Por que o termo “tomara que caia” pode ser banido da moda?
Entenda o movimento que defende o fim de expressões consideradas sexistas e aproveite para ver como aderir ao estilo de peças sem alças
atualizado
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Com a expansão do feminismo e a conscientização da população mundial sobre diversos problemas estruturais, como o machismo, a moda também é impactada. Nesse contexto, algumas marcas e personalidades passaram a refletir sobre costumes obsoletos e lançaram um movimento pelo fim do uso de expressões consideradas sexistas. Uma delas é o “tomara que caia”, usado, durante décadas, para definir peças sem alças. Entenda por que o termo deve ser banido da indústria fashion e aproveite para conferir uma seleção inspiradora da coluna para aderir ao estilo.
Vem comigo!
Segundo Renata Soares, professora de Direito da Moda da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o termo “tomara que caia” surgiu em 1946, como uma variação de roupas íntimas, como os corpetes sem alças. “Rita Hayworth, atriz inesquecível de Hollywood, no filme Gilda, foi a primeira a usar um modelo ‘tomara que caia’ criado por Jean Louis”, destacou.
“A década de 1950 exaltava a perfeição feminina e o luxo e apostava nos tailleurs formais com luvas, para o dia; e nos tubinhos, para a noite”, completou a pesquisadora.
Neste ano, aproveitando o timing do Dia Internacional da Mulher, celebrado no último domingo (08/03), a Hering promoveu uma série de ações sobre empoderamento. A label anunciou que vai abolir a expressão de toda a sua comunicação. A ideia é levantar um debate e incentivar outras empresas e pessoas a fazerem o mesmo.
A marca lembrou que “tomara que caia” só é falado no Brasil. Em inglês, por exemplo, a palavra usada é strapless. Em italiano: senza spalline. Já em espanhol, é sin tirantes. “Se existe um presente que as mulheres merecem todo dia, é respeito”, comunicou pelo Instagram.
“A origem do termo é popular, e próxima do significado que os portugueses deram ao modelo ‘cai, cai’, por ser de fácil deslizamento pelo corpo”, explicou Renata Soares, em entrevista à coluna.
De acordo com Renata Soares, a linguagem tem origem, mas também adaptação. “Vivemos em um mundo de exaltação à igualdade, com razão. A troca do nome por ‘blusa de alça’ pode ser uma campanha para conscientização de comportamento, direitos, luta por uma causa. Acho válido”, afirmou a especialista.
Contudo, para ela, tudo depende do contexto da utilização da expressão. “Já dizia Iris Apfel, ícone da moda aos mais de 90 anos, que as ações são mais eloquentes dos que as palavras”, parafraseou Renata Soares.
“Se, por exemplo, tal modelo fosse usado em um enredo discriminatório ou sexista, deveria sim ser banido. Caso contrário, para descrever um modelo criado por um estilista e sua tradição no mundo da moda, talvez não”, analisou a professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Além de organizar talks com líderes femininas e profissionais da moda sobre o assunto, a Hering lançou um modelo limitado de blusa sem alça. O lucro com o produto, disponível no e-commerce da etiqueta, será revertido para a ONG Bem Querer Mulher, que combate a violência contra a mulher e é apoiada pela ONU Mulheres.
Nas redes sociais, o tema rendeu. Alguns internautas acusaram a Hering de querer fazer marketing com a causa feminista. Outros insistiram na ideia ultrapassada de que não há nada de errado em falar “tomara que caia”.
No entanto, muitos usuários elogiaram a iniciativa. “Aos poucos, a gente muda uma sociedade. Um passo de cada vez”, comentou uma follower no Instagram, por exemplo.
“Inacreditável que tem alguém reclamando de uma atitude positiva e com intuito de incentivar a sociedade a ver o corpo feminino de outra maneira e não de uma maneira sexual, tomara que minha blusa NÃO CAIA nessa sociedade machista, bye. Obrigada, Hering”, disse outra seguidora.
É importante lembrar que não se trata de parar de vestir peças sem alças. Blusas, vestidos, tops e croppeds aparecem com a estética. Os itens são interessantes e podem compor diferentes looks. Inspire-se!
Passarelas
Nas passarelas, os modelitos sem alça têm presença garantida. Na última temporada de desfiles, de outono/inverno 2020, marcas como Giambattista Valli, Christian Siriano, Moschino e Elie Saab investiram em diferentes versões do hit.
Na alta-costura, o setor mais luxuoso da moda, o visual também costuma aparecer. Chanel e Jean Paul Gaultier são exemplos de grifes que sempre aderem.
Celebridades
É claro que as roupas sem alças não poderiam faltar no guarda-roupa de várias famosas. Em passeios informais, eventos rebuscados e, principalmente, em tapetes vermelhos de premiações, os outfits sempre dão o que falar.
As Kardashian-Jenner não pensam duas vezes antes de aparecerem em eventos com vestidos strapless e silhueta marcada. Na lista de quem também dispensa as alças em várias ocasiões, estão Nicole Kidman, Charlize Theron, Zoë Kravitz, Kate Moss, Lady Gaga e Billy Porter.
Street style
O street style em diferentes países também é ótima vitrine para se inspirar. Pelas ruas, as fashionistas surgem com composições variadas.
É possível perceber que o strapless é ótimo aliado de quem quer deixar o colo em evidência, mas também há quem prefira jogar um blazer ou casaco por cima, ou até usar a própria peça sem alça como sobreposição.
A Coluna Ilca Maria Estevão aproveita o momento para informar que também deixará de usar o termo. A cada dia, nossa intenção de melhorar e contribuir para uma realidade igualitária, justa e harmônica aumenta. A sociedade passa por constantes mudanças significativas e os aprendizados serão sempre bem-vindos.
Colaborou Rebeca Ligabue