Rumos para a sustentabilidade na moda são tema de debate em SP
Em painel no Iguatemi Talks, representantes dos movimentos Free Free e Fashion Revolution, e também da marca Vert, discutiram o assunto
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo (SP) – A terceira edição do Iguatemi Talks Fashion teve início nessa terça-feira (22/10/2019). O primeiro dia de palestras reuniu temas relevantes para a moda, com destaque para a sustentabilidade. O evento acontece no Shopping JK Iguatemi, em São Paulo.
Vem comigo!
Mediado pela jornalista Maria Rita Alonso, o painel sobre sustentabilidade reuniu três personalidades envolvidas com o tema em diferentes formas. Os convidados foram: Eloisa Artuso, representante do movimento Fashion Revolution; Leandro Miguel, da Vert; e Yasmine Sterea, criadora do Free Free.
Os participantes pretendem comprovar que ser sustentável vai muito além de não fazer mal ao ambiente: envolve ética, responsabilidade social, humanidade e até prosperidade econômica.
O Fashion Revolution, por exemplo, é um movimento global que nasceu da necessidade de unir pessoas e organizações em busca de uma cadeia produtiva valorizada.
“A violação dos direitos humanos e as condições precárias de trabalho eram (e ainda são) muito presentes, só que elas estão escondidas nos bastidores. O movimento surgiu para dizer que as pessoas não podem mais morrer pela moda”, explicou a diretora educacional da iniciativa no Brasil.
O impacto ambiental também está entre as causas. “A indústria da moda é considerada uma das mais poluidoras do mundo”, destacou Artuso. “É necessário mudar radicalmente a maneira como as roupas são pensadas, criadas, produzidas, consumidas e até descartadas”, completou.
A convidada também destacou que, recentemente, o Fashion Revolution lançou o Índice de Transparência da Moda Brasil, em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV). O relatório analisa como grandes marcas e varejistas estão comunicando a respeito de seus processos ao público.
O balanço é feito por meio de critérios que envolvem faturamento e reconhecimento do público, além de um recorte de setores. A ideia é incentivar maior prestação de contas em relação aos impactos socioambientais do setor.
Uma das questões abordadas foi a necessidade de uma moda circular. Isso significa reinserir peças já existentes em novos ciclos produtivos, além de produzir conscientemente.
“Temos um padrão de produção e consumo que é linear: a gente extrai, consome e joga fora. Mas é preciso entender que não existe jogar fora. O sistema tem que ser repensado para que seja regenerativo e possa se autossustentar”, explicou Eloisa Artuso.
A representante do Fashion Revolution disse ainda que comprar produtos de brechó ou iniciativas parecidas de second hand é uma tática interessante. No entanto, o essencial é realmente rever a mentalidade de consumo e diminuir a frequência em geral.
O Free Free foi criado exatamente com o intuito de dar um novo significado para o consumo. Fundada pela stylist Yasmine Sterea, a iniciativa promove ações de upcycling.
Por meio da perspectiva dos bastidores da indústria, Yasmine passou a enxergar nas roupas uma forma de expressar a individualidade sem abrir mão do coletivo. O melhor de tudo: ajuda mulheres em situação de vulnerabilidade a alcançarem saúde emocional, independência financeira e liberdade.
“Desenvolvemos uma metodologia que usa a moda como instrumento de cura e autoconhecimento. É falar de moda sem estimular o consumo desenfreado, sem estimular que você siga todas as tendências, as regras, as ditaduras da beleza”, contou. “É mostrar o outro lado, o da expressão, diversão, criatividade. É você errar mesmo”, acrescentou Yasmine.
A idealizadora também lembrou que, recentemente, o Free Free participou do São Paulo Fashion Week. A passarela foi marcada pela diversidade, com modelos plus-size, indígenas grávidas, idosas, trans e pessoas com deficiência.
“Nunca pensei em fazer um desfile, porque achava algo muito careta, algo que não funcionava mais. Mas entendemos que precisávamos levar toda essa ideologia para lugares tradicionais da moda”, revelou. “O que conseguimos fazer foi muito emocionante… Mostrar que a moda é plural, inclusiva, divertida. Ela é para todo mundo.”
A plataforma teve a colaboração de estilistas renomados, como Reinaldo Lourenço, Patricia Bonaldi, Helo Rocha, Paula Raia e Alexandre Herchcovitch, que doaram peças de acervo próprio. Os looks foram reinventados por meio do trabalho de artesãs de comunidades apoiadas pelo Free Free.
No talk, Yasmine adiantou que as roupas apresentadas no SPFW serão leiloadas até o fim do ano. O objetivo é que a renda seja revertida para o instituto.
Diretor comercial e de marketing da Vert, Leandro Miguel está no cargo desde 2013, quando a marca passou a operar no Brasil. A label de sapatos tem foco em práticas sustentáveis e na valorização da cadeia produtiva.
Entre os materiais usados estão algodão orgânico, borracha nativa da Amazônia e couro vegano. A marca lida diretamente com associações e comunidades locais, com o objetivo de estabelecer um relacionamento mais humano, reduzindo os intermediários e, assim, aumentando a remuneração dos produtores.
“A nossa equipe é apaixonada por descobrir coisas, testar e até errar. O erro é o que nos aproxima da perfeição, nos permite chegar ao crescimento”, afirmou Leandro Miguel.
Ele também comentou que, neste mês, a marca lançou um modelo ecológico de tênis de corrida. Além de produtos tradicionais da Vert, como o algodão orgânico e a borracha da Amazônia, os calçados são desenvolvidos com garrafas plásticas recicladas, óleos de banana e mamona, cana-de-açúcar e casca de arroz.
“É um tênis de performance. Você pode correr até 30 km por semana com ele. Nossa ideia, no entanto, não é entrar nesse mercado running, é dar uma alternativa bio a quem tem esse lifestyle”, esclareceu.
O primeiro dia do Iguatemi Talks também abordou a troca geracional em negócios que são comandados em família. Outros talks tiveram foco em geração de conteúdo, novidades tecnológicas e fotografia.
O evento segue até esta quinta-feira (24/10/2019). A programação, que pode ser conferida on-line, inclui ainda painéis com temas como o futuro da profissão de estilista, movimento body positive, estratégias de negócio, ética, processo criativo, mídias sociais e mercado de luxo internacional.
Colaborou Rebeca Ligabue