Reserva é acusada de racismo por usar manequim preto quebrando vidro
Episódio aconteceu no Shopping Barra, em Salvador. A marca disse que a atividade fazia parte de ação de marketing que divulgava a liquidação
atualizado
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A marca carioca Reserva foi acusada de racismo após foto de um manequim preto “invadindo” a loja viralizar na internet. O caso aconteceu no Shopping Barra, em Salvador, na Bahia. Apesar do boneco ter sido retirado, ele estava exposto desde o dia 25 de janeiro e, segundo a grife, fazia parte de uma ação de marketing que divulgava as promoções das roupas.
Loucuras pela Reserva era o nome da ativação que tinha como objetivo atrair os olhares do público para as promoções da grife carioca. A atenção gerada, porém, não foi por um bom motivo. O manequim preto, instalado no corredor do shopping soteropolitano, aparecia “quebrando o vidro” da loja, em uma pose que, para os internautas, remetia a um assalto.
Thiago Amparo, professor de direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi um dos que se manifestou nas redes sociais. “Loja da Reserva expõe manequim preto quebrando vidraça no shopping Barra em Salvador. Nunca mais compro na marca”, escreveu em seu perfil no Twitter.
Quem fez coro foi o ativista Wesley Teixeira. “Quando a gente acha que já viu muito sobre racismo, vem a Reserva com uma representação racista do nosso corpo: um manequim preto, com as mãos na cabeça, quebrando o vidro. Parece que a loja retirou o manequim depois das denúncias… Mas que tipo de mentalidade é essa?”, manifestou-se.
Em nota oficial, a Reserva declarou que “jamais teve como objetivo ofender qualquer pessoa ou disseminar ideias racistas, mas, sim, divulgar a liquidação da marca”. “Acreditamos na empatia como única forma de viver em sociedade e repudiamos o racismo em todas as suas formas de expressão”, finalizou.
A coluna também procurou o Shopping Barra. Segundo o estabelecimento, trata-se de uma ação isolada da marca. O shopping informou que contratou uma consultoria para implementar um comitê de diversidade e também treinamentos, palestras e insights. De acordo com a empresa, será feita uma cartilha que funcionará “como um guia de orientações de como fazer para não reforçar estereótipos de discriminação nas campanhas e ações de marketing e promover a inclusão”.
Episódio anterior
Não é a primeira vez que a Reserva gera polêmica. Em 2016, a etiqueta pendurou manequins pretos de ponta cabeça em uma loja localizada no Shopping Rio Sul, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. O caso repercutiu e os comentários apontavam que a instalação dos bonecos remetia a torturas que pessoas negras sofriam durante a escravidão.
Na época, a marca carioca divulgou uma nota oficial informando que os manequins pretos eram um padrão da grife e estavam presentes na filiais de todo o país. Segundo a Reserva, durante a liquidação, não apenas os bonecos, mas diversos itens e roupas foram pendurados de ponta cabeça para chamar atenção.
Contradição
Em novembro de 2020, ano em que empresas começaram a traçar mais estratégias antirracistas após a morte do norte-americano George Floyd, a Reserva substituiu o termo “Black Friday” (Sexta-Feira Preta, em tradução literal) por “Best Friday”. Em inglês, “best” pode ser traduzido como “melhor”.
A troca aconteceu porque, segundo a marca, a expressão poderia ser ofensiva “pela associação de preços baixos/produtos em promoção à palavra ‘negra’”. No mês em que é celebrado o Dia da Consciência Negra, a grife também divulgou uma matéria em seu blog com o título Vidas Negras Têm Que Importar Mais.
No texto, afirmava ser “necessário prestar atenção ao fosso racial que divide o país”. Vale destacar que, de acordo com o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 43% dos brasileiros se declaram como pardos e 7% como pretos.
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Colaborou Carina Benedetti