Rede de luxo Neiman Marcus pede recuperação judicial nos Estados Unidos
Com quase US$ 5 bilhões em dívidas, a situação da icônica empresa de departamento de luxo se agravou com o fechamento de lojas
atualizado
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Após semanas de negociações, a rede de departamento de luxo Neiman Marcus pediu recuperação judicial nos Estados Unidos. A varejista acumula US$ 4,8 bilhões em dívidas e afundou ainda mais depois do fechamento das lojas por conta do novo coronavírus. Agora, a empresa chegou a um acordo de reestruturação que elimina US$ 4 bilhões dessa dívida e cede seu controle aos credores. O pedido de proteção contra falência foi feito na última quinta-feira (07/05).
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Os credores ofereceram um empréstimo de devedor em posse de US$ 675 milhões e mais R$ 750 milhões em financiamentos de saída. Dessa forma, a empresa manterá as atividades enquanto se reorganiza, evitando, assim, a liquidação. No processo, a companhia informa que deve a mais de 50 mil credores. Entre eles, etiquetas como Chanel, Gucci America, Dolce & Gabbana USA, La Mer, Christian Louboutin e Stuart Weitzman.
A previsão é de que o processo de proteção contra falência se estenda até o fim do outono, em meados de dezembro deste ano. Presidente e CEO, Geoffroy van Raemdonck disse que o grupo estava caminhando rumo a um “crescimento rentável e sustentável a longo prazo” antes da pandemia. Entretanto, os negócios foram pressionados pela interrupção das atividades das lojas.
O executivo acredita que o acordo com os credores oferecerá condições para a retomada dessa transformação. “Vamos surgir com uma empresa muito mais forte. Em um mundo que está mudando, estamos em uma posição única para oferecer a nossos parceiros acesso a nossos clientes leais de luxo como nenhuma outra empresa. Vamos entregar isso por meio da força de nossos relacionamentos associados e soluções digitais”, promete o empresário em comunicado.
Agora, o Neiman Marcus Group é a segunda grande varejista a recorrer ao Capítulo 11 do Código de Falências dos Estados Unidos após a crise da Covid-19. Recentemente, o J.Crew Group e a marca John Varvatos buscaram a mesma medida, que dispõe sobre a recuperação judicial para evitar a falência. Especialistas indicam que outras empresas, como a JC Penney, farão o mesmo nos próximos meses. Muitas delas, incluindo a NM, têm sofrido com a ascensão do comércio eletrônico.
Além do desafio de manter a relevância diante do crescimento do e-commerce, como informa o jornal Washington Post, o interesse dos consumidores também mudou. Lojas on-line como Target e Amazon modernizaram suas ofertas, atraindo uma clientela que passou a mesclar peças de alto valor com opções mais acessíveis, em vez de produtos de luxo da cabeça aos pés.
A dívida atual é resultado, principalmente, das compras alavancadas do grupo por empresas de private equity nos últimos 15 anos. Em 2005, a companhia foi comprada pela Warburg Pincus e a Texas Pacific Group, que a vendeu, em 2013, para a Ares Management e para o Canada Pension Plan Investment Board.
A NM foi uma das redes que perderam clientes na crise financeira de 2007 e 2008. Ao mesmo tempo, essas empresas continuaram tendo de pagar colaboradores e altos aluguéis. Para voltar a funcionar, muitas delas precisaram recorrer a fusões, empréstimos e liquidações.
Em março deste ano, com o avanço do coronavírus nos EUA, o Neiman Marcus Group precisou fechar suas 43 lojas e afastar mais de 14 mil empregados, algo que custou caro à empresa. Por causa disso, a NM não conseguiu conter as dívidas entre março e abril. Além da própria Neiman Marcus, o grupo é dono da Bergdorf Goodman e do e-commerce Mytheresa.
O coronavírus foi o estopim para uma crise que se arrastava há anos. O último relatório anual divulgado publicamente pela marca foi o encerrado em junho de 2018. Apesar de ter faturado uma receita de US$ 4,9 bilhões, os US$ 251 milhões de lucro foram consumidos por uma dívida de US$ 307 milhões.
Fundada em 1907 na cidade de Dallas, no Texas, a Neiman Marcus virou um símbolo do consumo de luxo nos Estados Unidos. Até o momento, a empresa não informou se pretende fechar uma quantidade de lojas permanentemente, como fará a J.Crew. O site continua funcionando normalmente, enquanto cerca de 10 estabelecimentos foram abertos para retirada de pedidos feitos on-line.
Colaborou Hebert Madeira