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Pele falsa protege os animais, mas prejudica o meio ambiente

As alternativas sintéticas se tornam poluentes se não forem descartadas corretamente

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Street Style – Day 2 – New York Fashion Week: Women’s Fall/Winter 2016
1 de 1 Street Style – Day 2 – New York Fashion Week: Women’s Fall/Winter 2016 - Foto: Getty Images

Usar casaco de pele é uma das grandes gafes na moda e, desde as últimas temporadas, grandes marcas de luxo se juntaram ao movimento faux fur, ou fake fur (pele falsa, em tradução livre). A ideia consiste em abandonar o uso de pele animal nas coleções. O anúncio mais recente do fim da prática foi feito por Jean-Paul Gaultier, durante entrevista a uma emissora francesa. Em 2006, a grife chegou a sofrer intervenções de ativistas da organização PETA (People for Ethical Treatment of Animals).

Recentemente, Diante von Furstenberg e Coach também entraram para o time. Burberry, Ralph Lauren, Gucci e Versace já contribuem com o movimento há algum tempo.

Por um lado, a notícia é boa, pois poupa a vida animal. Mas, a pele falsa pode não ser a resposta mais sustentável. O material sintético é feito de derivados do plástico, que leva centenas de anos para se decompor. Associações internacionais pró-pele entraram em embates com a PETA com esse argumento, alegando que a matéria-prima animal é biodegradável.

Vem comigo!

Os fios sintéticos da pele falsa são fibras que levam compostos plásticos. Para fazer o teste, basta usar fogo: os pelos de origem animal queimam, enquanto os falsos derretem. Segundo a professora do curso de moda no Centro Universitário IESB, Rafaella Lacerda, especialista em têxtil, o fake fur não minimiza o impacto na natureza, dependendo do tipo de material.

As imitações de origem química [de pele e couro] são obtidas por meio de polímeros químicos providos do petróleo e do carvão. São os famosos poliéster, poliuretano, polipropileno e a lã acrílica. Esses tecidos, em seu ciclo de vida, e conforme são lavados, vão liberando microplásticos nas nossas águas e solos”, explica a educadora.

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Os fios da pele falsa levam plástico na composição

 

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Os fios de origem animal queimam, enquanto os sintéticos derretem

 

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Em fevereiro deste ano, ativistas protestaram do lado de fora de um desfile da Burberry pelo fim do uso de pele

 

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A grife anunciou recentemente que aderiu ao faux fur

 

O couro também é prejudicial tanto à natureza quanto às pessoas. “A indústria do couro é uma das mais poluentes do mundo. Muitos gastos com água, desperdício de couro na extração e produtos nocivos ao planeta para amaciá-lo. Além de toda a mão de obra explorada em países subdesenvolvidos na Ásia. Pessoas ficam doentes por conta do contato diário com bromo e químicos similares”, alerta a professora.

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As imitações sintéticas soltam microplásticos à medida que são utilizadas

 

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Restos de couro que vão para o lixo

 

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A indústria do couro é uma das mais poluentes, segundo a especialista

 

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Jaqueta com desgaste

 

Alternativas
Vale destacar: o chamado “couro ecológico” é de origem animal, assim como o convencional, mas gasta menos água e leva produtos mais leves no processo de curtimento. A Lei nº 4.888/65 proíbe o uso da palavra “couro” em artigos que não venham de origem animal.

No entanto, já existem imitações de origem vegetal para se manter aquecido de forma eco-friendly. Uma opção comercial e mais viável é o Piñatex, produzido com fibras de folhas de abacaxi por meio dos processos de tecelagem e fusão. É um dos chamados TNT, ou “tecido-não-tecido”.

Além desse, até testes de bioplásticos com cogumelos (Muskin), vinho (Vegea), água de coco e bactérias estão sendo estudados. Fibras biodegradáveis, como as de algodão, podem ser compostadas.

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Produção do Piñatex, alternativa vegetal que se assemelha ao couro

 

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O Piñatex é feito com fibras de folhas de abacaxi

 

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Textura do Piñatex

 

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Bolsa feita com Piñatex

 

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Sapato de Piñatex

 

Reprodução/Muskin
Muskin, imitação de couro à base de cogumelos

 

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O arquiteto italiano Gianpiero Tessitori desenvolveu uma imitação de couro por meio do bagaço da uva na produção de vinho

 

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O resultado do projeto, que se chama Vegea, é bem similar ao couro animal

 

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O produto foi desenvolvido em 2014 e rendeu o prêmio Global Change Award em 2017

 

Reprodução/Orange Fiber
Na iniciativa Orange Fiber, cascas de laranja se transformam em tecidos sustentáveis

 

Plásticos
De acordo com o professor Marcelo Moreira Santos, do Instituto de Química da Universidade de Brasília (UnB), o plástico é considerado nocivo para o meio ambiente porque demora muito para se decompor. Especialista em degradação e estabilização de compostos, ele alerta: “Qualquer material plástico que perde a vida útil deve ser reciclado e nunca descartado diretamente”.

Segundo ele, o plástico ganha forma por meio de compostos químicos organizados em cadeias longas, os chamados polímeros. Compostos como polietileno (PE), ou propileno e polipropileno (PP), podem “sobreviver” 450 anos na natureza. O problema em torno disso é o tempo que o material leva para se desintegrar em pedaços menores, gerando acúmulo. Dessa forma, o solo não respira e os rios e mares se enchem desses resíduos.

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Tecidos sintéticos podem levar centenas de anos para se decompor

 

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Materiais derivados do plástico demoram e geram acúmulo

 

O mar é um dos maiores afetados pelo plástico na natureza. Partículas minúsculas como o glitter, chamadas microplásticos, absorvem substâncias tóxicas e são confundidas com alimentos por alguns organismos marinhos. O grupo Ocean Conservacy estima que 8 milhões de toneladas métricas de plástico vão para os oceanos anualmente, além das 150 milhões já circulando. Em 2016, especialistas do Fórum Econômico Mundial de Davos alertaram para o perigo: em 2050, os oceanos terão mais plástico do que peixes.

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Quando não reciclado, o plástico se torna poluente

 

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Alguns compostos plásticos podem levar mais de 450 anos para se decompor

 

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O acúmulo de lixo plástico afeta os solos e mares

 

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Tartaruga nadando em meio ao lixo plástico no oceano

 

Solução
O ideal é reaproveitar peças antigas, comprar em brechós e não ter medo de repetir e usar as roupas por muito tempo. Mesmo tomando cuidado com os produtos escolhidos, o consumismo pode ser um grande vilão. “O descarte de qualquer material têxtil é prejudicial ao solo. Os itens feitos com fibras de poliéster são como plástico e demoram muitos anos para se decompor. As peças de fibras naturais, e artificiais, estas, biodegradáveis, se forem descartadas em aterros sanitários a céu aberto também emitem CO2”, frisa Rafaella.

A dificuldade da indústria em desenvolver materiais biodegradáveis é garantir que eles “tenham propriedades semelhantes aos plásticos tradicionais e preços de produção compatíveis”, completa Marcelo. A composição, no entanto, é semelhante. O que os diferencia dos tradicionais é a adição de algum átomo ou molécula, permitindo uma reação mais rápida com o oxigênio, assim, a degradação na natureza acontece, também, de forma veloz.

A professora de moda conclui que a solução para minimizar o impacto é investir em tecnologia e experimentação. “Organizar a produção da matéria-prima para gastar menos água, energia e produtos químicos, os quais podem ser agressivos ao meio ambiente. E remunerar bem a mão de obra da extração dessas fibras”, complementa. Além disso, valorizar a matéria local: “Investir em estudos para extração e conhecimento do comportamento de fibras que podem ser encontradas próximas das centrais de produção”.

Confira algumas marcas que defendem a bandeira ecológica:

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Outra que baniu as peles de animal foi a inglesa Vivienne Westwood, conhecida pelas campanhas que dão destaque para as mudanças climáticas
Grande destaque da moda nacional, a Osklen usa garrafas PET recicladas, linho e seda
A americana Reformation já conquistou até Meghan Markle. Recicla grande parte do lixo gerado na produção das roupas, que também leva tecidos reaproveitados
A australiana Outland Denim produz jeans ecológicos
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A grife britânica Stella McCartney é referência em moda de luxo sustentável. Além de não usar pele nas coleções, trabalha com tecidos naturais

Divulgação/Stella McCartney
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Outra que baniu as peles de animal foi a inglesa Vivienne Westwood, conhecida pelas campanhas que dão destaque para as mudanças climáticas

Divulgação/Vivienne Westwood
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Grande destaque da moda nacional, a Osklen usa garrafas PET recicladas, linho e seda

Reprodução/Instagram/Osklen
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A americana Reformation já conquistou até Meghan Markle. Recicla grande parte do lixo gerado na produção das roupas, que também leva tecidos reaproveitados

Divulgação/Reformation
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A australiana Outland Denim produz jeans ecológicos

Divulgação/Outland Denim

Vale lembrar que já mostrei joias feitas com borra de café, um projeto brasileiro bem bacana. Outra novidade vista por aqui foram os chinelos Allbirds, feitos com cana-de-açúcar.

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Colaborou Hebert Madeira

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