Por que Stella McCartney é tão relevante para a moda
A estilista guia a indústria em direção a um futuro sustentável. Nas criações, a elegância e a ética andam juntas
atualizado
Compartilhar notícia
Há mais de duas décadas, Stella McCartney mostra ao mundo que não é apenas a filha do ex-Beatle Paul McCartney, e muito menos somente mais uma figura qualquer na indústria fashion. Ela é, na verdade, uma designer de moda que se destaca a cada criação, e se consolida como uma defensora incansável da sustentabilidade e da ética na área.
No desfile mais recente da marca homônima da britânica, apresentado durante o Paris Fashion Week, peças com materiais alternativos ao couro e ao pelo de animais, por exemplo, não poderiam faltar. Na web, a coleção de outono/inverno 2024/25 foi bastante comentada. A coluna traz uma retrospectiva da trajetória de Stella para ressaltar a criatividade e a relevância da estilista na indústria. Vem conferir!
Sobre Stella McCartney
Nascida em 13 de setembro de 1971, em Londres, na Inglaterra, Stella Nina McCartney não poderia ter escapado da influência artística dos pais — o famoso cantor Sir Paul McCartney e Linda McCartney, renomada fotógrafa e ativista dos direitos animais. Desde jovem, Stella manifestou amor pela moda. Aos 13 anos, fez a primeira peça de roupa: uma jaqueta.
Um tempo depois, aos 16 anos, a designer iniciou a própria jornada na indústria da moda com um estágio no escritório do estilista francês Christian Lacroix, considerado um dos mais respeitados em todo o mundo. Em continuidade ao gosto fashion, fez faculdade de design em uma das melhores universidades de arte e moda e design do globo, a Central Saint Martins, na capital britânica.
Com o pé direito no mundo fashion, o desfile de graduação de Stella, que ocorreu em 1995, teve uma trilha sonora assinada por ninguém menos que Paul McCartney, além das supermodelos Naomi Campbell e Kate Moss na passarela — um marco que nenhum outro aluno sonharia.
Mais tarde, com uma carreira consolidada, a designer revelou à BBC o que pensava sobre essas escolhas: “Relembro esse momento e me sinto um pouco envergonhada por ter sido tão ingênua. Elas eram minhas amigas. Kate estava até morando comigo por um tempo, e foi quando comecei a ter relações fora da faculdade, então quando chegou a hora de escolher as modelos para meu desfile de formatura, pensei: ‘Bem, acho que vou pedir para minhas amigas’. Entendo porque virou manchete e pode ter incomodado um pouco meus colegas estudantes, mas foi um momento bem britânico”.
Início da carreira
Dois anos depois de se formar, Stella McCartney, em 1997, tornou-se diretora criativa da Chloé, grife francesa na qual a designer, com Phoebe Philo como assistente, sucedeu Karl Lagerfeld, que, na época, não ficou nem um pouco satisfeito com a decisão. Para o estilista, a escolha da marca foi de um nome grande da música, não da moda.
No entanto, mesmo com a falta de uma recepção calorosa, as britânicas fizeram uma passagem significativa pela Chloé, que obteve um aumento significativo nas vendas, e retornou aos holofotes da moda internacional com as criações visionárias da dupla. Na marca, Stella permaneceu por quatro anos.
Compromisso com a sustentabilidade e parcerias inovadoras
Em 2001, Stella McCartney foi convidada pelo grupo Kering (antigo grupo Gucci) a lançar a própria marca. Após a decisão ousada de aceitar a oferta, a estilista estreou na Semana de Moda de Paris com uma coleção prêt-à-porter (pronta para vestir), e consolidou-se como uma designer talentosa e inovadora no meio.
Para além dos visuais impactantes, o diferencial da grife homônima é o compromisso inabalável com a sustentabilidade e a ética. Desde o início, Stella optou por não usar couro, peles ou materiais de origem animal nas próprias criações. Com essa escolha, a profissional, que segue os passos da mãe na prática vegana, redefiniu os padrões da indústria com o uso de materiais alternativos, como micélio de cogumelos e elastano 100% biodegradável, entre outros.
Ao longo dos anos, Stella McCartney estabeleceu parcerias inovadoras, incluindo colaborações com a Adidas, que resultou em linhas esportivas sustentáveis; e com a H&M, na qual introduziu ações sustentáveis na empresa de fast fashion (moda rápida, em tradução livre). Na collab com a C&A, e a estilista participou ativamente na escolha de todos os materiais usados na collab.
Em 2018, Stella se desvinculou do Kering e assumiu o controle total da etiqueta. Contudo, em 2019, vendeu parte da empresa para outro conglomerado de luxo, o LVMH. Essa união estratégica proporcionou impulso para consolidar a posição da diretora criativa como líder na alta moda sustentável.
Desfile no Paris Fashion Week
O último desfile da grife no Paris Fashion Week apresentou uma coleção que incorporou elementos clássicos da marca para a temporada de outono/inverno 2024/25. No repertório, estão a alfaiataria da Savile Row, reinterpretada em formatos quadrado e oversized, e o minimalismo sexy presente em peças com strass, fendas e decotes profundos. Peças com couro de cogumelo, cascas de cânhamo, tecidos à base de maçã e outras inovações marcaram a passarela da estilista.
Em sintonia com tendências recentes da moda, Stella McCartney explorou materiais com as mais diferentes texturas. Um trench coat alongado e uma saia midi com textura semelhante ao couro de crocodilo, por exemplo, chamaram atenção entre as criações, pois evidenciam a habilidade da designer em recriar o luxo com opções alternativas de materiais. Bordados, brilhos, paetês e aplicações substituíram estampas, o que criou um contraste entre rigidez, fluidez e volume.
A paleta de cores, predominantemente composta por bege, rosa nude, preto e branco, com toques de vermelho e azul, destacou-se pela simplicidade e elegância. Um toque de ousadia foi introduzido por meio de detalhes como franjas e cordas trançadas, inspiradas na icônica cadeira vermelha dos Irmãos Campana.
A história de Stella McCartney é um testemunho inspirador de uma designer que desafiou normas, enfrentou ceticismos e emergiu como uma personalidade relevante na moda sustentável. O legado da britânica vai para além das passarelas, e reflete um compromisso autêntico com a ética, a inovação e a consciência.
Enquanto enfrenta desafios e toma decisões que podem até não resultar em vendas de larga escala, Stella continua a pavimentar o caminho para uma moda que leva em consideração o mundo como um todo. Ela mostra que é possível prosperar enquanto permanece fiel a princípios fundamentais.