Saiba como a quarentena afetou as compras de peças de luxo de segunda mão
Relatório da plataforma The RealReal revela como foi a demanda no mercado de revenda de itens de grife no primeiro semestre de 2020
atualizado
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É evidente que, após o início da pandemia de coronavírus, o conforto virou a grande aposta da moda e isso se refletiu nos hábitos de consumo dos últimos meses. No entanto, essa não foi a única influência no comportamento dos consumidores, especialmente em relação aos produtos de segunda mão, como indica a plataforma de revenda de luxo The RealReal. Recentemente, a empresa revelou o resultado em seu mais novo relatório anual, que lista as marcas e produtos mais desejados no mercado de second hand na primeira metade deste ano. Além disso, apontou os destaques do streetwear de luxo e as mudanças trazidas pela Covid-19.
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Demanda das marcas e produtos de luxo
Na avaliação do The RealReal, o público deu prioridade para marcas de luxo estabelecidas durante a pandemia, mesmo com a atual situação econômica. A lista de 10 grifes teve o topo ocupado pela Louis Vuitton pela primeira vez. O motivo foi o interesse dos compradores em suas bolsas icônicas, como o modelo Neverfull. Em seguida, a lista traz Gucci, Chanel, Prada, Hermès, Dior, Fendi, Saint Laurent, Balenciaga e Burberry, respectivamente.
As marcas que aparecem no top 10 estão de olho na geração Z, nos millennials e nos homens, grupos de consumidores que estão se destacando na moda. A Gucci, que ocupava o primeiro lugar do ranking até março, conquistou o interesse do público masculino por causa dos acessórios, cuja demanda cresceu 52%. Já no caso da LV, outro segredo foi o contato com público mais jovem, que ficou 88% mais interessado pelas minibolsas da grife.
O aumento de 143% na demanda pela bolsa Loulou ajudou a Saint Laurent a voltar ao top 10, já que é a peça mais procurada da marca. Enquanto isso, as roupas masculinas de Riccardo Tisci para a Burberry, cujo interesse dos compradores subiu 52%, justificam a posição da etiqueta britânica no 10º lugar. A Dior viu seu maior crescimento ano a ano, com demanda 47% maior. O interesse pela bolsa Montaigne subiu 353%.
Outros destaques no segmento de luxo são marcas com apelo sustentável, como Collina Strada, Bode e Marine Serre. Telfar, Victor Glemaud e Pyer Moss aparecem nas primeiras posições na categoria de negócios comandados por pessoas negras. Enquanto isso, Richard Quinn, Cecilie Bahnsen e Retrouvai aparecem entre as grifes que enxergam a moda como um escapismo.
Comportamento na pandemia
A aderência pelas peças de revenda aumentou durante a pandemia. Ao mesmo tempo, a Covid-19 alterou bastante os hábitos de consumo se comparados ao primeiro semestre de 2019, aponta a TRR. O destaque foi da peças confortáveis para trabalhar de casa, realidade bem diferente no ano passado. Em 2019, o interesse era bem maior em peças para eventos sociais, como bolsas de festa e sapatos de salto, roupas e calçados formais para trabalho em escritório, além de peças tropicais para curtir o verão, como chapéus, itens de banho e sandálias.
De abril a junho deste ano, a plataforma viu também o aumento pelo interesse em lenços de seda para o uso como máscaras (não recomendado por especialistas), além de uma maior procura por peças confortáveis, como moletons, suéteres e loungewear. O TikTok trouxe à tona o tie-dye, com aumento de 101% na demanda pelas peças com a tendência, enquanto a série documental Arremesso Final alavancou a procura pelos tênis Air Jordan em 23%.
Curiosamente, perto de junho, os relógios Rolex ficaram mais escassos na plataforma e se transformaram em uma verdadeira caça ao tesouro, destacando-se nove vezes mais que outras marcas do segmento relojoeiro. Ao mesmo tempo, as vendas por anéis de noivado aumentaram 45%.
A demanda dos consumidores de moda não ficou presa somente a roupas, calçados e acessórios. As procura por itens de decoração, livros, jogos de tabuleiro e peças para casa também aumentou entre março e junho. Só a demanda por decoração e acessórios infantis aumentou 577%, enquanto o interesse em travesseiros subiu 216%. Os itens mais buscados de décor foram uma tigela de cristal da Tiffany, copos da Maison Balzac e o livro The Ultimate Sneaker Book, da editora Taschen.
O “novo normal”
Apostar nas peças pela durabilidade é uma das realidades do cenário chamado “novo normal”. Houve um aumento de 36% no interesse dos compradores por objetos de “alto valor”, a partir de US$ 1 mil, consideradas “peças de investimento”.
“Eles estão gastando em modelos de alto valor e atemporais com valor de revenda duradouro, sabendo que pode consigná-los no futuro para recuperar a maior parte desse investimento ou usar peças clássicas nas próximas décadas”, avaliou Sasha Skoda, head do setor feminino da TRR.
A busca por peças mais caras e duradouras dominou as categorias de bolsas, relógios, joias e tênis, todas com interesses maiores nessa nova realidade. Além disso, as pessoas estão preferindo peças com design mais discreto e elegante do que a logomania exagerada. Bolsas, joias e roupas entram para a conta de peças mais sóbrias.
O ambiente do lar também passa a ter uma grande influência nessa nova realidade. Houve um aumento de 150% na remessa de peças de arte durante a pandemia, ao passo que a demanda por itens de casa, em relação a 2019, subiu 24%. Desde o início da pandemia, a quantidade de consignatários da The RealReal aumentou 27%. No segundo trimestre, a geração Z e os millennials representaram 37% deles.
Regras do streetwear de luxo
O streetwear se destaca cada vez mais entre as marcas de luxo e mostra que vai muito além de tênis e moletons. O crescimento das peças desse segmento nas grifes foi de 991% nos últimos cinco anos. Só nos últimos dois anos, a porcentagem foi de 486%. No top 10 de marcas e itens por demanda, a Balenciaga domina a lista com seu modelo Speed Trainer. Etiquetas de luxo como Givenchy e Off-White aparecem junto com grandes marcas como Supreme, Adidas e Nike.
De maneira geral, há 13% mais compradores de streetwear do que há cinco anos. Entre as mulheres, com 28% de aumento na demanda em relação à 2019, são as marcas de luxo que fazem sucesso. Entre os homens (+71%), Yeezy, Nike e Balenciaga. Os compradores de peças infantis também têm procurado pelas peças da linha Air Jordan. O aumento no interesse pelo streetwear infantil é de 84%. Objetos, como esculturas, também são destaque, com crescimento de 57% na demanda Year over Year (YoY).
Na avaliação do expert em tênis e streetwear da The RealReal, Sean Conway, as marcas de luxo que correram para a postar na pegada street estão ganhando grande destaque no mercado de revenda. “Está cada vez mais claro que as casas de luxo tradicionais veem streetwear como uma força que não pode ser ignorada, de Kim Jones da Dior convidando Shawn Stussy [para parceria] à Givenchy dando boas-vindas a Matthew Williams”, apontou ele.
Metodologia
Os dados são avaliados a partir do comportamento de compra e consignação de mais de 17 milhões de membros da plataforma. A pesquisa leva em conta pesquisas e compras em lojas do TRR e no e-commerce da empresa nos dois primeiros trimestres deste ano, também considerando o diferencial provocado pela pandemia entre março e junho. A partir daí, a primeira metade do ano de 2020 é comparada com a primeira metade de 2019, assim como o primeiro trimestre deste ano é comparado com o segundo, em alguns momentos.
Na avaliação de Julie Wainwright, CEO e fundadora da The RealReal, a busca por peças de revenda está pavimentando o caminho por uma moda mais sustentável. Ela fundou a plataforma em 2011, como uma pequena startup. Hoje, a TRR é considerada a maior plataforma do mundo para produtos de luxo autenticados e consignados.
“Ver o planeta se curando visivelmente durante a quarentena tem servido como um poderoso testemunho do impacto positivo que todos podemos ter no ambiente. As pessoas estão fazendo mudanças concretas em viver de forma mais sustentável. As marcas estão repensando a produção e o ‘afterlife‘ do que elas criam”, declarou.
Colaborou Hebert Madeira