Quiet luxury: entenda a tendência que prioriza o luxo discreto
Associada ao cenário econômico atual, a trend engloba peças de grife sem logomania ou símbolos reconhecíveis como caros
atualizado
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Ligada a status social, uma roupa ou acessório estampado com logo de grife é facilmente reconhecível como um item caro. No entanto, peças mais discretas, sem cores marcantes, detalhes característicos ou símbolos aparentes, têm ganhado cada vez mais espaço na moda. Conhecida como quiet luxury (luxo silencioso, em tradução livre), a tendência demonstra que ostentar não está mais tão em alta — ao menos por enquanto.
Vem entender!
Logomania da Gucci e da Louis Vuitton, fivelas de ouro e estampas de medusa da Versace, prints florais caricatos da Dolce & Gabbana: essas são algumas características que dispensam explicação em relação ao poder aquisitivo de quem está usando. Basta bater o olho para entender que esse alguém pagou um valor alto pelo look.
Contudo, o quiet luxury prega justamente o contrário. A prática não exige apostar em outfits minimalistas ou baratos. Afinal, os preços de grifes continuam exorbitantes e acessíveis para um pequena parcela da população. Para os adeptos do luxo silencioso, o que vale é investir em produtos que não exalam o custo elevado.
São itens de “glamour suave”, com materiais têxteis nobres, como seda, organza, couro, linho e caxemira, preferencialmente em tons sóbrios. “Roupas da mais alta qualidade, mas também roupas que têm atemporalidade, são sofisticadas e discretas”, definiu Thomaï Serdari, diretor do programa de MBA de moda e luxo da Stern School of Business da NYU, ao Insider.
Armani, Loro Piana, Chloé, Celine e Hermès, por exemplo, são marcas conhecidas por oferecerem majoritariamente produtos que atendem ao luxo “silencioso”. A trend também é evidenciada pelo sucesso da série Succession, da plataforma HBO Max. Na produção, os personagens, que fazem parte de uma família da elite norte-americana, aparecem com visuais sóbrios e sutis.
A ascensão do luxo silencioso tem a ver, principalmente, com o cenário econômico mundial atual, que enfrenta consequências da pandemia de Covid-19, como a alta de desemprego. Em geral, mesmo quem não foi afetado financeiramente acaba tendo mais cautela em relação a looks chamativos e logotipos excessivos. A ideia é não exibir a riqueza escancaradamente.
Ao site Insider, Lorna Hall, diretora de inteligência de moda da empresa de previsão de tendências WGSN, apontou que esta não é a primeira vez que o luxo discreto domina a moda. Tornou-se uma grande tendência em 2008, em meio à Grande Recessão.
“Por mais insensível que a moda às vezes possa ser, ela ainda está profundamente sintonizada com a dinâmica social”, disse a especialista. “Quando grandes parcelas da população estão lutando para manter ou aquecer suas casas, ostentar padrões extremos de riqueza parece desconectado”, acrescentou Hall.
Além da questão econômica, a sustentabilidade e o consumo consciente são pautas relevantes da moda na última década, sobretudo entre as novas gerações. O crescimento do segmento de brechós e a busca por produtos mais duráveis são perceptíveis.
“As pessoas são atraídas para comprar bens de luxo que tenham longevidade”, disse Robert Burke, executivo-chefe de consultoria de varejo Robert Burke Associates, ao portal Business of Fashion. “A ideia de comprar moda descartável ou chamativa neste momento em particular não parece tão certa quanto há alguns anos.”
Durante a teleconferência de resultados do primeiro trimestre da companhia LVMH, no começo de abril, analistas perguntaram ao CFO, Jean-Jacques Guiony, se a tendência do quiet luxury poderia impactar as casas de luxo do grupo, como Louis Vuitton, Dior, Givenchy, Fendi e Loewe. Segundo o diretor financeiro, atualmente, a maioria dos consumidores ainda deseja produtos com logotipo.