Relembre impactos que a pandemia causou na moda ao longo de 2020
Doações, eventos digitais, campanhas caseiras e investimento em tecnologia estão entre as ações necessárias durante a crise da Covid-19
atualizado
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Não há dúvidas: 2020 foi um ano histórico. Em uma pandemia sem precedentes, o novo coronavírus trouxe incertezas, dificuldades, preocupações e adaptações. Na moda, não foi diferente. Ao longo do ano, lojas fecharam, eventos foram cancelados, marcas se reinventaram e até as semanas de moda conheceram novas maneiras de sair do papel. Inevitavelmente, as consequências avassaladoras foram sentidas nas confecções e nas vendas.
Contudo, a tecnologia foi uma aliada na batalha, assim como a solidariedade e a empatia. No decorrer dos últimos meses, personalidades da indústria fashion e grifes de renome, como Armani, Valentino, Ralph Lauren, Pyer Moss e Versace, manifestaram-se em busca de conscientização e ajuda. Cuidaram da oferta de mantimentos a grupos vulneráveis, auxílio a tratamentos, e apoio a profissionais de saúde que atuam na linha de frente de cuidados.
A produção de equipamentos de proteção individual e álcool em gel, assim como as doações em prol de pesquisas para o combate da Covid-19, também foram essenciais. Entre as companhias que destinaram quantias significativas à causa, estão os conglomerados LVMH e Kering, que são os detentores das maiores grifes do mundo. Os grupos de luxo não mediram esforços. A corrente do bem envolveu nomes como Gucci, Saint Laurent, Bottega Veneta, Louis Vuitton e Dior.
Campanhas caseiras e intimistas
Assim que a pandemia foi decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), as marcas passaram a se questionar sobre novas formas de divulgar os próprios trabalhos. As campanhas caseiras foram uma solução prática, inovadora e extremamente interessante. Marcas como Zara e Amaro investiram na ideia.
Outro recurso a distância são os o aplicativos de chamadas de vídeo, como o FaceTime, o Zoom e o Skype. Na Jacquemus, por exemplo, Bella Hadid e Barbie Ferreira posaram a distância, sob direção do fotógrafo Pierre-Ange Carlotti.
Já Kendall Jenner estrelou uma ação tecnológica da Burberry, com fotos em casa. A campanha, que focou na coleção TB Summer Monogram, misturou cliques feitos pela própria modelo com realidade virtual. A equipe trabalhou a distância, passando orientações de ângulos, movimento e iluminação.
Na mesma vibe, a grife italiana Gucci convidou modelos parceiros para compartilharem momentos do dia a dia. A campanha, batizada de Gucci The Ritual, foi feita sem roteiro. Com direção de arte de Christopher Simmonds, a ideia foi deixar os modelos livres para usarem a imaginação.
Para completar o mood intimista, algumas etiquetas de luxo investiram em ações com seus próprios funcionários, em vez de modelos profissionais, artistas do show business ou influenciadores digitais. Para apresentar a coleção batizada de Epilogue (Epílogo), a Gucci convocou membros da própria equipe de design para serem os modelos do lookbook.
Para apresentar o trabalho de spring/summer 2021 pre-collection (ou resort 2021), a Burberry transformou colaboradores em estrelas. Na frente das próprias casas ou por ruas londrinas, profissionais de vários segmentos da marca posaram com peças da coleção. A ideia foi de Riccardo Tisci, diretor criativo da grife britânica.
Também há marcas que colocaram os próprios diretores criativos para estrelarem as fotos de catálogos. Foi o caso de Gabriela Hearst e Philipp Plein, para suas grifes homônimas.
Semanas de moda
Em meio ao distanciamento social, as semanas de moda precisaram se adaptar. Depois de cancelamentos e adiamentos de eventos, apresentações transmitidas on-line se tornaram uma mão na roda. Em junho, a primeira edição 100% virtual do London Fashion Week ofereceu uma plataforma com conteúdos referentes à cada marca, incluindo etiquetas emergentes que não participam do calendário oficial.
As experiências incluíram filmes curtos, exibições virtuais, lives e coleções apresentadas em diferentes formatos. Além disso, a programação foi unissex e não se prendeu a uma temporada específica. A estreia do Milão Fashion Week digital, em julho, também não deixou por menos. Os vídeos foram a principal estratégia adotada pelas labels para apresentarem novidades.
No início da pandemia, os eventos franceses destinados aos segmentos masculino e de alta-costura chegaram a ser cancelados. No entanto, posteriormente, a Federação de Alta-Costura e Moda decidiu investir no Whispers of Paris, primeira versão completamente digital do Paris Fashion Week, que aconteceu em julho.
A partir de setembro, as apresentações digitais continuaram uma realidade, apesar de algumas grifes terem gerado polêmica ao apostar em shows físicos. No principal circuito de fashion weeks, o phygital – junção de físico e digital – virou um marco.
A Semana de Moda de Nova York fez uma redução significativa, com uma programação de apenas três dias, dois dias a menos que o habitual. No evento, a maior parte dos desfiles foi on-line, centralizada na plataforma Runway360, criada pelo Conselho de Designers de Moda da América (CFDA, na sigla original. O London Fashion Week também seguiu digitalmente. As propostas englobaram formatos multimídia, misturando fotos, vídeos, e lives.
Expansão e apoio
No Brasil, apesar dos tempos difíceis, algumas empresas apostaram pesado na expansão. Além de investir no segmento de beleza e até em uma linha home, Amaro abriu o próprio e-commerce para outras marcas. Batizada de Amaro Collective, a iniciativa consiste em dar espaço e mais visibilidade a etiquetas brasileiras. Pantys, Framed, Allmost Vintage, Clemence, Zerezes, Linus e Haight estão entre as escolhidas.
“O projeto tem a finalidade de utilizar o alcance e a expertise de vendas on-line da empresa para apoiar outros empreendedores durante a Covid-19, além de oferecer uma experiência de compra ainda melhor para as clientes”, explicou a Amaro, em comunicado à imprensa.
Outro exemplo é a parceria entre os grupos Arezzo&Co e Reserva, anunciada em outubro. As duas companhias se juntaram para ser tornar um potente conglomerado fashion. Fruto da união, outra novidade é a AR&Co, uma vertente exclusiva de lifestyle. Anteriormente, em agosto, Alexandre Birman lançou o marketplace ZZ Mall, com intuito de reunir todas as marcas do grupo Arezzo&Co.
Além das marcas Arezzo, Schutz, Anacapri, Alexandre Birman, Fiever, Alme e Vans, o Arezzo & Co passou a contemplar as labels da Reserva, empresa carioca fundada por Rony Meisler e Fernando Sigal. São elas: a própria Reserva, Reserva Mini, Oficina Reserva, Reserva Go, Eva e Ink.
Tecidos antivirais
Um dos grades marcos de 2020 é a popularização dos tecidos antivirais. Para intensificar as medidas que inibem o contágio da Covid-19, algumas empresas têxteis e marcas estão engajadas na produção de tecidos que oferecem proteção a mais contra o novo coronavírus.
Entre as etiquetas que passaram a comercializar itens com a tecnologia, estão Oriba, Lupo, C&A e Riachuelo, além da plataforma de causas sociais BeCauz. Por aqui, o material mais usado é o fio de poliamida Amni® Virus-Bac OFF, criado no Brasil pela Rhodia. Ele combate a proliferação de vírus e bactérias.
A crise da Covid-19 trouxe mudanças relevantes para a indústria da moda. Algumas possivelmente ainda serão vistas por muito tempo, como o uso indispensável da máscara facial protetora. A tecnologia veio para ficar e a solidariedade sempre será indispensável. Vale enfatizar que a pandemia ainda não acabou e todo cuidado é pouco!
Colaborou Rebeca Ligabue