Por que a marca chinesa Shein é o novo fenômeno do fast fashion
A label é uma das mais bombadas do TikTok, e tem o Brasil como um dos seus principais mercados. O baixo preço é o principal atrativo
atualizado
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A marca chinesa Shein virou uma gigante da moda. Apesar de ter sido fundada ainda na década passada, foi com a atual geração de adolescentes e novos adultos que viu potencial para crescer ainda mais. A variedade inigualável e a velocidade com que traduz tendências são grandes atrativos para os consumidores, além, claro, do baixo custo das peças em comparação com outros nomes do setor.
Vem entender!
A Shein nasceu ainda em 2008, mas tinha como foco o mercado de noivas. Em 2012, porém, expandiu com o objetivo de passar a oferecer peças tendências em tempo recorde. Segundo a própria marca, o que motiva é a filosofia de que “todos podem desfrutar da beleza da moda”.
Como outras empresas chinesas, a Shein se expandiu pelo globo, mas com uma força provavelmente nunca antes vista. Atualmente, envia peças para 150 países diferentes e tem os continentes europeu e americano (incluindo América do Sul e do Norte) como os principais consumidores.
Graças às redes sociais, em especial ao Instagram e ao TikTok, a Shein passou a ser a loja preferida das novas gerações. O baixo custo das peças, até se comparado aos de outras marcas de fast fashion, como Zara, C&A e Renner, é o principal atrativo. A variedade de peças e, principalmente, de itens que estão bombando é outro chamariz.
Legião de fãs
É fato que a Shein conquistou uma legião de fãs. É o caso da brasiliense Izabella Bastos, de 25 anos, aeroviária, que conheceu a marca por meio das amigas. No primeiro momento, a jovem ficou receosa com a possibilidade de taxação das peças, mas resolveu experimentar e pedir, no primeiro momento, acessórios com preços menores.
Depois da primeira compra, Izabella virou fã de carteirinha da Shein. “Eu fiquei bastante empolgada porque gostei do tecido, da qualidade dos produtos em si, e da organização, de como as peças vêm bem embaladas”, conta. Além disso, destacou a agilidade da marca que, segundo ela, entrega rápido em comparação com outro gigante chinês, o AliExpress.
Já o goiano Caio Henrique Bernardo, funcionário público de 29 anos, destacou outros pontos em relação à Shein. “Você consegue ter uma variedade maior de produtos e comprar peças diferentes que não vendem no Brasil ou que, quando vendem, são por preços muito mais caros”, afirma à coluna.
Caio destacou que, por ser alto e magro, não teria dificuldade de encontrar peças em outras empresas, mas que percebe um movimento de pessoas com corpos fora do “padrão” que encontram na Shein itens que servem. “Na Shein, você consegue roupas diferentes em tamanhos diferentes. Tem uma produção maior para todos os corpos, tanto estilos quanto tamanho. A variedade é bem maior que em lojas brasileiras, como C&A e Riachuelo”, comenta.
A cultura (e os dados) Shein
A relação de Izabella e de Caio com a Shein prova a habilidade da marca de fidelizar os clientes. Os consumidores acabam virando uma comunidade que engaja nos comentários dos produtos, a fim de falar mais sobre a peça adquirida e ajudar os próximos compradores a escolherem tamanhos e até a prosseguir ou não com a compra.
Como as fotos e as descrições das peças no e-commerce não são das melhores, essa cultura dos clientes acaba sendo essencial para tornar a experiência do usuário melhor. Segundo a professora Marília Carvalhinha, coordenadora do curso de fashion business da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), os sites das marcas brasileiras dão um banho na Shein, mas a chinesa sai à frente pela grande oferta de produtos e pelos preços.
Apesar de o site da Shein não ser dos melhores, o trabalho com os dados dos clientes é superior ao de outras empresas. “Essa experiência, aliada com o fato deles estarem baseados na China e produzirem com rapidez, permite com que apostem em peças diferentes diariamente e não em coleções”, explica à coluna Marília Carvalhinha.
Por meio dos dados, a empresa consegue entender exatamente o que está bombando e o que os clientes estão buscando e, rapidamente, produzir o que precisa. Por vender para praticamente todos os países do mundo, pode apostar em peças diferentes e em tendências, sem medo de que algo com plumas, por exemplo, não venda. É a estratégia oposta de marcas locais e menores, por exemplo.
O lado “obscuro”
No outro espectro, há os críticos ao modelo da Shein. Muitos não aprovam o modo de negócios focado na produção desenfreada e com preços baixos. Foi a crítica do portal brasileiro FFW, por exemplo. No texto, fizeram questão de frisar que “se o consumidor não está pagando o preço real de uma roupa, é porque alguém, em outro lugar – possivelmente do outro lado do mundo – está”.
Rener Oliveira, jornalista de moda e redator-chefe do portal Nordestesse, fez um contraponto a esta opinião em suas redes sociais. Para o potiguar, esse tipo de crítica sempre recai sobre as marcas de fast fashion e ignora os nomes da moda de luxo.
Ele foi além e reforçou que é importante pensar no panorama geral do Brasil e no poder de compra da massa dos brasileiros. “Com o salário mínimo no valor simbólico de R$ 1.212, apontar sobre as práticas de consumo de uma sociedade totalmente desaplaudida pelo governo é querer elitizar a vestimenta essencial para a grande parte da população que não enxerga as roupas como investimento, e sim como necessidade básica para atividades cotidianas”, escreveu Rener.
A professora Marília Carvalhinha também reforçou essa visão na conversa com a coluna: falta transparência não só por parte da Shein, mas de toda a indústria da moda. Marcas como a Zara e a Nike, que já tiveram denúncias de trabalho análogo à escravidão, são mais cobradas, mas é preciso que toda a cadeia deixe mais claro como produz e como distribui.
“No fim, uma parte da discussão envolve muito mais a conscientização e a avaliação individual sobre o consumo e o uso”, afirmou Marília. Para ela, não dá para negar o acesso da maioria das pessoas à moda, pregando que só marcas de luxo são sustentáveis ou corretas.
A professora de fashion business defende que a moda é uma maneira muito importante de expressão pessoal. “É empoderamento e não dá para negar isso. É preciso democratizar, permitir mais acesso”, finaliza Marília Carvalhinha.
Se a francesa Hermès tem como estratégia a exclusividade ao extremo e se propõe até a negar peças a possíveis clientes para continuar em prol de um grupo seleto, a Shein é o completo oposto. Para a label chinesa, entre controvérsias, o que vale é “mais roupa para mais pessoas”.
Colaborou Carina Benedetti