Quem foi Issey Miyake, estilista japonês que morreu de câncer
O anúncio foi feito nesta terça-feira (9/8), mas o designer faleceu no dia 5, aos 84 anos. Na moda, ele mesclava artesanato e tecnologia
atualizado
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Conhecido como um designer revolucionário, Issey Miyake morreu, aos 84 anos, em 5 de agosto. A informação foi revelada pelo Grupo Issey Miyake, em comunicado, nesta terça-feira (9/8). Aos 84 anos, o estilista japonês foi vítima de um câncer no fígado.
Quem foi Issey Miyake
Nascido em Hiroshima, no Japão, Issey Miyake tinha 7 anos quando presenciou a bomba atômica lançada sobre a cidade, em 6 de agosto de 1945. O delicado episódio, que ainda envolveu a perda da mãe depois de três anos da exposição à radiação, virou um assunto evitado. Em raro relato, feito em 2009 ao New York Times, ele escreveu que não queria ser rotulado como “o designer que sobreviveu”. “Quando fecho os olhos, ainda vejo coisas que ninguém deveria experimentar”, disse à época.
Apesar do trauma, o japonês teve uma vida marcada por criatividade, com muitas cores e formas. Miyake cursou design gráfico na Tama Art University de Tóquio. Mudou-se para Paris em 1965. Determinado a fazer alta-costura, ele estudou na École de la Chambre Syndicale de la Couture Parisienne. Inserido na moda, na capital francesa, trabalhou para Guy Laroche e Hubert de Givenchy; e também com Geoffrey Beenee, em Nova York, nos Estados Unidos.
Em 1970, fundou o próprio ateliê de design, em Tóquio. Apesar do DNA artístico, Miyake declarava não produzir arte, mas sim, “coisas”. As criações iniciais já misturavam inspirações e características do Oriente e do Ocidente. Técnicas japonesas de bordado estavam no repertório.
Nos anos 1980, Issey Miyake desenvolveu uma técnica inovadora de plissado, que virou a assinatura da própria grife. Para criar o efeito, juntava os tecidos entre camadas de papel e os inseria em uma prensa térmica. O material se expande verticalmente com centenas de pequenas dobras. A inspiração partiu dos vestidos de seda desenvolvidos por Henriette Negrin e Mariano Fortuny, no começo de 1900.
Na mesma década, um marco na carreira veio da relação com o norte-americano Steve Jobs, uma espécie de cliente vitalício. Foi Miyake quem criou exclusivamente o suéter preto de gola alta usado como um “uniforme” pelo fundador da Apple.
Ao longo dos anos, os trabalhos da label seguiram mesclando o artesanato tradicional e tecnologias modernas. Em 2019, durante a temporada de primavera/verão 2020 do Paris Fashion Week, por exemplo, a marca deu o que falar. Com direção criativa de Satoshi Kondo, a etiqueta fez um show performático em que “drones” lançavam looks do teto para vestir as modelos na passarela. Anteriormente, quem estava no comando era Yoshiyuki Miyamae — desde 2011.
A empresa Miyake Design Studio e o Grupo Issey Miyake são lembrados não apenas pelos itens de vestuário e acessórios, mas também por perfumes marcantes. Atualmente, os projetos do estilista japonês, que se aposentou em 1997, são preservados em instituições como o Museu Victoria & Albert, de Londres, na Inglaterra; o Museu de Arte Moderna, de Nova York; e o Museu de Arte da Filadélfia, nos Estados Unidos.
A causa da morte de Issey Miyake foi um carcinoma hepatocelular. O breve comunicado do Grupo Issey Miyake destacou que ele estava “cercado por amigos e pessoas próximas” no momento do falecimento. Por desejo do próprio estilista, não haverá velório.
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Colaborou Rebeca Ligabue