Saiba como a inclusão tem impulsionado a venda de lingeries nos EUA
Enquanto a Victoria’s Secret planeja fechar 50 lojas em 2019, marcas que celebram a diversidade veem lucros crescerem exponencialmente
atualizado
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Durante décadas, sutiãs push-up e boddies de renda em modelos magras e curvilíneas definiram o conceito de sexy perante à opinião pública. Porém, novas marcas de lingerie estão mudando essa percepção no mercado norte-americano, com o apoio de consumidoras que estão cansadas de não se verem representadas nas campanhas e araras das etiquetas especializadas em roupas íntimas.
Hoje, graças aos esforços dessas empresas, é possível achar uma variedade maior de tamanhos e diversas opções de cores nas peças denominadas nudes. Mais do que isso, a celebração da diversidade na mídia tem fidelizado mais clientes do que a qualidade dos produtos. A inclusão se tornou um mercado lucrativo na Terra do Tio Sam.
Vem conferir comigo como essa transição está acontecendo!
De acordo com a Zion Market Research, empresa que promove pesquisas de mercado, até 2024, o mercado global de lingeries valerá US$ 59 bilhões, bem acima dos US$ 38 bilhões registrados em 2017. E, à medida que as vendas do segmento crescem, o comportamento das consumidoras muda drasticamente.
Números publicados pela Edited, companhia responsável por analisar o desempenho do varejo, sugerem que os modelos esportivos, como o bralette, estão fazendo mais sucesso do que os sutiãs push-up, hit da Victoria’s Secret.
Embora a etiqueta das angels ainda lidere a participação no mercado americano, com mais de 24% das vendas, a marca anunciou o fechamento de cerca de 50 lojas em 2019, após uma queda considerável em sua receita durante as festas de fim de ano.
A diminuição nos lucros da VS, no entanto, ocorrem ao passo que marcas recém-lançadas no mercado crescem a galopes. A startup norte-americana ThirdLove, por exemplo, preencheu uma lacuna do segmento agradando mulheres que têm dificuldades para encontrar sutiãs no tamanho certo.
Quando Heidi Zak cofundou a etiqueta em 2011, seu desejo era fornecer peças que se encaixassem melhor do que as já existentes no setor. A empresária, então, possibilitou alterações no formato e tamanho das taças de suas mercadorias. Hoje, a marca on-line oferece 78 tamanhos diferentes e vale cerca de US$ 750 milhões, segundo a Forbes.
Apenas em uma rodada de negócios, que aconteceu no início de março, a empresa levantou US$ 55 milhões. A previsão é de que até o final do ano seu valor de mercado chegue a US$ 1 bilhão. “O foco da ThirdLove é promover e vender realidade, e não apenas fantasia. Além disso, é um negócio que celebra a beleza de todas as mulheres, em suas mais diversas formas, tamanhos e cores”, disse Anne Wojcicki, uma das investidoras da marca.
Contudo, Cora Harrington, autora do livro Em Detalhes Íntimos: Como Escolher, Usar e Amar Lingerie”, alerta que oferecer essa gama de modelos pode sair caro para as empresas. “Há tantas partes, tamanhos e variações que é impossível para qualquer marca atender todos os formatos de seios”, relatou à CNN.
De acordo com Harrington, um único sutiã pode conter pelo menos 20 componentes individuais, incluindo rendas, fechos e tiras. Para uma peça de luxo, esse número pode aumentar para 40 ou 50. Adicione a costura de precisão e a modelagem necessária para ajustar os diferentes tamanhos e você terá uma produto que custa mais do que as pessoas acham apropriado pagar por um sutiã.
A etiqueta Savage X Fenty, de Rihanna, é outro nome que vem sendo celebrado pela diversidade nas passarelas e por sua cartela de tons. Apenas na seção nude da label, as clientes podem escolher entres cinco variações de pigmento, o que tem chamado a atenção das consumidoras negras. A grife ainda não liberou seu primeiro relatório de vendas, mas espera-se que os lucros superem as expectativas dos investidores.
“Criei a Savage para que as mulheres assumam total responsabilidade em como se sentem e nas escolhas que fazem. Somos vistas como mais fracas, aquelas que vão ter o coração partido em um relacionamento. Minha missão é mudar isso, dando mais força à imagem feminina”, disse Rihanna à Vogue.
Também de olho na realidade do mundo feminino, a Aerie cresceu 32% no terceiro semestre de 2018. A marca aposta em imagens sem retoques para suas divulgações, além de abraçar a diversidade. No início do ano passado, a empresa lançou a campanha #AerieREAL, com o slogan Não Mude Você. Mude Seu sutiã.
No projeto, feito em parceria com a Associação Norte-Americana de Distúrbios Alimentares, 57 fãs da label foram convidadas a experimentar suas lingeries e o resultado ficou bem interessante. Entre as modelos, há mulheres que sobreviveram ao câncer, bem como pessoas que convivem com diabetes, vitiligo, Síndrome de Down e dificuldades motoras.
Outro grupo que tem se beneficiado com o aumento na diversidade do segmento de lingeries são as pessoas transexuais. A Origami Customs, que oferece peças de afirmação de gênero, viu suas vendas dobrarem nos últimos quatro anos, de acordo com a fundadora, Rae Hill.
Recentemente, a label expandiu seu mix de produtos com roupas que ajudam a esconder os seios e packers. “Senti uma onda de gratidão de meus clientes sobre o processo de trabalhar comigo. Atendo cada um individualmente e sinto que isso cria um nível de segurança e intimidade não disponível no mercado. Ser sexy é tão diferente quanto cada um de nós”, acrescentou Hill à CNN.
No Brasil, a evolução no mercado de underwear ainda é tímida, mas há quem já comece a abraçar a diversidade. Enquanto as gigantes Hope e Valisere ainda dedicam seu feed do Instagram às mulheres esbeltas, a Jogê tenta incluir plus sizes em algumas fotos em grupo.
Entre as marcas mais conhecidas, a Loungerie, pioneira em lingeries personalizadas no Brasil, ainda leva vantagem com suas diferentes combinações de tamanho de tórax e busto, que permitem
um melhor caimento. Contudo, apenas etiquetas pequenas oferecem um trabalho realmente personalizado.
Inaugurada há cinco anos, a Boobtique aposta em modelos feitos sob medida. A cliente vai pessoalmente ao ateliê, em Porto Alegre, tira as medidas e volta para fazer uma prova. Se servir direitinho, a peça é finalizada e entregue em três dias. É possível comprar on-line, tirando as medidas em casa, mas nessa opção a prova não é feita.
A dona do negócio, Priscilla Martinez, resolveu investir na ideia após não encontrar uma lingerie bonita que coubesse nela. “Nem olhava o preço, queria só que servisse. Do meu tamanho, não tinha em nenhuma loja. Chorei, chorei, chorei”, revelou à Folha de S. Paulo.
Para Bianca Reis, da For All Types, a inspiração foi a falta de publicidades com mulheres plus size. “Quando a loja tinha no tamanho, não tinha como saber como ficaria, porque a modelo era sempre magra”, afirma a empresária, que hoje produz tamanhos maiores que 48, sem limite máximo.
Ainda há um longo caminho a ser percorrido pelas marcas especializadas em roupas íntimas no Brasil, mas espera-se que o segmento nacional acompanhe a movimentação do hemisfério norte, onde a inclusão e diversidade hoje se traduzem em diversidade, aceitação e, claro, lucros.
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Colaborou Danillo Costa