Saiba quem foi Alber Elbaz, estilista que morreu de Covid-19
O designer de 59 anos faleceu nesse sábado (24/4). Conhecido pelo sucesso à frente da Lanvin, ele havia lançado a própria marca em janeiro
atualizado
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O mundo da moda começou a semana em luto pelo falecimento do estilista Alber Elbaz, no último sábado (24/4), devido a complicações da Covid-19. O designer tinha 59 anos e lutou contra o novo coronavírus ao longo de três semanas, em Paris, na França.
Conhecido por rejuvenescer a grife francesa Lanvin entre 2001 e 2015, Elbaz havia lançado a própria marca, AZ Factory, há poucos meses. O grupo Richemont, parceiro da label, anunciou a morte do designer na manhã desse domingo (25/4). Dono de uma personalidade marcante, o marroquino foi admirado por celebridades e grandes nomes da indústria da moda.
Origem e início da carreira
Albert Elbaz nasceu no dia 12 de junho de 1961 na cidade de Casablanca, no Marrocos. Criado em Israel desde o primeiro ano de vida, ele era um hipocondríaco confesso e passou a infância sonhando em se tornar médico ou enfermeiro. Porém, escolheu a moda como rumo profissional e se formou pelo Shenkar College of Engineering, Design and Art (Tel Aviv) nos anos 1980. Segundo o New York Times, ele tirou o T de Albert para facilitar a pronúncia.
Elbaz passou pelo exército brevemente antes de se mudar para Nova York, nos Estados Unidos. Seu primeiro trabalho de destaque veio em 1985, como assistente sênior de Geoffrey Beene, por sete anos. A trajetória do estilista em Paris começou em 1996, quando ele ficou responsável por dirigir o prêt-à-porter (pronto para vestir) da Guy Laroche. Ali, ele passou a experimentar o alcance internacional.
Em 1998, Alber Elbaz foi convidado pelo próprio Yves Saint Laurent para substituí-lo na linha Rive Gauche, que correspondia ao prêt-à-porter feminino de sua grife. Questionador da indústria, ele passou pouco tempo no cargo, pois o então Gucci Group comprou a grife e colocou Tom Ford em seu lugar. Em seguida, trabalhou com a italiana Krizia, em Milão, na Itália, mas o melhor ainda estava por vir.
Graças à amizade com Shaw-Lan Wang, uma das acionistas da Lanvin, o estilista assumiu a direção criativa da grife em 2001, passo que deu uma verdadeira guinada em sua carreira. Embora fosse uma das marcas francesas mais antigas, ela estava “empoeirada” e esquecida no interesse do público.
Sucesso na Lanvin
À frente da marca francesa, Elbaz se tornou o queridinho de personalidades de Hollywood como Meryl Streep, Natalie Portman e Julianne Moore. Propondo um equilíbrio entre o clássico e o moderno, o estilista rejuvenesceu a grife e a colocou de volta no radar, com criações altamente desejáveis entre o público feminino. Em 2019, ele chegou a declarar: “Em toda a minha carreira sempre trabalhei com mulheres e para mulheres”.
As criações tinham um toque elegante e colorido, com influência da alta-costura. O estilista chamou atenção, especialmente, pelos vestidos cocktail. Entre os detalhes, conquistou pelas bijuterias grossas, os drapeados e zíperes industriais. Como resultado, ele agradou ao público e à crítica especializada.
O sucesso no vestuário, curiosamente, não reverberou nos acessórios, categoria importante para qualquer grande grife. A propósito, o designer não conseguiu emplacar it bags. Por outro lado, conquistou outros reconhecimentos notáveis. Ele venceu a categoria internacional do CFDA Fashion Awards 2005 e figurou na lista de 100 pessoas mais influentes da revista Time, dois anos depois.
Apesar da proximidade inicial com a acionista Shaw-Lan Wang, os dois passaram a ter discordâncias com o passar do tempo. Como resultado, Elbaz acabou demitido da Lanvin em outubro de 2015. Depois disso, as vendas caíram e a empresa chinesa Fosun comprou a marca. A partir dali, o estilista passou cinco anos em hiato, fez colaborações com marcas como Tod’s e Le Sportsac, até voltar com tudo no começo deste ano.
AZ Factory
Em 2019, Elbaz começou a trabalhar com o grupo Richemont no que viria a ser seu novo empreendimento na moda, a startup AZ Factory. O projeto estreou durante a Semana de Alta-Costura, em janeiro deste ano, com roupas trabalhadas em tecidos de ponta e designs criativos que passeiam pelos moods básico, festivo e esportivo. A label foca no que chama de “moda inteligente”, oferecendo um mix de tecnologia e artesanato, com uma pitada de entretenimento.
Embora o nome da grife leve as letras de seu nome, Elbaz fez questão de não transformá-la em uma marca homônima, pois não queria que o projeto fosse sobre ele. Já de início, a startup veio com objetivo de oferecer “soluções” para a clientela, sejam elas tamanhos inclusivos (do XXS ao 4XL) ou truques de design que tornam as peças mais funcionais, a preços intermediários.
Outro detalhe à parte foi a recusa do designer em chamar os lançamentos de “coleção” ou “cápsula”, preferindo o rótulo de “histórias”, sem temporadas definidas. Além disso, Elbaz quis fazer das clientes as verdadeiras “cocriadoras”, com novos experimentos a partir das demandas que surgissem. O lançamento chegou com experiências virtuais como lives e um programa gravado em estilo talk show.
Elbaz deixa saudade
Gentileza, exuberância, humor ácido (e até autodepreciativo) e inteligência são traços de Alber Elbaz ficarão na memória. O fundador e presidente do grupo suíço Richemont, Johann Rupert, destacou ao WWD que perdeu muito mais do que um colega, mas um amigo querido. Para ele, o estilista foi uma das figuras mais “brilhantes e queridas” da moda.
“Sempre fui levado por sua inteligência, sensibilidade, generosidade e criatividade desenfreada”, compartilhou. “Ele era um homem de calor e talento excepcionais, e sua visão singular, senso de beleza e empatia deixaram uma impressão indelével. Foi um grande privilégio assistir Alber em seu último esforço, enquanto trabalhava para realizar seu sonho de moda inteligente que se importa.”
Após o anúncio da morte, estilistas como Valentino Garavani, Pierpaolo Piccioli, Stella McCartney, Maria Grazia Chiuri e Michael Kors se manifestaram sobre a perda do amigo. Pelo Instagram da Dior, Chiuri lamentou: “Eu nunca esquecerei o quão generoso, talentoso e amável ele era. Ele foi a primeira pessoa a me fazer sentir em casa na indústria da moda. Sua palavra favorita era ‘amor’ e é com essa palavra que lembrarei dele”, comunicou.
Outras personalidades que lamentaram a partida de Elbaz são Sarah Jessica Parker, Kim Kardashian e Edward Enninful, além de manifestações oficiais de grandes marcas. Lar que o consagrou durante 14 anos, a Lanvin foi breve: “Obrigado, Alber”. A Guy Laroche também deixou uma homenagem, pelo Instagram. “Talentoso senhor Elbaz, você fará falta”, diz a legenda.
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Perdas da moda para a Covid-19
Desde o início da pandemia de Covid-19, a doença levou alguns nomes da indústria da moda, a exemplo do estilista japonês Kenzo Takada e o designer de calçados italiano Sergio Rossi. Alber Elbaz estava internado em um hospital parisiense. O funeral do designer será nesta quarta-feira (27/4) na cidade de Holon, em Israel, ao meio-dia no horário local.
Em junho, na data em que faria 60 anos, a família do estilista pretende fazer um evento memorial em Paris, segundo o WWD. Elbaz deixa um irmão, duas irmãs e o marido, Alex Koo, um executivo de merchandising.
Colaborou Hebert Madeira