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Pioneira do punk: quem foi a estilista e ativista Vivienne Westwood

Engajada em pautas políticas e ambientais, a designer britânica morreu, nessa quinta-feira (29/12), aos 81 anos

atualizado

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Jeff Spicer/Getty Images
Estilista Vivienne Westwood. Na imagem, durante desfile, ela acena ao público - Metrópoles
1 de 1 Estilista Vivienne Westwood. Na imagem, durante desfile, ela acena ao público - Metrópoles - Foto: Jeff Spicer/Getty Images

A estilista Vivienne Westwood morreu, nesta quinta-feira (29/12), aos 81 anos. Com “alma rebelde”, ela tinha valores inabaláveis, ideologia anticapitalista e senso estético avassalador. Não se rendeu ao sistema. Um dos principais nomes da moda mundial, a britânica seguia no comando da marca homônima independente ao lado do marido, o diretor criativo Andreas Kronthaler. Engajada em pautas sociopolíticas e ambientais, a designer e ativista deixou um revolucionário legado.

 

Estilista Vivienne Westwood - Metrópoles
Vivienne Westwood (1941-2022)

 

A causa da morte não foi divulgada. Em um comunicado, a grife anunciou que Vivienne Westwood faleceu “em paz e cercada por sua família” em Clapham, no sul de Londres, na Inglaterra.

“Vivienne continuou a fazer as coisas que amava até o último momento, projetando, trabalhando em sua arte, escrevendo seu livro e mudando o mundo para melhor. Ela levou uma vida incrível. Sua inovação e impacto nos últimos 60 anos foram imensos e continuarão no futuro”, assegurou a nota.

Após o anúncio, o marido e parceiro criativo de Westwood, Andreas Kronthaler, disse que seguirá na marca. “Continuarei com Vivienne em meu coração”, declarou. “Trabalhamos até o fim, e ela me deixou muitas coisas para fazer.”

 

Vivienne Westwood: a trajetória

Vivienne Isabel Swire nasceu em 1941 no condado de Derbyshire, na Inglaterra. Trabalhou em fábricas e também como professora primária. Depois, abriu a loja de roupas Let It Rock, na King’s Road, em Londres, em parceria com o então marido Malcolm McLaren.

Fundado no começo dos anos 1970, o espaço foi renomeado como Sex. No local, os clientes encontravam adereços que mesclavam moda, sexualidade e quebra de padrões de gênero. Foi lá que surgiu o visual da banda Sex Pistols, que marcou gerações.

Ao longo dos anos, as criações de Westwood foram usadas por vários famosos, com diferentes estilos, idades e personalidades, como a modelo Dita Von Teese, a atriz Angelina Jolie, a cantora Adele e a princesa Eugenie. Entre as novas gerações, a label da designer também faz sucesso: a lista de adeptos dos looks inclui as cantoras Dua Lipa, Olivia Rodrigo e Tove Lo, a modelo Georgia May Jagger, o cantor Harry Styles, e as atrizes Zendaya e Elle Fanning.

Questionadora e inquieta, Vivienne respeitava a monarquia britânica, mas sem uma essência submissa. Recebeu, inclusive, o título de Dama do Império Britânico, concedido pela rainha Elizabeth II pelos serviços prestados ao cenário fashion.

No Brasil, Vivienne chegou ao imaginário de fashionistas e da população geral. Fez colaborações com a label nacional de calçados Melissa. A parceria, que durou cerca de 10 anos, tornou as peças desenvolvidas pela inglesa mais acessíveis para o público brasileiro.

Na foto em preto e branco, Vivienne Westwood em 1977 - Metrópoles
Vivienne Westwood, em Londres, na Inglaterra, em 1977

 

Malcolm McLaren e Vivienne Westwood - Metrópoles
Malcolm McLaren era empresário e produtor da banda Sex Pistols. Vivienne Westwood criou o visual dos integrantes do grupo

 

Dua Lipa no tapete vermelho de premiação, usando look by Vivienne Westwood - Metrópoles
A estética da marca criada por Vivienne Westwood conquistou celebridades de diferentes gerações e estilos

 

Vivienne Westwood x Melissa - Metrópoles
Vivienne Westwood colaborou com a marca brasileira Melissa em diferentes edições de calçados

 

Pioneira da moda punk

Na década setentista, houve o boom dos movimentos de contracultura, que estavam em ascensão desde os anos 1960. A individualidade virou uma prioridade, acima da massificação, como explica o pesquisador e professor de moda e filosofia Brunno Almeida Maia, em entrevista à coluna.

“Nos anos 1970, a moda vivia um período de declínio da alta-costura e entrada do prêt-à-porter, que permitiu acessibilidade aos bens de consumo de moda. Os estilistas e criadores começaram a olhar para as ruas, que passaram a ditar as tendências, os gostos, os modos”, contextualiza o especialista.

Foi então que Vivienne Westwood se tornou a pioneira na moda punk, ao materializar a rebeldia com causa. Ficou conhecida pelo DNA criativo disruptivo, destemido, ousado e inconfundível.

A estilista traduziu, a partir da vestimenta, os anseios, as causas e as críticas do movimento underground. “Com sensibilidade, Vivienne Westwood soube captar aquele espírito do tempo e criar uma linguagem estética de moda para o punk”, define Brunno Almeida Maia.

“O movimento era estético, político e ético. Surgiu nas periferias de Londres, por meio de jovens filhos de operários que realizavam críticas ao sistema burguês e ao modo de produção capitalista”, explica. “No vestir, o punk tinha a cultura da subversão da linguagem estética, por meio de algumas técnicas, como o ‘faça você mesmo’ [do it yourself], o upcycling, que consiste na recriação a partir de uma peça já usada, e os brechós, além do questionamento do que é belo.”

Com as obras, Westwood provocava estranhamento, mas também reflexões. Estampas com críticas ao capitalismo foram levadas com naturalidade para fashion weeks, por exemplo. A designer eternizou jaquetas pretas de couro, spikes, alfinetes, xadrez e itens rasgados.

Sex Pistols e Vivienne Westwood - Metrópoles
Vivienne Westwood foi pioneira na moda punk. Na imagem, Sid Vicious, integrante do grupo Sex Pistols, ao lado da estilista

 

Moda punk - Metrópoles
Bondage (do sadomasoquismo), itens rasgados e xadrez ficaram eternizados na estética dela

 

Moda punk - Metrópoles
Transgressora e disruptiva, Vivienne Westwood questionava as noções de burguesia e até a realeza britânica

 

Rebelde com causa 

A designer fundou a etiqueta homônima em 1981. Lembrada por criações genderless e camisetas com mensagens, Vivienne Westwood também se considerava uma ativista política.

Entre os anos 1990 e 2000, ficou cada vez mais ligada a questões ambientais. Falava para os próprios clientes consumirem menos e lutava contra as mudanças climáticas, inclusive com protestos dentro e fora dos desfiles. Direitos humanos, liberdade de expressão e feminismo também estavam entre as pautas priorizadas pela britânica.

Em 2020, um episódio marcante foi a manifestação em prol da libertação do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, preso na capital britânica. Em uma gaiola e com um megafone na mão, a estilista se posicionou contra a extradição do australiano para os Estados Unidos, onde enfrenta acusações sob a Lei de Espionagem.

Em meio à pandemia de Covid-19, Vivienne Westwood se tornou uma forte defensora do distanciamento social e da ciência. Em meio ao isolamento necessário, a britânica adaptou os processos da própria etiqueta. Foi estrela de campanhas caseiras, sem perder a esperança e a diversão.

Andreas Kronthaler e Vivienne Westwood na passarela - Metrópoles
Vivienne Westwood fundou a própria marca em 1981. Nos últimos anos de vida, comandou a empresa ao lado do marido, o diretor criativo Andreas Kronthaler

 

Vivienne Westwood protestando - Metrópoles
Além de estilista, Vivienne Westwood era ativista política e ambiental

 

Naomi Campbell e Vivienne Westwood - Metrópoles
A designer britânica usava a moda como expressão artística e instrumento de transformação

 

Vivienne Westwood na passarela - Metrópoles
“Buy less, dress up” (Compre menos, fantasie-se) foi uma das mensagens pregadas por Vivienne Westwood

 

Vivienne Westwood com tecido de tule
Em meio ao distanciamento social durante a pandemia, a estilista foi modelo da própria marca

 

Vivienne Westwood usava a moda como um meio de criação individual e artística, mas também um instrumento de transformação coletiva. A britânica abriu caminho para mais consciência e ética em um segmento tradicional, elitista e conservador.

“Se hoje temos na passarela uma presença e uma discussão muito clara e crítica sobre questões de identidades, papéis e expressões de gênero, assim como pluralidade dos corpos, economia circular e noções de beleza sendo ressignificadas, isso tudo se deve a Vivienne Westwood e também àqueles que redimensionaram o seu legado posteriormente”, aponta o pesquisador Brunno Almeida Maia.

“A influência de Vivienne pode ser percebida a partir da moda com o olhar voltado para as ruas, do questionamento das normas e de padrões da burguesia capitalista, bem como da questão da individualidade, mostrando que a moda não é apenas sobre roupas, mas sobre pessoas. Por meio da ‘agressão’ crítica e radical, ela levava a ação política para as passarelas”, enfatiza.

Os rastros de Vivienne Westwood na moda são amplos e nem sempre óbvios. Para exemplificar, o especialista cita a exposição Punk: Chaos to Couture, realizada no Metropolitan Museum of Art (Museu Metropolitano de Arte), em Nova York, nos Estados Unidos, em 2013.

“Mesmo criadores como Gianni Versace, Jean Paul Gaultier, Stefano Gabbana e Domenico Dolce, que fizeram ou ainda fazem uma moda voltada para uma elite burguesa e muitas vezes representam a mulher por meio de lugares comuns, como a sensualidade e a sedução, carregam elementos estéticos do movimento punk”, conclui Brunno Almeida Maia.

 

Luto na moda 

Após a notícia da morte de Vivienne Westwood, fãs e admiradores prestaram homenagens, principalmente em lojas da estilista na Inglaterra. Flores e mensagens de condolências foram deixadas nos tributos.

Nas redes sociais, celebridades também se manifestaram para celebrar a trajetória da designer britânica. A modelo Naomi Campbell, por exemplo, fez um emocionante texto para agradecer a generosidade e a amizade de Westwood, a quem descreveu como uma rainha.

“Você era uma força da natureza que sempre me encorajou a seguir em frente e não desistir das coisas pelas quais eu era apaixonada fora da modelagem. Sua honestidade deve ser valorizada; quer gostássemos de ouvir ou não, você falou sua verdade, real e autêntica”, reverenciou a top model.

O estilista italiano Alessandro Michele postou uma foto da colega e escreveu: “Por favor, ensine o céu a curtir.” A estilista inglesa Victoria Beckham também se compadeceu. “Meus pensamentos estão com a família dela neste momento extremamente triste”, disse.

O cantor Billy Idol, reconhecido na cena musical punk londrina, tuitou sobre o falecimento da ídola. “RIP [rest in peace (descanse em paz)], vou demorar um pouco para assimilar isso…”.

Homenagem após a morte da estilista Vivienne Westwood - Metrópoles
Fãs e admiradores prestaram homenagens

 

Homenagem após a morte da estilista Vivienne Westwood - Metrópoles
Tributo em loja da estilista Vivienne Westwood na Conduit Street, em Mayfair (Londres, na Inglaterra)

 

Homenagem após a morte da estilista Vivienne Westwood - Metrópoles
A estilista britânica deixou um legado revolucionário

 

Westwood era adepta do taoísmo, religião de filosofia chinesa. “Nunca houve tanta necessidade do Tao como hoje. Tao lhe dá a sensação de que você pertence ao cosmos e dá propósito à sua vida; dá a você um senso de identidade e força para saber que está vivendo a vida que pode viver e, portanto, deveria viver: faça pleno uso de seu caráter e de sua vida na Terra”, escreveu a estilista.

Obrigada, Vivienne!

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