Semana de Alta-Costura: destaques da primavera/verão 2024 em Paris
Entre os desfiles da temporada, estão grifes como Schiaparelli, Dior, Giambattista Valli, Valentino, Jean Paul Gaultier e Maison Margiela
atualizado
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De 22 a 25 de janeiro, os desfiles da Semana de Alta-Costura agitaram a programação fashion em Paris, na França. Entre os destaques da temporada de primavera/verão 2024 no segmento mais luxuoso da moda, estão Schiaparelli, Dior, Giambattista Valli, Victor & Rolf, Valentino, Jean Paul Gaultier, Robert Wun e Maison Margiela. No street style, cores, texturas e tendências protagonizaram os looks do público.
Vem conferir!
Schiaparelli
A estética surrealista se misturou a uma reflexão sobre o futuro na passarela de primavera/verão 2024 na alta-costura da Schiaparelli. Sem deixar de lado o legado da fundadora da maison, Elsa Schiaparelli, o atual diretor criativo preparou looks inspirados no avanço da tecnologia, com tom de crítica social.
“Em 1877, o tio de Elsa Schiaparelli, Giovanni Schiaparelli, diretor do Observatório Brera, em Milão, descobriu algo novo: uma série de canais, uma área tão grande quanto o Grand Canyon, marcando a superfície de Marte. Ele também cunhou o termo ‘marciano’ e, inadvertidamente, deu início ao nosso fascínio moderno por criaturas de lá, um fascínio que continua até hoje”, introduziu a etiqueta em comunicado. “Esta coleção é uma homenagem a essa obsessão, bem como um estudo das contradições – do legado e da vanguarda, do belo e do provocativo, do terreno e do enviado do céu.”
Entre os visuais desenvolvidos por Daniel Roseberry, destaque para um bebê tecnológico (carregado no colo da modelo Maggie Maurer), que parece ter saído de um filme de ficção científica. A mesma proposta foi inserida em peças que remetem a descartes tecnológicos, como placas de celulares e computadores, em meio a cristais.
“Isso tudo [lixo eletrônico] é anterior a 2007, que agora é basicamente tecnologia pré-histórica, coisas como telefones flip, CDs, calculadoras…”, definiu Roseberry à imprensa internacional depois do show. “Muitas pessoas no TikTok estão usando inteligência artificial e transformando as minhas coleções em coleções digitais, e vendo quem as veste melhor. Então, pensei, a única carta que tenho para jogar agora são realmente minhas memórias”, completou o designer norte-americano.
Em geral, a passarela recebeu a tradicional exuberância da etiqueta francesa, com direito a babados e bordados, em uma paleta sóbria de cores. Assimetrias e bordados foram outro ponto alto. Nas texturas, o acetinado, o vinil e o aveludado chamaram atenção. Franjas, aplicações tridimensionais e volume incrementam o trabalho. O conceito robótico também faz ligação com criaturas extraterrestres.
Dior
Segundo a Dior, a palavra “aura” sintetiza a coleção de haute couture para a primavera/verão 2024. “Maria Grazia Chiuri explorou a ideia de que a alta-costura, pela própria essência, cria roupas que se tornam únicas para quem as usa e extensões de sua identidade”, apontou a maison, em comunicado.
Na passarela, os típicos tecidos rebuscados da alta-costura e o handmade, com bordados e aplicações, dividiram espaço com modelagens e tecidos mais casuais, como sarja de algodão. O clássico trench coat, por exemplo, deu forma a vestidos com shapes desconstruídos.
Nos anos 1950, o fundador da grife, Christian Dior, incorporou as curvas aerodinâmicas dos carros em designs. O vestido La Cigale, do outono de 1952, foi o ponto de partida para a coleção de primavera/verão 2024, criada por Maria Grazia Chiuri. A ideia da estilista foi modernizar a estética.
Pela primeira vez, a diretora criativa da Dior trabalhou com o moiré, material também conhecido como seda aguada. O resultado pode ser visto em peças de sobreposição, como jaquetas e casacos, além de calças largas e vestidos mais rebuscados. Em geral, a cartela é suave, com tons terrosos, preto, branco e cinza, mas também apareceram estampas florais com tonalidades vibrantes.
Giambattista Valli
“A beleza inacabada do infinito. A beleza infinita do inacabado”, assim Giambattista Valli definiu o novo trabalho. A coleção N°26 de alta-costura é uma ode aos gestos do “work in progress” (trabalho em progresso) e à experimentação com volumes.
O maximalismo e a exuberâncias, tradicionais da haute couture, não ficaram de fora do repertório. Para Giambattista Valli, a essência do luxuoso segmento não pode ser perdida. “Alguns desfiles parecem um pronto-a-vestir com enfeites”, disse o estilista ao WWD, sem citar nomes. “Gosto da ideia de que alta-costura é realmente uma alta costura”, acrescentou.
A estética balonê fez jus ao conceito. Entre os destaques, estão cores vibrantes, prints florais e volumes de seda. Na passarela de primavera/verão 2024, a etiqueta exibiu mangas extremamente bufantes, sobreposição de tecidos, drapeados e caudas em camadas. Tule e plumas também marcaram presença.
Viktor & Rolf
A dupla de estilistas Viktor Horsting e Rolf Snoeren, da grife Viktor & Rolf, desafiou, mais uma vez, os princípios tradicionais da alta-costura com a coleção Mãos de Tesoura, apresentada nessa quarta-feira (24/1), na semana de moda em Paris.
Com um toque de ironia, os desingners apresentaram 28 criações, divididas em sete grupos, cada um composto por quatro looks. O ponto de partida para cada sequência era o primeiro visual, aparentemente novo e completo, mas que se tornava algo ainda mais interessante e surpreendente conforme os outros looks apareciam totalmente picotados.
A “desconstrução” criativa ficou evidente conforme as modelos exibiam buracos estrategicamente colocados, cortes verticais e até mesmo falsos farrapos, todos cuidadosamente escolhidos e costurados à mão para criar a narrativa da dupla dinâmica. A ausência de cor, com todas as peças na cor preta, teve como objetivo dar destaque às modelagens, silhuetas e recortes das peças, que continham itens básicos da alta costura: veludo, lantejoulas e cetim, ambos fluidos e compactos.
A coleção reforça a assinatura ousada da casa francesa, que contabiliza mais de duas décadas de questionamento das normas da moda: “É um símbolo do nosso amor pela alta-costura e também da nossa irreverência”, explicou Viktor Horsting a jornalistas.
Valentino
O encerramento ainda do penúltimo dia da Semana de Alta-Costura foi marcado pelo espetáculo visual proporcionado pela Valentino, sob a direção criativa de Pierpaolo Piccioli. Conhecido pela habilidade única na hora de escolher a paleta de cores, o estilista apresentou uma coleção que não apenas exalta a exuberância das tonalidades, mas também as artesãs que dão vida à alta-costura.
A coleção, batizada de Le Salon, foi tomada por uma explosão de violetas, verdes vibrantes, vermelhos intensos e amarelos luminosos. Entretanto, mais do que as cores, a coleção destacou-se por transparências estratégicas e inusitadas, em um tributo à liberdade do corpo.
Além desse detalhe, a sensualidade foi explorada também com fendas, rendas finíssimas e texturas felpudas. O metalizado e as texturas presentes nas peças se mostraram verdadeiras obras de arte em movimento.
Por fim, as artesãs que confeccionaram as criações foram até o centro do desfile para serem aplaudidas por uma plateia que incluía celebridades como Kylie Jenner, Jennifer Lopez e Florence Pugh. O reconhecimento do trabalho e habilidades artesanais foi um gesto de apreço pela maestria por trás das criações.
Jean Paul Gaultier
Coquettecore é considerada uma das primeiras tendências de 2024, mas, para Simone Rocha, a estética já não é algo novo. A designer, que foi a quinta escolhida por Jean Paul para criar coleções de alta-costura para a marca homônima desde que se aposentou em 2020, apresentou looks na quarta-feira (24/1) que refletem o DNA da maison, com modelagens e detalhes característicos, junto à perspectiva delicada e imponente que carrega na própria trajetória criativa.
O desfile englobou laços, rosas e elementos “românticos” que traduzem a essência da estilista. Inspirada por influências vitorianas, as peças apresentaram fluidez, transparência e uma paleta de cores que oscilou entre neutros, preto e vermelho. A conexão entre o legado da Jean Paul Gaultier e a visão criativa de Simone Rocha foi evidente nas cinturas marcadas, nos chapéus de marinheiro e nos espartilhos.
A estilista ainda demonstrou maestria ao equilibrar proporções, com destaque para as silhuetas ajustadas e amplas em saias estruturadas. A influência romântica e coquette foi acentuada por laços, pérolas, rendas e outros detalhes femininos. A coleção terminou com uma noiva clássica, mas diferente, com a barra do vestido no estilo balonê.
À Another Magazine, Simone Rocha compartilhou que não possui inspiração, mas sim intuição na proposta com a colaboração: “As pessoas têm perguntado: ‘Oh, qual é a inspiração?’ E eu digo: ‘Honestamente, não tenho pensado em inspiração. Tenho pensado na intenção.’ O que eu queria mostrar ou propor é uma união de duas pessoas.”
Robert Wun
Nascido em Hong Kong e radicado em Londres, Robert Wun emergiu nos últimos anos como um talentoso estilista que transcende as fronteiras da moda convencional. A própria marca homônima ganhou destaque graças a designs inovadores e elegantes, que exploram temas profundos de identidade, cultura e liberdade.
No cenário dinâmico da moda, no qual as tendências muitas vezes são efêmeras, Wun se destaca por criar um universo atemporal. Com uma abordagem única, é evidente a habilidade do estilista em criar uma fusão de elementos tradicionais e modernos, utilizando técnicas de haute couture, para conceber peças que aliam elegância e funcionalidade com muita criatividade.
Fã de carteirinha de filmes de terror, Wun decidiu então incorporar essa paixão em novas criações para apresentar no último dia da semana de alta-costura. Assim, o designer deu vida a uma estética que reflete o imaginário sombrio do gênero cinematográfico com looks assustadoramente belos.
No desfile anterior, apresentou uma noiva “queimada” e um vestido com aparência de manchado de vinho. Nesta temporada, o Robert exibiu um véu cuidadosamente bordado com miçangas vermelhas simulando sangue, além de uma modelo com um manequim nas costas, que representa um tipo de espírito obsessor.
Os desfiles do designer são verdadeiras performances que mergulham o público em um universo artístico e emocionalmente impactante, consolidando o estilista como uma figura promissora e provocadora no cenário internacional da moda.
Maison Margiela
Sob o comando do diretor criativo John Galliano, o show da Maison Margiela encerrou a Semana de Alta-Costura e chamou atenção pela pegada performática. Segundo o designer, a principal inspiração para o novo trabalho foi o artista Brassaï, fotógrafo húngaro que marcou o universo do fotojornalismo por meio de imagens da capital francesa nos anos 1930.
Com o teatro e o surrealismo entre as características, a Maison Margiela apresentou de forma provocativa as formas do corpo humano, a partir de espartilhos e silhuetas marcadas. A atmosfera noturna acrescentou um toque underground à passarela. Os modelos caminhavam de uma maneira “distorcida” — às vezes, olhavam para o público —, ao som de uma trilha sonora sombria.
Para a temporada de primavera/verão 2024, a Maison Margiela apostou também na transparência como tendência. Corsets, rendas, tules e trench coats surgiram com bordados e brilhos, em tons de marrom, preto e cinza.
O aspecto teatral reinou também na beleza. A maquiagem, assinada por Pat McGrath, proporcionou aparência de boneca de porcelana e impressionou pelo “realismo”.
A apresentação foi elogiada por críticos e veículos especializados de moda. “Uma coleção que deixa outros espetáculos de alta-costura na poeira”, resumiu o portal The Cut, por exemplo. “Mudará a moda para sempre”, apostou a Another Magazine.
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Street style na alta-costura
Na última quinta-feira (25/1), a temporada de primavera/verão 2024 da Semana de Alta-Costura foi encerrada, em Paris. Com desfiles de renomadas grifes, como as citadas acima, o período foi um verdadeiro espetáculo de elegância.
Enquanto as criações das casas de moda eram apresentadas nas passarelas, as ruas da capital francesa também receberam looks de fashionistas, influencers e profissionais que foram prestigiar os eventos. A cidade, tomada por cores, texturas e ousadia, virou uma vitrine de peças deslumbrantes nas redes sociais.
Entre as tendências, a tonalidade vermelha foi vista em diversos looks, tanto nas roupas em si, como em acessórios. Além dos tecidos com diferentes texturas, para a surpresa de poucos, a calcinha à mostra — tendência da vez em 2023, com meia-calça por baixo preferencialmente — não ficou de fora do street style parisiense nesta temporada. Veja alguns visuais de destaque abaixo:
Os desfiles apresentaram visões extraordinárias da alta-costura, e, mais uma vez, o público reagiu com emoção e entusiasmo diante das criações desfiladas. As ruas de Paris se tornaram ainda um playground de estilo, marcadas não apenas pelos itens luxuosos, mas também pela expressão autêntica das últimas tendências nos looks de quem compareceu à Semana de Moda de Alta-Costura.