Pandemia deve tornar jovens resistentes ao marketing tradicional
Pesquisa indica que, após o isolamento social, gerações Y e Z irão demandar muito mais do que tendências e presença nas redes sociais
atualizado
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A pandemia do novo coronavírus trouxe consigo não apenas a paralisação da economia mundial, mas um baque cultural que deve impactar a forma com que as pessoas consomem diferentes mercadorias. Uma pesquisa realizada pelo portal Highsnobiety revela que, após o cessar do isolamento social, as novas gerações terão uma percepção diferente de suas necessidades de estilo, exigindo muito mais que campanhas, presença nas mídias e bons produtos.
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Após assimilar todos os efeitos do surto, as gerações Y e Z devem ficar imunes ao hype, jargão do marketing que representa o conhecido “está na boca do povo”. A previsão, construída por meio de um estudo feito com os leitores de um dos maiores sites voltados ao segmento de luxo, é creditada a uma nova percepção do essencial, já sentida entre os jovens que participaram do levantamento.
Se antes eles consideravam salões de beleza, lojas de roupas, bares e discotecas necessários, o distanciamento mostrou que é possível viver relativamente bem sem tais estabelecimentos. Na moda, não é diferente.
Há três meses, o desejo dos fashionistas girava em torno do fetichismo, trabalhado na temporada de outono/inverno 2020 por meio de itens de látex, sobretudos de couro e meias-calças. No entanto, hoje, tudo o que os amantes da moda querem é saúde, cadeiras confortáveis e pijamas aconchegantes.
Enquanto a necessidade por roupas novas parece cada vez menor, uma parcela da geração Z tem contribuído com a economia, mantendo seu ritmo de compras. Mas, não se engane: os gastos atualmente são relacionados a produtos duráveis, marcas de pequeno porte e empresas que estão ajudando a combater o caos gerado pela pandemia.
Ao passo que 85% dos leitores do Highsnobiety afirmam que sua paixão pela moda não foi afetada pela crise, 42% não se sentem mais confortáveis em comprar roupas caras. A não ser, é claro, que a peça em questão seja de uma grife que fez doações em dinheiro ou produziu máscaras, visto que 89% dos entrevistados está de olho nas ações tomadas pelas etiquetas de moda nas últimas semanas.
Denominado pelos organizadores da pesquisa como “comprador imunizado”, o consumidor pós-coronavírus planeja manter seus gastos com sportswear e streetwear. Mais da metade dos leitores querem continuar investimento nos segmentos, sendo que 30% planeja aumentar seus gastos nessas categorias.
Com as características qualidade (60%) e durabilidade (43%) encabeçando a lista de prioridades dos entrevistados, as microtendências demonstraram um enfraquecimento considerável na percepção dos jovens.
Um total de 54% dos participantes expressou uma repentina aversão a logotipos, em sintonia com os 33% que deixaram de ver os tênis feios como produtos atraentes. Enquanto isso, o minimalismo foi o estilo melhor elencado na lista de moods mais populares.
A possibilidade das microtendências perderem sua força após a pandemia da Covid-19 é reforçada pelo comportamento da indústria têxtil após a recessão de 2008, quando o segmento masculino praticamente eliminou as logos de seu escopo.
À época, a moda se voltou aos padrões clássicos de estética, exacerbando a figura do homem executivo, marcada por ternos alinhados, e a rusticidade, representada pelo movimento lumbersexual. Porém, nesta década, o retrocesso deve ser acompanhado de um plot twist: o streetwear.
Como já acontecia nas últimas temporadas, o streetwear pode se fundir com a alfaiataria, mas em modelagens mais modernas e cartela de cores mais limpas. “A máxima ‘compre menos, compre melhor’ sempre estará lá. Só espero que isso não se torne uma medida reacionária. Eu não quero ter que ver pessoas vestidas como se estivessem na década de 1920 novamente. Há um meio termo onde isso tudo pode coexistir”, defendeu James Harris, coapresentador do podcast Throwing Fits, ao Highsnobiety.
Um fator que pode colaborar para um futuro mais diversificado em termos de estilo é que os jovens de 2020 não enxergam a pandemia com pessimismo ou sobriedade. A demanda, agora, é voltada ao desejo de que a moda se envolva com seu público além do âmbito estético, algo que já é observado.
Muitos leitores citaram Louis Vuitton, Prada, Burberry e Gucci, grifes que cooperam com ações de combate ao coronavírus desde o início do surto, ao reforçarem sua pelo paixão universo fashion. Enquanto isso, o número de leitores que acompanham as celebridades durante o isolamento social representou apenas 14% dos entrevistados, indicando que a imagem empresarial deve voltar a superar o hype das estrelas, muito difundido antes da quarentena.
O Highsnobiety finaliza o estudo refletindo em relação aos prováveis efeitos da pandemia sobre o consumidor moderno. “O próximo passo está sendo incubado por essa nova e corajosa geração de compradores, que sai desta crise com seus detectores de besteiras ainda mais refinados. O marketing, agora, exige mais do que estar em todo lugar. É necessário transparência nas ações”, concluiu o levantamento.
Colaborou Danillo Costa