveram ênfase nos looks. Bordados, plissados, plumas e botões de joias também merecem atenção. Tafetá, tweed, chiffon, tule e organza apareceram em diferentes composições. O paradoxo entre a leveza e a rigidez define o trabalho da temporada.
O show físico foi realizado em duas partes no Palais Galliera, também conhecido como Museu da Moda de Paris. A arquitetura neorrenascentista do local foi ressaltada pela maison. O enredo teve a participação dos cineastas Roman e Sofia Coppola.
Balenciaga
Uma das apresentações mais aguardadas da temporada era a da Balenciaga, que voltou à alta-costura depois de mais de 50 anos. Cristóbal Balenciaga (1895-1972) era conhecido como o “mestre da alta-costura”. Quando se aposentou, em 1968, encerrou as atividades da maison, que só foi reinaugurada nos anos 1980, com coleções de prêt-à-porter.
O show de retorno, que aconteceria no ano passado, foi adiado devido à pandemia. Finalmente, no outono/inverno 2021/22, sob o comando de Demna Gvasalia, a etiqueta apresentou a esperada coleção. O toque genderless, a alfaiataria cool e as silhuetas amplas deram o que falar.
O trunfo está no mix de visuais rebuscados com trajes esportivos e até peças que remetiam a roupões. A ideia era mesclar a origem clássica da marca com a modernidade que vem sendo implantada desde o ready-to-wear por meio do olhar de Gvasalia. Vale reparar nos chapéus exuberantes.
“Foi um desafio encontrar um equilíbrio entre a fusão do legado arquitetônico, a história e o que eu defendo”, contou o diretor criativo à Vogue Runway. “Não gosto de beleza padronizada. Não sei por que deveria ser bonito se alguém lhe disse isso”, completou o designer.
O desfile ocorreu onde ficava o salão do fundador da marca, na Avenue George V, em Paris. O espaço foi pensado para ser fidedigno ao original. A inspiração veio dos shows tradicionais da alta-costura que eram realizados sem música e com numeração de looks.
Viktor & Rolf
A inspiração de Viktor & Rolf para o outono/inverno 2021/22 veio da monarquia, com uma pitada de ironia, que já é praxe do duo de estilistas idealizadores da marca. Intitulada New Royals (Nova Realeza, em tradução livre), a coleção brinca com o conceito de nobreza.
“A moda, como a monarquia, tem sua própria hierarquia, seus tribunais, suas alianças de poder e seus reis e rainhas. O mundo é obcecado pela realeza, talvez até mais do que pela moda. Ambos exigem um espetáculo, e esse espetáculo deve continuar sempre, aconteça o que acontecer”, explicou a label.
Brocados, jacquard, peles sintéticas e pedras preciosas dão vida a versões performáticas de trajes aristocráticos. Aplicações e muito volume deixam os looks ainda mais minuciosos. Muitas peças foram remendadas com retalhos de tecido por meio da técnica de patchwork.
O toque de mestre são as faixas reais. Na coleção, os itens foram atualizados com frases contemporâneas e cômicas. Entre os dizeres, estão “Always wear your invisible crown” (Sempre use sua coroa invisível); Queen of the night (Rainha da noite); Build castles in the air (Construa castelos no ar).
A lista também traz “Princess? No, bitch. Queen!” (Princesa? Não, vadi#. Rainha!). Para completar, “Don’t be a drag, just be a queen” (Não seja chata, apenas seja uma rainha), trecho da música Born This Way, de Lady Gaga.
O fotógrafo Ruben Duipmans dirigiu o fashion film da etiqueta Viktor & Rolf. Segundo a marca, o conceito tenta “mostrar uma realidade humana por trás da fachada de uma instituição”.
Fendi
A segunda coleção de alta-costura desenvolvida por Kim Jones na Fendi foi definida como uma “transfiguração poética do passado no presente”. O compilado foi pensado pra celebrar a beleza de Roma, capital da Itália.
Motivos florais e gráficos intrincados, por exemplo, fazem referência a ornamentos de mármore romanos. Vestidos estampados foram desenvolvidos com fita de organza para um “efeito espiral escultural”.
Os materiais usados incluem também renda, tule e madrepérola. Mármore aparece em acessórios. Entre as peças, destaque para vestidos delicados, luvas texturizadas e boleros com ombro marcado. Golas altas, colarinhos arrumados para cima, transparência e texturas felpudas também marcaram presença.
A novidade foi apresentada a partir de um filme dirigido pelo cineasta Luca Guadagnino e gravado nos corredores da sede da Fendi em Roma. Com ópera ao fundo, o enredo tem a participação de personalidades como Christy Turlington, Kate Moss, Amber Valletta e Adut Akech.
Maison Margiela
A apresentação da Maison Margiela trouxe fantasia e ficção. O objetivo foi retratar “a ansiedade, o poder da natureza e, quando confrontados com isso, somos impotentes”, como disse John Galliano, o diretor criativo da maison, na introdução.
A coleção Maison Margiela Arstisanal foi revelada no filme A Folk Horror Tale, que estreou digitalmente e também em um cinema de Paris. O curta-metragem de terror gótico foi assinado pelo cineasta francês Olivier Dahan, baseado nas histórias e personagens que Galliano cria para dar vida aos trajes.
Com mais de uma hora de duração, o vídeo traz mistério, luzes sombrias e até sangue. Máscaras de animais e um ritual com dança incrementaram a produção. Efeitos especiais e uma rainha amaldiçoada também estão na trama.
Forros de tecidos e ternos foram virados do avesso e transformados em vestidos. Espartilhos, saias com babados, suéteres e casacos de patchwork estão entre as criações. Em alguns trechos, o brilho é o protagonista.
Pyer Moss
De maneira histórica, a Pyer Moss encerrou a programação do evento com sua primeira coleção de alta-costura. O estilista Kerby Jean-Raymond, fundador da grife, é o primeiro designer negro e norte-americano convidado pela Câmara Sindical da Alta-Costura para participar da Haute Couture Week. O show estava previsto para a última quinta-feira (8/7), mas foi adiado para esse sábado (10/7) por causa da chuva em Nova York, onde foi realizado.
Os looks apresentados celebram invenções de pessoas negras que estão em uma lista na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, segundo a crítica de moda do New York Times, Vanessa Friedman. Grande parte dos inventos aparece ao pé da letra na forma de adereços, incluindo réplicas de um telefone celular, um pote de creme de amendoim e uma geladeira, com o questionamento: “But who invented black trauma?”, ou “Mas quem inventou o trauma negro?”, em tradução livre.
A apresentação ocorreu na Villa Lewaro, mansão de Madam C.J. Walker (1867-1919), a primeira mulher negra a se tornar milionária por conta própria nos Estados Unidos. A ativista Elaine Brown, ex-presidente do Partido dos Panteras Negras, abriu o show com um discurso sobre justiça racial, enquanto o rapper 22Gz e uma orquestra ao vivo conduziram o som, acompanhados por vários dançarinos negros.
A Semana de Alta-Costura aconteceu entre os dias 5 e 8 de julho, com o encerramento oficial da Pyer Moss nesse sábado (10/7). O cronograma oficial também reuniu marcas como Azzaro, Elie Saab, Alexandre Vauthier, Armani Privé, Ronald van der Kemp, Aelis e Julie de Libran.
Colaboraram Rebeca Ligabue e Hebert Madeira