Relembre a vida glamourosa da elegante Carmem Mayrink Veiga
Respeitada no mundo da moda e amiga de personalidades, Carmem sempre dispensou apresentações. Conheça um pouco de sua história. Vem comigo!
atualizado
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Se fosse para juntar personalidade, autenticidade, estilo e elegância em uma só pessoa, o resultado seria Carmem Mayrink Veiga. Considerada uma das mulheres mais elegantes do Brasil pelas colunas sociais dos Estados Unidos, Carmem nasceu no dia 24 de abril de 1929, em Pirajuí, interior de São Paulo, e faleceu na tarde de domingo (3/12), aos 88 anos. A figura imponente, de cabelos alinhados e nariz ressaltado, deixou para trás uma história fascinante, que sintetiza o significado da palavra glamour.
Figura constante nos desfiles de alta-costura francesa, além de conhecida e respeitada internacionalmente no mundo da moda, Carmem sofria de paraparesia espástica tropical — doença que, há quatro anos, a colocou em uma cadeira de rodas, limitando seus movimentos. Segundo a família, ela morreu por circunstâncias da idade.
História
A elegância veio de berço. Apesar de ser de uma família nobre, seu pai, Enéias Solbiati, não era um magnata. Cônsul honorário da Itália e banqueiro no interior do estado, foi dele que Carmem puxou a personalidade carismática e o jeito autêntico. Já o charme e o bom gosto vieram da mãe, Maria de Lourdes de Lacerda Guimarães, neta do Barão de Arari e sobrinha-neta do Barão de Araras.
Com a mudança do casal para o Rio de Janeiro, vieram dois filhos: Antenor e Teresa Antônia. Depois disso, ela passou um longo período — mais de 20 anos — em Paris, vivendo em um luxuoso apartamento de frente para o rio Sena. Com o passar do tempo, conheceu personalidades hors concours do mundo das celebridades.
Seu marido jogava polo com o Príncipe Charles, fato que a fez conhecer a Princesa Diana e grande parte da família real. Carmem também sentou-se à mesa com Jacqueline Kennedy Onassis em um jantar para poucos convidados em Nova York.
Com o marido, foi considerada por Truman Capote, Diana Vreeland e Anna Wintour, na Vogue América, uma das “pessoas mais chiques da América do Sul”, e serviu de inspiração para artistas renomados. Foi pintada por Cândido Portinari, Andy Warhol e Di Cavalcanti, e fotografada por Mario Testino, Richard Avedon e Francesco Scavullo, que ficaram impressionados por sua beleza, segundo ela, jamais retocada.
“Nunca quis mexer em nada. Acho ótimo meu nariz. Desde os 16 anos, todo médico vem perguntar: ‘Você não quer fazer o nariz?’ Todas as minhas amigas fizeram. Quando o Mário Testino falou comigo pela primeira vez, ele disse: ‘Você é um deslumbramento, a primeira mulher que vejo no Brasil sem narizinho feito. Você tem uma superpersonalidade.’ Hoje, todos seguem o mesmo padrão. Qual o valor disso? Você vê na Rede Globo as atrizes e não consegue saber o nome, porque são todas iguais”, comentou ela, em uma entrevista para a Istoé, em 2011.
Em 1981, entrou no Hall da Fama da Vanity Fair, se consolidando como uma das 10 mais elegantes do jet set internacional. Além disso, é a única brasileira citada na biografia de Yves Saint Laurent, estilista pelo qual tinha verdadeira paixão, tendo colecionado mais de 60 terninhos dele. A maioria ficava ao lado dos mais de 400 vestidos de alta-costura que ela possuía no closet.
O glamour não para por aí. Autêntica e de personalidade ímpar, Carmem chamou atenção quando, após comparecer a uma premiação do Oscar, ao lado de Madonna, chegou para um jantar oferecido por Demi Moore e, devido ao tamanho de seu vestido, demorou 20 minutos para sair do carro.
Apesar de todo o reconhecimento da imprensa, Carmem não gostava de ser chamada de socialite, grã-fina ou de qualquer termo que a limitasse como pessoa. “Carmem é igual a Pelé ou Pitanguy. Não precisa pôr nada na frente. Minha imagem é muito popular”, disse, em uma entrevista para a Revista Manchete. Essa foi apenas uma das diversas declarações controversas dadas para os jornais. Certa vez, criticou a grife de Roberto Cavalli por “não ter uma peça de roupa para vestir em um almoço elegante.”
Insatisfeita em viver a vida apenas carimbando passaportes e aparecendo em colunas sociais, a jetsetter conquistou o título de mulher de negócios na década de 1990, quando dava palestras. Uma delas, sobre alta-costura, foi realizada em Brasília, em 1996, e atraiu 200 mulheres ansiosas por ouvir suas dicas e segredos. Nos eventos, ela desmitificava muitos estereótipos como, por exemplo, dizer que a mulher poderia, sim, repetir a roupa.
As brasileiras não são como as americanas ou as europeias, que conservam a roupa durante muitos anos. Não me importo em usar duas ou três vezes o mesmo vestido. Tudo meu é clássico, impecável e perfeito”, declarou ela.
Publicou “O ABC de Carmen”, em 1997, livro onde dava dicas de etiqueta e estilo. Nessa mesma época, teve uma edição da Vogue Brasil inteiramente dedicada a sua trajetória. O lançamento da revista foi celebrado com uma festa no salão do Copacabana Palace, totalmente decorado com 6.000 rosas.
Apesar de vivenciar experiências sonhadas por poucos, nunca pensou em escrever um livro sobre a própria jornada. “É preciso ter o que contar em uma biografia. Minha vida foi sempre maravilhosa e divertida. Mas eu não sou nenhuma Catarina, a Grande”, disse ela, certa vez, à Veja.
Os últimos anos da vida de Carmem foram marcados por uma crise financeira que a obrigou a se desfazer de vários itens pessoais. Apesar disso e da doença, ela manteve a compostura e sempre demonstrou que a elegância é o único e, muitas vezes, o melhor caminho.
Muita gente só me via como dondoca. Mostrei que a gente pode ser várias coisas ao mesmo tempo.
Carmem Mayrink Veiga
Carmen será sepultada nesta terça-feira (5/12), no Memorial do Carmo, no Rio de Janeiro. Ela deixa os filhos Antônia Frering e Antenor, além de cinco netos.