Saiba por que peças de streetwear podem se esgotar durante a pandemia
As vendas on-line das roupas e dos acessórios aumentaram. Portanto, os varejistas estão preocupados com o nível baixo dos estoques
atualizado
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Movimentos artísticos que vêm das ruas influenciam, diretamente, o street style e a moda como um todo. Roupas mais largas caíram como uma luva para os que praticavam esportes e tinham um estilo de vida arruaceiro em meados dos anos 1970. O streetwear abraçou membros de várias subculturas jovens urbanas e, agora, tem seu espaço consolidado na indústria fashion. Contudo, devido à crise do novo coronavírus, segundo o portal The Guardian, o Reino Unido enfrentará escassez no fornecimento de itens do segmento por causa de atrasos na fabricação relacionados à pandemia, juntamente com o aumento da demanda dos consumidores.
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Histórico
O streetwear teve origem no bairro nova-iorquino do Bronx, nos anos 1970. Desde 2016, o movimento segue reinventando todo o conceito do que é luxo e, a cada nova temporada, ganha força na indústria da moda. Nas passarelas, já tem espaço garantido em desfiles de etiquetas como Vetementes e Off-White, além de o movimento inspirar diretamente coleções da italiana Moschino e até mesmo da clássica Chanel.
O hip-hop é uma das vertentes mais presentes, trazendo novas estrelas para o portfólio das marcas-desejo, como Supreme, BAPE, Palace e a californiana Anti Social Social Club. Com o estouro do estilo musical e artistas usando peças de grifes variadas, as etiquetas passaram a resgatar o movimento precursor em levar a moda esportiva usada nas ruas aos holofotes.
Impacto da Covid-19
Com o decreto da Organização Mundial da Saúde (OMS) por causa da pandemia do novo coronavírus, em março deste ano, muitas pessoas ficaram presas em suas casas devido ao fechamento de escolas e demais estabelecimentos. Entretanto, a rotina limitada dispensou o uso de maquiagem, saltos e peças mais formais que acompanhavam grande parte da população mundial nas obrigações do dia a dia, como trabalho e eventos sociais.
Enquanto muitos itens foram aposentados nos armários, roupas ergonômicas, esportivas e demais peças que prezam pelo conforto saíram diretamente das gavetas para as produções da temporada. Com a mudança no comportamento, o trabalho e os exercícios feitos em casa surpreenderam varejistas e marcas do streetwear.
Ao mesmo tempo que o mundo foi obrigado a parar, as fábricas e confecções tiveram de fechar as portas, pausando as produções. Os varejistas disseram ao jornal The Guardian que comprar suprimentos adicionais a tempo para o outono tem sido difícil porque muitas fábricas em Bangladesh, Vietnã, Tailândia e Indonésia foram forçadas a parar por alguns meses, a fim de controlar a disseminação do vírus.
As lojas físicas também suspenderam as atividades, por segurança dos funcionários. As vendas on-line, por sua vez, seguiram a todo o vapor. Um exemplo direto foi no segmento de loungewear, moletons, pijamas e tricôs, que subiu 13% nos EUA em relação a março do ano passado, segundo a empresa norte-americana de marketing Edited.
No primeiro trimestre de 2020, a plataforma global Lyst revelou que uma máscara de rosto da Off-White foi o item masculino mais pesquisado do período. O levantamento, divulgado em maio, demonstra mudanças constantes de estilo de vida e mentalidade da população desde que teve início a pandemia. Outros produtos grifados complementaram a lista com peças de streetwear, como moletom Gucci, tênis Nike e Comme des Garçons Play.
Como resultado, o número de vendas do comércio digital cresceu 95% na pandemia. Por outro lado, o volume dos estoques diminuiu, enquanto a indústria não tinha previsão para reabastecer as prateleiras. De acordo com pesquisa feita pela Coresight Research nos EUA, 60% dos entrevistados passaram a investir mais nos e-commerces em comparação ao período que antecedeu o distanciamento social.
“Houve pânico imediato entre fevereiro e abril, quando as marcas interromperam as produções”, disse um varejista especializado ao The Guardian. “As pessoas falavam como se ninguém fosse comprar, mas meu site teve aumento de 200% nas vendas. Agora, não tenho estoque. Estou tendo que acompanhar o que está disponível”, assinalou.
O sucesso do streetwear é inquestionável. O setor marcou presença no terceiro levantamento da Lyst, de 2020. De acordo com a plataforma, a Off-White consta na lista das marcas mais quentes da moda. Durante o período analisado, a etiqueta abriu novas lojas em Londres, Miami e Milão. A label, sob comando do estilista Virgil Abloh, também lançou uma bolsa de estudos de US$ 1 milhão para estudantes negros de moda, além de desenvolver um carro-conceito em parceria com a Mercedes-Benz, o que atraiu novos olhares.
Em outro levantamento feito pela Edited, o número de itens de roupas comfy esgotadas no mês passado aumentou 17% em relação ao mesmo período em 2019. A empresa também prevê que o montante possa subir, caso um segundo bloqueio tome grandes proporções.
A varejista de moda on-line Asos afirmou, na última semana, que o estoque tinha diminuído devido à escassez mundial de itens. De acordo com o presidente-executivo da empresa, Nick Beighton, o problema não vai desaparecer tão cedo, tendo em vista o “bolso aéreo” de produtos, causado pelo fechamento de fábricas. Na verdade, ele não espera ver uma melhora até a primavera de 2021. Considerando o Hemisfério Norte, a estação se inicia somente no fim do primeiro semestre.
Outro problema enfrentado pelas marcas durante o lockdown foi com os envios das mercadorias. Peter Cowgill, nome por trás da JD Sports, contou ao portal britânico que as dificuldades foram resultado de uma redução no número de funcionários em cada turno, para seguir as recomendações de distanciamento físico. A etiqueta também passa a investir em automações para facilitar as entregas de Natal e Black Friday.
Negócios
O movimento de streetwear vai muito além de roupas e acessórios. Trata-se, verdadeiramente, de um estilo de vida. Na moda, a vertente é uma macrotendência que movimenta bilhões de dólares. Enquanto as labels incrementam seu valor no mercado, produtos de edição limitada, como tênis, bolsas e moletons, por exemplo, são concretizados como símbolos de status e se esgotam em disputadas filas.
Em um relatório, a Bain & Company novamente destacou o streetwear como um impulsionador de crescimento para o setor de luxo. Roupas casuais “continuam sendo uma alavanca fundamental para atrair novos clientes para marcas sofisticadas”, observou a consultoria.
Colaborou Sabrina Pessoa