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Patricia Bonaldi e Flavia Aranha falam sobre handmade e artesãos

As estilistas participaram de painéis separados na terceira edição de evento de moda em São Paulo

atualizado

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Divulgação/PatBo
PatBo bordado
1 de 1 PatBo bordado - Foto: Divulgação/PatBo

São Paulo (SP) – O segundo dia de palestras da terceira edição do Iguatemi Talks, em São Paulo, deu destaque a técnicas manuais na moda. Para introduzir o assunto, o evento convidou duas estilistas renomadas e experts no handmade. Em painéis separados, Patricia Bonaldi e Flavia Aranha abordaram a preservação das metodologias e a relação com os produtores.

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Quando se fala em trabalho manual, o nome de Patricia Bonaldi facilmente vem à cabeça. A mineira se tornou referência no assunto. Criada em 2012 para ser a marca mais autoral da estilista, a PatBo transita em diferentes estilos, com características próprias que envolvem elementos da natureza e muita delicadeza, sempre prezando pelo artesanal.

Na moda festa, jeans, casual ou beachwear, ela insere personalidade nas criações. Em novembro de 2013, inaugurou a primeira loja da label no Shopping JK Iguatemi, em São Paulo. Nessa quarta-feira (23/10/2019), voltou ao espaço para debater a conservação da minuciosidade artesanal.

“Comecei com o trabalho manual muito intuitivamente. Há 15 anos, estávamos em uma fase mais minimalista da moda, pelo menos no Brasil. Foi uma grande aposta no meu desejo de transmitir cuidado e promover uma técnica que, naquela época, não falávamos tanto. Com a industrialização, já sabia que não era algo que ia se perpetuar facilmente. Quis remar na contramão”, revelou a designer.

No talk comandado pela jornalista Luanda Vieira, editora de moda da Glamour, Patricia Bonaldi explicou que o bordado tem tudo a ver com o respeito ao tempo. Mesmo com cerca de 121 pontos de venda no Brasil e 17 fora do país, sendo cinco lojas próprias, a PatBo produz em pequena escala.

“Às vezes, as pessoas veem a PatBo e pensam que é uma marca enorme. Acho que somos realmente gigantes no nosso propósito, no que nos propomos a fazer, mas não somos uma empresa gigante, até porque nem poderia ser, pelo que eu faço”, explicou a empresária. “Óbvio que diversifiquei bastante, hoje tenho a estamparia e outras coisas. Meu processo, no entanto, é 99% manual”, frisou.

Rebeca Ligabue/Metrópoles
Patricia Bonaldi participou de uma conversa sobre a preservação das técnicas manuais, mediada por Luanda Vieira

 

A estilista lembrou que o handmade também é sobre empregar e capacitar pessoas. Por isso, ela criou uma cooperativa de bordadeiras em Uberlândia, Minas Gerais. “Essa ideia de ensinar inciou quando já estávamos crescendo e não havia como absorver toda a demanda”, lembra.

“Comecei a disponibilizar as minhas melhores bordadeiras para pessoas que quisessem aprender”, conta. “Foi tão orgânico, foi acontecendo. E, hoje, tenho orgulho em dizer que preparei pessoas para os meus concorrentes da cidade. Preferi continuar existindo e ter gente fazendo a mesma coisa que eu a não existir”, comemora.

Questionada sobre o sucesso internacional, a estilista declarou acreditar que, no exterior, as pessoas estão abertas ao novo. Por isso, o artesanal é visto com bons olhos e é reconhecido. Ela faz questão de ressaltar que os trabalhos bordados são do Brasil.

Sobre os preços da grife, a designer disse que as clientes entendem o significado e a preciosidade de um trabalho que está cada vez mais escasso. Além disso, sugeriu aos consumidores: sempre questionem ao encontrar um produto handmade a baixo custo. Segundo Patricia, isso significa que a empresa não está valorizando os profissionais da mão de obra.

Divulgação/PatBo
Os bordados da PatBo são marcantes e viraram referência

 

Durante o painel, Patricia Bonaldi convidou Ruy Carlos Tone, presidente da Fundação Almerinda Malaquias, para falar sobre uma parceria. Criada em 1997, a organização funciona como centro de educação e formação profissional para a população do município de Novo Airão, em Manaus, Amazonas. Lá, por meio do reaproveitamento de madeiras descartadas, é ensinada a arte da marcenaria.

A estilista mineira conheceu a fundação quando desenvolveu uma coleção inspirada na Amazônia. Depois disso, foi apresentada aos carpinteiros da comunidade e quis dar um jeito de inseri-los na própria marca. 

Com ilustração de Nathalie Edenburg, a PatBo e a Fundação Almerinda Malaquias criaram uma bolsa de marchetaria em conjunto. Carinhosamente, a designer chama a técnica de “bordado em madeira”. A clutch já está disponível on-line

Rebeca Ligabue/Metrópoles
Luanda Vieira e Patricia Bonaldi com Ruy Carlos Tone

 

Divulgação/PatBo
Clutch Raíra, de marchetaria, desenvolvida pela PatBO em parceria com a Fundação Almerinda Malaquias

 

Divulgação/PatBo
Interior da peça

 

A estilista Flavia Aranha participou de outro painel. Referência da moda sustentável no Brasil, ela criou a grife homônima há 10 anos. As produções envolvem técnicas e materiais típicos da cultura têxtil nacional, como pau-brasil, látex, algodão orgânico e tecelagem. Além disso, ela usa seda produzida no país. Quase toda a produção nacional do tecido é exportada, principalmente para a Hermès, segundo Flavia.

Atualmente, a designer tem duas lojas físicas em São Paulo, uma na Vila Madalena e outra no Shopping Iguatemi, na Avenida Faria Lima. No exterior, abriu um espaço em Lisboa (Portugal).

No Iguatemi Talks, Flavia Aranha falou sobre a relação com os artesãos. Para a empresária, focada na produção circular, o cuidado e a consciência vão desde o plantio da matéria-prima até o recorte e a costura dos tecidos. Feitas com tingimento natural e sem uso de petroquímica, as roupas da marca são leves, minimalistas e têm caimento moderno.

“Abrimos o ateliê com o compromisso de revisitar todos os lados da cadeia produtiva, gerando impacto socioambiental positivo”, esclareceu. “O produto final, que tem uma estética incrível, representa todo o processo das mudanças que queremos trazer para o mundo.”

Rebeca Ligabue/Metrópoles
Flavia Aranha também participou do evento em São Paulo

 

Divulgação/Flavia Aranha
Ela trabalha com tingimento natural e outras práticas que prezam pelo manual e sustentável

 

Desde 2016, a empresa é certificada pelo Sistema B. Atuante em mais de 50 países, a iniciativa consolida a transparência nos processos de confecção.

“É sobre olhar as coisas com novas perspectivas. Quando você vai ao Sertão, é outra lógica. Então, é preciso analisar o contexto dessas pessoas”, salientou Flavia.

“Se juntarmos mulher e artesanato, estamos reunindo praticamente a maior vulnerabilidade social. E, ao mesmo tempo, um grande potência do nosso país. Estamos tentando diminuir esses espaços, desconstruir e repensar as lógicas”, ressaltou.

Flavia Aranha costuma passar dias nas comunidades e manter diálogo orgânico com os produtores. Uma das ações é a inserção dos artesãos no meio digital, além da garantia de autonomia financeira. Ela destacou que, por meio da tecnologia, é possível viabilizar o engajamento das novas gerações no trabalho manual.

“Uma das preocupações que temos hoje sobre como manter essas tipologias em cenários em que os trabalhos mais sofisticados e difíceis, basicamente, são mulheres bem mais velhas que têm conhecimento”, explanou a empresária. “Começam a se interessar porque elas vão para a internet, para o Instagram, para as redes sociais. Elas trabalham na gestão, nas vendas, e, quando menos imaginam, já estão liderando uma cooperativa”, destacou.

Rebeca Ligabue/Metrópoles
Sonia Quintella, da Artesol, estava na conversa

 

Na maioria das vezes, a conexão de Flavia Aranha e outros designers com os artesãos se dá por meio de organizações sem fins lucrativos, como a Artesol. A instituição atua há cerca de duas décadas na promoção do artesanato tradicional brasileiro e no incentivo à criação de políticas públicas que fortaleçam o setor.

O projeto mapeia os profissionais e os colocam em contato com grandes marcas e outros interessados. Também gera formação e capacitação dos artesãos para o empreendedorismo em geral.

Na palestra, Sonia Quintella, representante da Artesol, assinalou que o Brasil é muito rico em matérias-primas. Ela ressaltou as milhares de pessoas que sabem usá-las sem prejudicar o meio ambiente. Além disso, lembrou que muitos artesãos vivem na informalidade e, portanto, os avanços para a profissionalização são significativos.

“O artesanato é fruto da raiz cultural”, disse. “A ideia é facilitar no sentido de que o público conheça essas joias [artesãos] que ainda temos no Brasil”, completou Sonia.

Nicolas Calligaro/Divulgação/Iguatemi Talks
Sonia Quintella e Flavia Aranha no Iguatemi Talks

 

As palestras do dia abordaram outras temáticas, como o movimento Body Positive, com Preta Gil; e a inovação das plataformas colaborativas, com Alfredo Orobio, criador da Awaytomars.

O Iguatemi Talks segue até esta quinta-feira (24/10/2019). A programação pode ser conferida no site do evento e inclui, ainda, painéis com temas como o futuro da profissão de estilista e mercado de luxo internacional.

 

Colaborou Rebeca Ligabue

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