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Sanções econômicas à Rússia podem impactar venda das marcas de moda

Apesar do país não representar um mercado expressivo para as empresas de luxo, nomes do fast fashion, como H&M, possuíam centenas de lojas

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Omar Marques/Getty Images
Pessoas andando no shopping com sacolas na mão, próximos à escada rolante
1 de 1 Pessoas andando no shopping com sacolas na mão, próximos à escada rolante - Foto: Omar Marques/Getty Images

A invasão da Ucrânia pela Rússia tem movimentado as relações internacionais e, com o objetivo de forçar o país a recuar, outras nações têm imposto sanções econômicas. A União Europeia anunciou na última semana de fevereiro que bloquearia o acesso ao mercado de capitais e à tecnologia de ponta. Já os Estados Unidos impuseram mais restrições, como o corte do maior banco russo e o congelamento de ativos. Grandes nomes da indústria da moda também estão anunciando doações à Organização das Nações Unidas (ONU) e a interrupção do envio de mercadorias.

Em protesto da comunidade ucraniana em São Paulo, manifestantes seguram cartazes em apoio ao país - Metrópoles
Protestos pipocaram em diversas capitais pelo mundo

 

Empresas de diversos segmentos estão enfrentando pressão de lados diversos. Para ficar bem com o público e equilibrar a moral, é preciso mostrar solidariedade e empatia, além de fazer doações. Mas essas organizações também têm que agradar um grupo mais seleto de pessoas: seus acionistas e o mercado especulativo. Não à toa, acompanhamos nas últimas semanas nomes como a Apple e o grupo LVMH divulgarem ações para pressionar os russos a dar um passo para trás. 

De acordo com reportagem do WWD, “embora os clientes russos possam representar uma pequena parte de suas vendas totais, essas empresas ainda sofrem as consequências comerciais da guerra de Vladimir Putin”. Além disso, as sanções impostas por outros países vão impactar não apenas o mercado de moda, mas todo o comércio internacional, como destaca Lucas Portela, professor de Relações Internacionais do Centro Universitário de Brasília (Ceub).

Para o professor, duas questões sobre o tema exigem atenção: “A primeira diz respeito à retirada da Rússia do sistema de pagamento internacional SWIFT, um acordo interbancário com instituições de praticamente todos os países do mundo, que possibilita o fluxo de dinheiro. De forma resumida, seria um ‘PIX’ entre países. A retirada da Rússia desse sistema impossibilita o recebimento de pagamentos de contratos a empresas fornecedoras russas, e, portanto, impossibilita o fornecimento de matérias-primas para todas as indústrias”. 

Já o segundo aspecto diz respeito à logística internacional. “As sanções têm gerado um ambiente de blackout de frete para e pela Rússia. Dessa forma, empresas e armadores responsáveis por realizar o processo de trânsito de navios pelo mundo estão simplesmente retirando o país de seu catálogo de operações. Assim, o trânsito de matéria-prima e de produtos fica comprometido, inclusive na indústria da moda”, explica Lucas Portela.

Em protesto da comunidade ucraniana em São Paulo, cartaz mostra rosto de Putin caracterizado como Adolf Hitler, onde se lê "Stop Putin" - Metrópoles
Em reuniões da ONU, a Rússia está ficando isolada, mas ainda não recuou nas ações contra a Ucrânia

 

Em protesto da comunidade ucraniana em São Paulo, cartaz mostra rosto de Putin com batom vermelho e escrito "Pussy", algo como "covarde" - Metrópoles
O presidente Vladimir Putin segue resistente e chegou a “aconselhar” países vizinhos a não aplicarem sanções à Rússia

Marcas se pronunciam

Grandes marcas de luxo suspenderam atividades na Rússia. Na lista, estão nomes como Hermès, Chanel e Burberry. Os grupos Kering, que detém etiquetas como Gucci e Balenciaga, e conglomerado LVMH, dono da Dior e Louis Vuitton, também interromperam operações no local, em meio a pedidos de consumidores.

Além disso, o grupo Kering  informou em suas redes sociais que faria uma doação para o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), mas não especificou o valor. O LVMH soltou uma nota mais detalhada explicitando a preocupação com 150 funcionários que residiam na Ucrânia e que tomaria as medidas possíveis para garantir a segurança deles. Anunciaram, também sem discriminar a quantia, uma doação ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

A marca dinamarquesa Pandora, uma das maiores joalheiras do mundo, fez uma doação de US$ 1 milhão para o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Alexander Lacik, CEO da empresa, levou a ação para o lado pessoal porque, ainda criança, teve que fugir quando a União Soviética ocupou a Tchecoslováquia em 1968. “É com choque e descrença que estou testemunhando a história se repetir”, disse.

O grupo de fast fashion H&M também escolheu o órgão da ONU para a contribuição e informou que “decidiu pausar temporariamente todas as vendas na Rússia” . As lojas na Ucrânia foram temporariamente fechadas, para garantir a segurança dos funcionários e clientes. Porém, essa ação pode pesar no bolso da empresa, uma vez que a Rússia é seu sexto maior mercado. A H&M possui 168 lojas espalhadas pelo país e, apenas no último trimestre de 2022, arrecadou algo em torno de US$ 216,6 milhões.

Já uma marca italiana enfrenta um cenário totalmente diferente. Segundo a Bloomberg, a joalheria Bulgari assiste a um aumento das vendas. Com os mercados fechados e a desvalorização da moeda, “os ricos do país estão se voltando para joias e relógios de luxo em uma tentativa de preservar o valor de suas economias”.

Em entrevista à agência norte-americana, Jean-Christophe Babin, CEO da Bulgari, afirmou que é impossível saber quanto tempo essa onda vai durar, uma vez que medidas como o SWIFT pode dificultar o acesso dessa elite ao próprio patrimônio.

Banner da doação da Louis Vuitton para a UNICEF
A francesa Louis Vuitton também anunciou que fará doações para o programa da Unicef

 

Banner de divulgação da doação da Chanel para os ucranianos. O texto está em inglês.
A Chanel também emitiu nota oficial se colocando a favor do povo ucraniano e informando que doará 2 milhões de euros a organizações que atuarão com os refugiados

 

Capa da Vogue de 1945
A Vogue Rússia divulgou, na última semana, uma capa da revista 1945 pedindo por paz. Vale lembrar que a publicação é uma licença do grupo nova-iorquino Condé Nast

Protestos nas fashion weeks

A Semana de Moda de Milão, que aconteceu entre os dias 23 e 28 de fevereiro, foi palco não apenas de desfiles, mas de algumas manifestações – mesmo que tímidas – a favor dos ucranianos. A modelo Valera Komarova, por exemplo, chegou a uma apresentação com um cartaz que dizia “sem guerra na Ucrânia”.

A influenciadora de moda Alina Frendiy também se manifestou. Ela está ativa não apenas em suas redes sociais, mas também participou de protestos e pediu que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) bloqueie o espaço aéreo do país contra a Rússia.

Pessoas brancas em roupas pretas segurando um cartaz que pede o fim da guerra na Ucrânia
Modelos, influenciadores e marcas de moda se mostraram solidários à Ucrânia

 

Duas mulheres se abraçando e chorando. Uma tem o cabelo branco e a outra tem o cabelo preto. Uma delas está com a bandeira da Ucrânia sobre os ombros.
Bandeiras da Ucrânia tem sido vista em protestos e filas de desfile

 

Mulher branca de cabelo preto segura bandeira da Ucrânia e cartaz pedindo o fim da invasão da Rússia no país. Ao fundo é possível ver mais pessoas com cartazes no que parece ser uma manifestação.
A influenciadora ucraniana Alina Frendiy em protesto com cartaz pedindo a interferência da OTAN na invasão da Rússia a seu país

Medidas de outras indústrias

A empresa Warner Bros., que lançou Batman nos cinemas de todo o globo na última semana – um possível sucesso de bilheteria – suspendeu o lançamento do filme da Rússia. Outros estúdios, como Disney e Sony, também anunciaram medidas de represália contra a invasão à Ucrânia e afirmaram que continuarão a monitorar a situação para decisões futuras.

As empresas de cartão de crédito norte-americanas Visa e Mastercard bloquearam várias instituições financeiras russas de suas redes, cumprindo as sanções do governo dos Estados Unidos. As big techs Meta – novo nome do Facebook –, Google e Twitter também tomaram medidas que impactam não apenas os sistemas de comunicação russos, mas também combatem fake news contra a Ucrânia. 

Para outras dicas e novidades sobre o mundo da moda, siga @colunailcamariaestevao no Instagram. Até a próxima!

Colaborou Carina Benedetti

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