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Saiba como grifes libanesas foram afetadas pelas explosões em Beirute

Marcas já enfrentavam problemas locais e ganharam mais um obstáculo, com sedes destruídas e uma crise humanitária agravada

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Zuhair Murad/Divulgação
Sede Zuhair Murad destruída
1 de 1 Sede Zuhair Murad destruída - Foto: Zuhair Murad/Divulgação

Vários estilistas do Líbano tiveram suas sedes e ateliês afetados pelas explosões que ocorreram em Beirute, capital do país, no último dia 4. Algumas marcas chegaram a perder tudo. Muitas delas, que já enfrentavam problemas, terão de se reerguer em meio a um cenário caótico que reúne as crises econômica, sanitária e humanitária. Entre os designers afetados, estão Zuhair Murad, Elie Saab, Rabih Kayrouz e Amine Jreissati.

Vem comigo entender a situação!

Giphy/Maison Rabih Kayrouz/Divulgação

Estilistas afetados

O impacto gerado pelas explosões deixou milhares de feridos, mais de 150 mortes e destruiu grande parte da área portuária de Beirute. Foram dois estouros, sendo o segundo maior e mais grave. Uma das localidades afetadas foi o distrito de Gemmayze, conhecido pelos restaurantes e lojas de moda. A diferença entre a segunda detonação e o momento em que o couturier Zuhair Murad e sua equipe de 200 funcionários deixaram a sede de sua marca homônima foi de apenas 10 minutos.

O prédio de 11 andares, que reunia 20 anos de acervo de sua etiqueta, foi destruído. Os prejuízos incluem também as próximas coleções de prêt-à-porter, alta-costura, e o acervo de arte do costureiro, que relatou ter “chorado como uma criança” após o ocorrido. “Perdemos tudo, todas as minhas memórias”, contou ele ao Business of Fashion. “Meu sonho era construir minha casa de moda em Beirute, na minha cidade, no Líbano, onde nasci, mas em um segundo eu perdi tudo.”

Amine Jreissati também escapou por pouco da destruição. Ele saiu de sua loja e, já em casa, viu janelas e portas se estilhaçarem, enquanto acompanhava o noticiário pela tevê, com o resultado da grande explosão. Georges Hobeika, que tem um ateliê em um subúrbio mais afastado do centro, não teve impacto no espaço e nem na equipe.

Assim como Murad, Rabih Kayrouz teve sua sede destruída e, posteriormente, compartilhou vídeos no Instagram mostrando como ficou seu showroom. Ele perdeu 75% dos produtos. Ateliê, loja e escritório de Roni Helou, etiqueta de womenswear com pegada sustentável, também foram destruídos, mas a equipe está segura. O gerente de vendas ficou ferido, porém, sobreviveu.

A Elie Saab, principal grife do país, também sofreu com a megaexplosão. A sede fica a quatro quilômetros do porto, no Distrito Central, e foi gravemente danificada. A equipe estava toda no escritório, mas teve apenas ferimentos leves. Reparos serão necessários no prédio, que ficará fechado até o dia 17 deste mês. O diretor global da marca, Elie Saab Junior, garante que a label não pretende retirar as operações de alta-costura do país. As residências do executivo e do pai foram destruídas.

Look dourado da marca Zuhair Murad
O couturier libanês Zuhair Murad foi um dos principais estilistas afetados pela explosão em Beirute, na última terça-feira (4/7)

 

Sede Zuhair Murad destruída
O interior do prédio de 11 andares ficou completamente destruído

 

Sede Zuhair Murad destruída
Uma das imagens que a etiqueta compartilhou pelo Instagram

 

Sede Zuhair Murad destruída
O acervo de 20 anos da marca, segundo a Vogue, ficou quase 80% destruído

 

Sede Zuhair Murad destruída
Mais um registro da destruição

 

Look da grife Elie Saab
A etiqueta homônima de Elie Saab, especializado em moda nupcial e alta-costura, sofreu danos graves em sua sede, no Distrito Central de Beirute

 

Indústria fashion do Líbano

O cenário já não era favorável para a indústria fashion no Líbano. Uma hiperinflação fez a libra libanesa perder 80% de seu valor desde o quarto trimestre de 2019. Com a crise sanitária provocada pelo novo coronavírus, a procura pelos produtos das grifes libanesas caiu em nível local e global. Etiquetas como a de Salim Azzam, por exemplo, estavam sobrevivendo à custa do comércio exterior.

Antes de a inflação chegar a esse patamar, como explicou Elie Saab Jr. ao BoF, marcas gigantes estavam vendendo bem em Beirute, a exemplo de etiquetas francesas como Chanel, Hermès e Dior. Na avaliação dele, a situação era favorável para qualquer marca até março deste ano, no entanto, mudou drasticamente e foi acentuada pela Covid-19.

Amine Jreissati, que comanda a marca BoyfriendTheBrand, deu um exemplo em números. “Para mim, produzir uma camisa custava US$ 40, incluindo o tecido. Agora, está custando US$ 300. Por isso, tenho que vendê-la por 1,5 milhão de libras libanesas [US$ 1 mil], e quem vai querer comprar algo por esse preço?”, contestou.

A insatisfação do designer é a mesma de muitos outros que passavam por dificuldades em meio à crise econômica e, agora, foram ainda mais afetados pela explosão. “Dei tudo por este país e não tenho nada em troca. Eu dei todo o meu ser. Nunca aceitei um emprego no exterior, sempre acreditei em Beirute. Mas não falhei, o país falhou comigo”, desabafou Jreissati ao BoF.

Looks da marca BoyfriendTheBrand
Looks da marca BoyfriendTheBrand, de Amine Jreissati. A grife, que já vinha sofrendo com a crise econômica e sanitária, também teve a sede destruída

 

Rabih Kayrouz e modelo
Este é Rabih Kayrouz, que comanda a etiqueta homônima. O interior de sua sede também foi danificado

 

Looks Roni Helou
Já estes dois looks são da etiqueta de womenswear sustentável Roni Helou, que perdeu ateliê, loja e escritório

 

Look da Renaissance Renaissance
Cynthia Merhej é a fundadora da Reinaissance Renaissance, marca deste look. Ela relatou à Vogue que o governo do Líbano não tem ajudado com a situação local e as próprias pessoas estão se voluntariando para apoiar

 

Recuperação em longo prazo

A Fitch Solutions estimou o valor da indústria fashion libanesa em US$ 1,5 bilhão no ano de 2017. O número supera mercados como Jordânia e Marrocos, mas é cerca de 10 vezes menor que vizinhos como a Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Apesar do destaque regional, o valor é desproporcional se comparado em nível global, aponta o Business of Fashion.

Vale destacar que, no fim de 2019, o país era o terceiro mais endividado do mundo e viu seu PIB real cair 5,6%. Em 2019, protestos contra o governo tomaram o país. Agora, a população sofre também com a falta de leitos nos hospitais, escassez de alimentos, centenas de milhares de desabrigados e com o desaparecimento de dezenas de pessoas.

“É uma experiência insana porque literalmente não temos apoio governamental. Não há ajuda para desastres, nenhum exército ajudando, absolutamente nada. Então, se não fôssemos nós, armados com vassouras e pás, nada aconteceria. Estou literalmente limpando entulho e vidro nos últimos dois dias, ajudando amigos cujos negócios foram destruídos”, relatou Cynthia Merhej, criadora da Renaissance Renaissance, à Vogue US.


Colaborou Hebert Madeira

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