Além da Riachuelo, veja marcas de moda acusadas de apologia ao nazismo
Recentemente, a varejista foi criticada na web após um tuíte expor um conjunto associado a uniformes usados em campos de concentração
atualizado
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A moda é um fenômeno complexo que transcende a mera funcionalidade de vestir roupas. Trata-se de um “espelho” da sociedade, que reflete não apenas as tendências estéticas, mas também os valores, assim como contextos históricos e sociais de uma época. Um exemplo recente que ilustra essa complexidade é a controvérsia em relação a um pijama listrado lançado pela varejista Riachuelo. Em diferentes momentos, outras marcas já foram acusadas de apologia ao nazismo.
Contextualização das listras
As listras desempenharam um papel sombrio na história do Holocausto, especialmente nos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Os prisioneiros eram forçados a vestir uniformes listrados como parte de um sistema de identificação.
As roupas eram projetadas para categorizar os prisioneiros com base em diferentes critérios, como a cor das listras e o formato dos triângulos costurados nos uniformes. Os judeus, por exemplo, frequentemente usavam uniformes com listras azuis e triângulos amarelos, enquanto os presos políticos tinham listras e triângulos vermelhos.
Além disso, as listras eram frequentemente associadas a trabalhos forçados, fome, doenças e condições desumanas nesses ambientes; por isso, quando estampadas em uniformes, são um lembrete sombrio da crueldade praticada durante esse período da história. Assim, quando se olha uma roupa similar, a memória vem à tona.
Peças encontradas
O pijama da Riachuelo, à primeira vista, pode parecer uma mera peça de roupa com listras, já que a estampa é frequentemente usada na moda. No entanto, a estética particular desencadeou uma polêmica um tanto quanto preocupante à rede brasileira de fast fashion.
A produtora cultural e gerente de projetos Maria Eugênya, que tem expertise em cultura material, consumo e semiótica psicanalítica pela Universidade de São Paulo (USP), fez uma crítica relevante na rede social X (conhecida durante anos como Twitter). Ela associou o conjunto ao uniforme de prisioneiros judeus em campos de concentração nazistas usados durante o Holocausto na Segunda Guerra Mundial.
O assunto reverberou na web, e um debate sobre a semelhança foi aberto. A controvérsia levanta questões profundas sobre como a moda pode ser interpretada e como os significados podem variar de pessoa para pessoa. Veja abaixo alguns posicionamentos:
Outros exemplos
Quando marcas incorporam a padronagem em coleções sem considerar a sensibilidade histórica e cultural, elas cometem um erro grave. Engana-se quem pensa que só a Riachuelo lançou peças comparadas a uniformes de campos de concentração.
As marcas Calma, Souq Urban e Urban Outfitters são exemplos, entre muitos outros casos, em que as empresas causaram indignação ao não considerar o contexto histórico das roupas que produzem. Isso levanta questões importantes sobre a falta de pesquisa e de sensibilidade das empresas de moda em relação à responsabilidade social.
A moda é, definitivamente, uma forma de expressão pessoal, que, inclusive, pode refletir a identidade e até as crenças de alguém por meio das roupas escolhidas. Portanto, para algumas pessoas, vestir um traje que remete ao uniforme de campos de concentração pode ser profundamente perturbador e ofensivo.
A complexidade dessa situação ressalta como a moda pode representar uma batalha de criações e interpretações. É necessário que as marcas se eduquem e se fundamentem em noções básicas da história ao desenvolver roupas, para que não desonre as vítimas de um contexto trágico como o nazismo, por exemplo.