Prada mostra todo o seu feminismo na coleção Primavera/Verão 2018
Tive a oportunidade de conhecer o showroom da nova coleção de Miuccia Prada e fiquei encantada com o que vi. Vem comigo!
atualizado
Compartilhar notícia
Fui a primeira cliente a ser convidada para conhecer o showroom da Prada em Milão. Na manhã de sábado (23/9), peguei um táxi até a Via Antonio Fogazzaro, 36 – local onde também aconteceu o desfile primavera/verão 2018 – e conversei com Tiago Melo, relações públicas da Prada no Brasil. Com ele, aprendi tudo sobre a nova coleção.
Miuccia Prada se inspirou nas tendências e nos acontecimentos dos anos 1980: a febre das histórias em quadrinhos (ou comics, como são conhecidas lá fora), o movimento New Wave e vários episódios que mudaram o contexto mundial e influenciaram toda uma geração.
Apesar de familiarizada com o tema, eu não estava preparada para o que iria encontrar. Na passarela onde o desfile tinha acabado de acontecer, me deparei com um enorme cenário que imitava uma plataforma de metrô totalmente ilustrada. Me senti personagem de uma história em quadrinhos.
Nos painéis enormes, os desenhos não se comunicavam entre si. Mais do que isso, não formavam uma história linear, mas, sim, várias cenas fragmentadas retratando mulheres nas mais diversas situações cotidianas.
Também senti a referência da geração New Wave no cenário e na trilha sonora. Quando entrei, era possível ouvir Sinéad O’Connor e saí ao som do Nirvana. Na época, o grunge era tão revolucionário quanto a moda de Miuccia Prada. A contracultura foi reforçada nos sapatos, bolsas, cintos e casacos com fivelas e muitos spikes (tachas) que, para contrabalancear, tinham laços em tecido de algodão.
Miuccia Prada sempre elege um movimento artístico como inspiração para as suas coleções e apresenta um desfile completamente diferente a cada temporada. A estilista enxerga a moda como aliada das mulheres na luta por espaço e direitos. Ela também acredita no movimento feminista através das roupas. Em suas peças, retrata assuntos fortes e importantes, usando artifícios extremamente leves.
Foi com esse intuito que Miuccia criou a coleção. Focada no empoderamento feminino, ela estudou as histórias em quadrinhos do último século. Por meio de ilustrações, retratou as mulheres como super-heroínas ousadas e donas de si. O resultado: uma linha incrível, divertida, revolucionária e jovem, sem perder a elegância da alfaiataria, que é tão característica da marca.
Vem comigo!
Parte da inspiração parece ter vindo dos quadrinhos de pop art de Roy Lichtenstein. Mas isso é apenas uma impressão. O verdadeiro estímulo foi a febre dos comics nos anos 1980. Na época, a moda era colorida, futurística e extravagante, e as mulheres conversavam com essa evolução. Passaram a ser donas de suas próprias vidas, mostravam que eram capazes e que tinham senso de humor e inteligência – além de usufruírem de mais força e liberdade.
Pensando nisso, Miuccia Prada – que sempre foi à frente de seu tempo quando se trata dos direitos das mulheres – foi atrás dos arquivos de Tarpé Mills, criadora da primeira super-heroína dos quadrinhos nos anos 1940, para elaborar a coleção. Além disso, elegeu oito artistas contemporâneas para colaborarem com a arte de suas peças: Brigid Elva, Joëlle Jones, Stellar Leuna, Giuliana Maldini, Natsume Ono, Emma Ríos, Trina Robbins e Fiona Staples.
“De acordo com Miuccia Prada, essa coleção não é só feminina, mas feita por mulheres para mulheres”, disse Tiago.
As peças contam com estampas de flores japonesas — referência aos mangás que são as histórias em quadrinhos japonesas — e animal print, além de ilustrações e tiras de quadrinhos representativos de uma mulher forte e comprometida, mas que não abre mão de ser também brincalhona.
Quando observamos os quadrinhos – tanto nos painéis quanto nas roupas – a mulher está sempre com uma atitude forte. Na passarela, as mangas sempre arregaçadas refletiam a energia daquela geração anos 1980, que colocava a mão na massa e transformava as peças do armário dos pais em looks para si, por exemplo, cortando um vestido longo para usá-lo sob uma calça. Não havia regras, a não ser ousar e fazer as coisas do jeito que se gosta.
Aqui, a mulher é forte e não precisa de nada nem ninguém para fazer o que bem entende. Ela é dona de si, da própria vida e de suas atitudes. Está pronta para qualquer situação, mas sem abrir mão da feminilidade.
“Quando falamos de uma mulher forte, a sociedade tende a dar uma conotação quase masculina. Miuccia tentou responder a esse pensamento na passarela. A coleção dá feminilidade ao tipo de vestuário que as pessoas acreditam pertencer aos homens” comentou Tiago.
A coleção inclui peças como blazers, sobretudos e, principalmente, camisas de popeline que se repetem em vários looks. No entanto, o toque de feminilidade, as camisas vêm sobrepostas por vestidos plissados ou bustiês com laços em jacquard.
Outros itens, também com uma proposta masculina, vinham acompanhados de slip dresses. Se a saia era grande, o top era leve e delicado. Casacos oversized e sapatênis combinados com shorts cintura alta davam o contraste entre o masculino e o feminino. A paleta de cores incluía vermelho, preto, azul -claro, verde, laranja e branco. As peças eram metálicas, em nylon, algodão, lã, seda ou couro, além de muito patchwork – que consiste na mistura de materiais.
Ainda com a pegada New Wave, estilo predominante nas ruas de Nova York e Londres nos 80´s, as meias, assim como a cintura, são um pouco mais altas. As peças com estampas de tigre, leopardo e poá também reforçam a tendência.
A princípio, a coleção era composta por vários vestidos brancos que, em seguida, foram definidos por desenhos de histórias em quadrinhos, animal print, tachas, botões e poá. “Temos uma técnica exclusiva da Prada, onde o printing é feito na roupa pronta. A estampa é adicionada à peça, e não ao tecido” conta Tiago. “Onde o print bate, ele fica. Onde ele não bate, permanece o tom original. O resultado é um produto sempre diferente do outro”, completou.
Uma das principais raízes da Prada é a arte e, desta vez, a estilista misturou décadas de movimentos políticos em suas peças e estampas. Ao mesmo tempo contemporânea e retrô, com uma pegada jovem, mas sem abrir mão da boa costura, Miuccia nos apresenta uma coleção divertida e nem um pouco óbvia. O seu protesto pelas mulheres era gritante e com referência à geração New Wave e às tiras em quadrinhos. Miuccia nos representou exatamente como somos: fortes, independentes e protagonistas de nossas próprias vidas.
Bravo, Prada!