Racismo, machismo e plágio: documentário expõe a marca Abercrombie
A nova produção do streaming revela a ascensão e a queda de uma das principais marcas norte-americanas. O passado racista é um dos destaques
atualizado
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Referência do imaginário fashion da juventude norte-americana no fim dos anos 1990 e no início dos 2000, a Abercrombie & Fitch é tema de um novo documentário da Netflix. A produção estreou na plataforma de streaming e, desde então, está nas rodas de discussões da moda pelo conteúdo apresentado. A marca é acusada de ter um histórico com casos de racismo, machismo e plágios.
A que custo se constrói uma empresa? Essa é uma da principais perguntas que ditam os rumos do documentário Abercrombie & Fitch: Ascensão e Queda, da Netflix. Ao longo das quase uma hora e meia, são revelados os bastidores que a levaram de dominação das vitrines dos shoppings a queda por casos de racismo e descriminação.
A marca norte-americana foi fundada em 1892 e tinha como principal público a elite branca de Nova York que apostava em peças mais desportivas. Nomes como os presidentes Teddy Roosevelt e John F. Kennedy, a atriz Greta Garbo e o escritor Ernest Hemingway já utilizaram peças da A&F.
Mas foi entre os anos 1990 e 2010 que a Abercrombie viveu o seu auge. Com foco no público juvenil na fase escolar, a etiqueta apostou em estratégias que evidenciaram um modo próprio de ser e vestir. Uma das iniciativas foi contratar modelos com corpos dentro dos padrões de beleza.
A visão que a Abercrombie & Fitch adotou como plano foi evidenciada após a declaração do antigo presidente da marca, Mike Jeffries, na qual afirmou que “gente magra e bonita era bem-vinda nas lojas”. Ao longo da história, a marca foi questionada por práticas racistas e discriminatórias, como uma das perpetuadoras do fortalecimento da imagem da cisgeneridade branca masculina.
Dirigido por Alison Klayman, o documentário apresenta casos de racismo e assédio vividos por ex-funcionários da A&F. Entre os destaques da produção, estão relatos das exigências de que todos os modelos fossem caucasianos, tal como os vendedores de loja.
Também não era permitido usar rastas, e os homens não podiam ter colares de ouro. As poucas pessoas não brancas ocupavam cargos na reposição de armazéns ou em horários com menor circulação.
Racismo institucional
Após a estreia do documentário, o assunto ganhou as redes sociais. Vários novos relatos de pessoas que tiveram algum contato com a Abercrombie & Fitch surgiram. Um dos casos é o de Sheilla Mamona, que trabalhou aos 19 anos como funcionária da Hollister Co. (submarca da A&F).
Mamona é uma mulher negra que compartilhou a sua experiência por meio da revista Glamour UK. Segundo ela, durante os quatro anos em que foi contratada pela empresa, vivenciou o preconceito racial e o comportamento discriminatório da alta administração.
Em outra ocasião, a jornalista recorda que pessoas negras entraram na loja, e o gerente sênior preguntou se não era a família dela. “Fui maltratada pelos veteranos, tratada com condescendência, acusada de coisas que não fiz, e regularmente tinha a visão de ‘mulher negra furiosa’ jogado em mim sem qualquer base”, contou no artigo.
As práticas discriminatórias pela Abercromie & Fitch foram levadas para o âmbito legal, com diversos processos. Um dos mais relevantes foi quando a jovem Samantha Elauf, em 2008, entrou com uma ação contra a empresa após perder uma vaga como vendedora por usar um hijab.
Na época, a empresa disse que a peça ia contra “a política de aparência da marca”. Após o ocorrido, Samantha Elauf prestou queixa à Comissão de Oportunidades Iguais de Emprego. O caso levou anos até que a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu a favor da moça, na resposta que tal ato violava a lei de direitos civis.
Abercrombie Popular?
Ao longo dos anos, não faltaram iniciativas e grupos sociais que interrogaram as práticas da Abercrombie & Fitch. Com uma proposta questionadora, um perfil no Tumblr batizado de “Abercombrie Popular” convidou moradores em situação de rua para posarem com blusas da marca.
A iniciativa veio como resposta às declarações do antigo CEO da empresa, Mike Jeffries, ao afirmar: “Muita gente não serve em nossas roupas e não devem servir”. Nas redes sociais, a A&F disse que, atualmente, a marca não condiz mais com a realidade apresentada no documentário.
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Colaborou Luiz Maza