Relatório aponta dívida da indústria da moda com funcionários na pandemia
Pesquisa mostra que a diferença salarial no setor chega a somar US$ 5,8 bilhões
atualizado
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No início do ano, os reflexos da pandemia já começaram a atingir vários setores que fomentam a economia mundial, inclusive a industria fashion. Não demorou para as consequências chegarem aos funcionários das grandes confecções de moda, que não estão sendo remunerados ou chegaram a perder os empregos, sem direito a garantias trabalhistas. Com o objetivo de reunir e tornar esses dados públicos, o Clean Clothes Campaign (CCC) lançou, no último sábado (8/8), o relatório Un (der) paid in the pandemic.
Vem comigo saber mais detalhes!
A indústria da moda já passou por etapas devastadoras desde janeiro. A dificuldade da exportação de matérias-primas e suprimentos da China foi uma delas; assim como o fechamento de fábricas, falta de pagamento de fornecedores por parte de diferentes marcas e pedidos de cancelamento de produtos que já estavam sendo preparados.
Outro grande impacto foi a suspensão dos salários de colaboradores e trabalhadores demitidos sem aviso prévio. Para analisar de perto esses números, a rede global CCC desenvolveu uma pesquisa em parceria com a empresa americana Workers Rights Consortium (WRS), que monitora as condições de trabalho nas confecções do mundo todo.
O relatório analisou o setor fashion durante os meses de março, abril e maio. De acordo com a pesquisa, as regiões sul e sudeste da Ásia reduziram o salário dos funcionários em 38%. Em algumas partes da Índia, o corte chegou a ser de 50%.
A publicação estima que, durante os três meses desde o início do surto da Covid-19, os ajustes salariais chegaram a somar entre US$ 3,19 bilhões e US$ 5,79 bilhões. Para a análise, sete países foram monitorados: Bangladesh, Cambodja, Índia, Indonésia, Myanmar, Sri Lanka e Paquistão.
A estimativa é que a diferença salarial tenha atingido 13 milhões de trabalhadores. Para calcular o montante, as empresas analisaram o número médio de colaboradores por cada fábrica e estimaram quantos funcionários foram afetados. Os números foram estimados a partir de consulta às confecções locais e complementados com informações do governo.
Os cálculos da perda salarial são baseados no salário mínimo mensal de cada país estudado. No entanto, o documento diz que é importante observar que os trabalhadores ganham, em média, mais do que o salário mínimo de seu país. Portanto, a real quantia de pagamentos perdidos durante a pandemia em relação ao que os trabalhadores geralmente ganham é maior do que o que é representado no relatório.
“Como esses trabalhadores já viviam com salários de pobreza, eles não conseguiram economizar nada antes da pandemia. Os cortes salariais causados pela crise significam que os trabalhadores não conseguem alimentar suas famílias de maneira adequada, não podem pagar a escola de seus filhos ou pagar as despesas médicas. Muitos deles estão endividados. A maioria dos trabalhadores migrantes teve que retornar para suas aldeias e, agora, está se tornando ainda mais difícil para eles voltarem aos seus empregos e sobreviverem nas grandes cidades ”, alertou Khalid Mahmood, da Labour Education Foundation, em comunicado.
O que as marcas podem fazer?
As empresas que investiram no relatório reforçam a importância do pagamento dos salários e a implementação das garantias trabalhistas a todos os funcionários da indústria da moda. Segundo o estudo, se as labels começarem a cobrar mais das confecções, o setor pode implementar as garantias aos colaboradores.
“Estamos pedindo individualmente às marcas que assumam um compromisso público de evitar uma situação na qual todos na cadeia de suprimentos têm responsabilidade mas, na prática, ninguém assume. Somente se as marcas e os varejistas se comprometerem individual e publicamente com uma garantia de salário poderemos evitar o hábito tradicional de empurrar riscos e responsabilidades para outras pessoas na cadeia de abastecimento e garantir que os trabalhadores não fiquem cobrindo a lacuna”, explicou Christie Miedema, coordenadora da Clean Clothes Campaign.
Colaborou Sabrina Pessoa