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Paulo Borges, idealizador do SPFW, defende a relevância das passarelas

Em entrevista à coluna, o diretor criativo da semana de moda paulistana comentou também as novidades da edição N48

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Vinícius Santa Rosa/Metrópoles
Paulo Borges, criador do São Paulo Fashion Week (SPFW)
1 de 1 Paulo Borges, criador do São Paulo Fashion Week (SPFW) - Foto: Vinícius Santa Rosa/Metrópoles

Em 24 anos de história, o São Paulo Fashion Week se consolidou como o principal evento de moda do país. Com 47 edições realizadas, a próxima está prestes a movimentar a cena fashion nacional, entre os dias 13 e 18 deste mês. Para o idealizador e diretor criativo do evento, Paulo Borges, as passarelas ainda são a principal forma de apresentar coleções. Durante o evento SPFWDay, na última quarta-feira (02/10/2019), o empresário conversou com a coluna sobre a relevância das semanas de moda para a indústria. “Um desfile é uma plataforma muito múltipla, é um storytelling“, defendeu. Falou ainda a respeito das novidades do N48, que tem como “tema” um jogo de palavras cruzadas (GIF abaixo).

Vem comigo conferir!

Em sua 5ª edição, o SPFWDay desembarcou pela primeira vez na capital federal para encontro com empreendedores de moda locais, com direito a talks e exposição. Em um bate-papo, Paulo Borges conversou a respeito do SPFWN47, realizado em abril.

“Falamos, naquele momento, sobre utopia. A ideia de buscar um processo cada vez mais disruptivo, em que a criação é um ponto central. Como você cria a partir de novos cenários, como avança metodologias, novas ferramentas, é todo pensado em cima disso, dessa discussão”, pontuou.

Para o empresário, o mercado fashion não passa por crise mas sim por transformações. Nesse sentido, defende que o SPFW, assim como as outras semanas de moda, estão se adaptando às novas demandas, porém ainda têm uma ferramenta importante: a passarela.

Quanto à edição N48, Borges mencionou como destaque a programação do terceiro Projeto Estufa, com curadoria de Roberto Martini. Desta vez, terá exposição, talks e labs sobre a relação da tecnologia com o indivíduo. Explicou também por que é normal algumas marcas pularem algumas temporadas do evento.

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Paulo Borges, idealizador e diretor criativo do São Paulo Fashion Week, durante passagem por Brasília para o SPFWDay

 

Marcelo Soubhia/Fotosite
Desfile de primavera/verão 2020 da Apartamento, no SPFWN47

 

O que você pode adiantar sobre o São Paulo Fashion Week N48?
Esta próxima edição tem duas questões que são muito opostas, a máxima da tecnologia com o indivíduo. É o tema de uma exposição do estufa, porque esta edição tem o projeto inteiro, com talks, labs… Fala disso, qual é o papel da tecnologia nessa relação humana.

O tema da próxima edição é uma espécie de anagrama. Como surgiu a ideia?
Indo nesse caminho de discussão, pensei: não é uma palavra, mas qual é a minha e qual é a sua? Como elas se cruzam e formam uma palavra que está acolhendo outro pensamento. Lembrei que adoro palavras cruzadas e caça-palavras, que são brincadeiras analógicas.

É um desenvolvimento de raciocínio em que você cria palavras, busca e forma outras. A ideia é isso. Tudo aquilo que trabalhamos, dentro da semana de moda, que tem a ver com potência, criatividade, pensar, afeto. Tudo está ali em sintonia.

Como é que vou sintonizar o que você está pensando, o que estou pensando, fazer essas conexões? A brincadeira são essas palavras soltas e o número 48: o 8 se move e vira o símbolo do infinito. Mais do que pensar no futuro, temos de refletir o fluxo contínuo de energia propositiva. Conexão com o outro, as coisas, o tempo. Tem esse sentido de falar dessa construção infinita do amanhã.

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Em sua 5ª edição, o SPFWDay desembarcou em Brasília pela primeira vez. Paulo Borges fez um bate-papo sobre a edição N47, de abril

 

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Desfile de Lino Villaventura no SPFWN46

 

O formato tradicional do varejo está em decadência, ao mesmo tempo em que os desfiles de moda é um modelo questionado atualmente. Qual é a relevância do São Paulo Fashion Week nesse cenário?
Não digo que está em decadência, está em transformação. Você tem mudanças de consumo: a loja tradicional, o digital, o que você compra imediatamente, o que encomenda. Todas as semanas de moda no mundo estão discutindo, mais do que o formato, como você acolhe as demandas do mundo de hoje ou de amanhã.

Sempre fizemos isso no São Paulo Fashion Week. Foi a primeira semana de moda a transmitir os desfiles ao vivo, em 2001. Trouxemos a diversidade, a primeira modelo trans que entrou na passarela foi no SPFW, no mundo. Foi a única semana de moda do mundo a fazer compensação de emissões de carbono, em 2006. Agora, o grupo Kering disse que vai compensar, nós fazemos isso há 13 anos. Talvez, por olhar o mundo de uma maneira mais de vanguarda, por uma necessidade nossa de construir. O Brasil é um país jovem, um mercado em construção. Acho que tudo isso nos deixa atentos a pensar.

Falamos de consumo consciente em 2008, era uma edição que dizia isso: vá de táxi, apague a luz. Mas acho que nada desaparece. As coisas vão adquirindo formatos e assimilando ferramentas. As semanas de moda estão fazendo isso, criando essa transformação para esse novo mercado que está se formando. Ainda não vivemos o futuro, que poderá ser feito daqui a pouquinho, mas não queremos mais viver o passado. Estamos naquela entrefase.

Vinícius Santa Rosa/Metrópoles
“Não digo que está em decadência, está em transformação”, diz Paulo Borges sobre o varejo

 

Vinícius Santa Rosa/Metrópoles
Exposição do SPFWDay, com fotos de passarela, backstage e um editorial concebido pela plataforma FFW

 

E qual é a mportância das passarelas? 
Continuo acreditando e acho que as semanas de moda também estão mostrando que a passarela ainda é e será a principal forma de apresentar uma coleção. Você tem um processo de construção de imagem e ele não é efêmero como o consumo; que é mais imediato, mesmo com todas as questões novas que têm na moda, como sustentabilidade, reciclagem e upcycling.

O desfile é para construir a imagem, a marca, e também para vender. O desafio está em como você dosa isso. Viemos de uma meta anterior de vender rápido. A passarela assimilou essa necessidade de fazer algo que vendesse imediatamente [com o see-now-buy-now]. Começou a fugir disso de novo, porque entende que a sua função é criar essa imagem, que dá esse residual para a marca a longo prazo.

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Para Paulo Borges, as passarelas são e continuarão sendo a melhor forma de apresentar coleções

 

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Desfile no São Paulo Fashion Week N46

 

Sobre o lineup e marcas que retornam, o que pode dizer? 
Essa questão de parar alguma temporada é comum na nossa construção de moda. Desde o comecinho, [estilistas] pulam um tempo, depois voltam. Alguns não farão, porque fazem desfile anual. Estão reorganizando seu negócio. Quem vai retornar agora é a Ellus; a Cavalera já tinha voltado. A Fernanda Yamamoto está desfilando agora, mas desfila uma vez por ano, porque tem essa necessidade individual. Tudo isso faz parte dessa flexibilização de como a moda caminha.

Quando as semanas de moda começaram, em 1973, em Paris, eram feitas para compradores e jornalistas. Isso durou muito tempo. Depois, passou a ser também para os principais clientes. Quando começa a internet, em 2001 e 2002, passa a mudar. Quando entraram as redes sociais, mudou completamente.

Um desfile é uma plataforma muito múltipla, é um storytelling, porque tem um branded content que pode fazer antes de acontecer, durante a prova de roupa, a maquiagem… Você vai desdobrando isso em conteúdos seus, na construção da imagem e daquilo que a marca quer dizer naquele momento. Você usa isso de uma maneira muito ampla. Disso tudo, você cria um formato, tanto de desfile como de passarela, no sentido cênico, quanto dos objetivos. Acho que essa transição dá uma mudança nesse caminho.

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“Parar alguma temporada é comum na nossa construção de moda, desde o comecinho”, diz o idealizador do evento sobre as marcas que pulam algumas edições

 

Vinícius Santa Rosa/Metrópoles
O editorial do FFW, exposto no SPFWDay, reuniu peças de marcas do Distrito Federal e Minas Gerais

 

Tivemos um momento delicado na última edição, com a morte do modelo Tales Cotta. Vocês farão algum tipo de homenagem a ele?
Todas as homenagens que entendíamos serem necessárias já fizemos. Foi uma fatalidade. Se fosse uma hora antes, talvez ele estaria chegando ao evento. Uma hora depois, poderia estar atravessando alguma calçada. A vida fez com que fosse ali, naquele instante, de uma maneira fatal, triste, mas passou. Somos muito reais nesse sentido e demos todo o suporte necessário.

Como está a programação do Projeto Estufa?
Quem está fazendo a curadoria é o Roberto Martini, uma pessoa especializada nessa área de tecnologia e indivíduos. Tem uma exposição de realidade mista, na qual você vai usar um óculos e estará aqui, mas também em um “second life“. Tem dois mundos que convivem. Uma agenda de talks, labs, sempre falando dessa construção de futuro.

Por que a mudança de local?
Será no Pavilhão das Culturas. Já fizemos lá, mas num momento em que ele só tinha uma área restaurada, agora está inteiro. Tenho essa paixão pelo Niemeyer, pelo parque também.

Colaborou Hebert Madeira

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