Pandemia acelera o processo de padronização das medidas de roupas
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou sugestões de dimensões em centímetros. Adesão à norma é voluntária
atualizado
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A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou, neste mês, nova norma para definir o tamanho de roupas fabricadas no país. A regra agora consiste em incluir as dimensões em centímetros de cada peça, e não somente a classificação por número ou letra. A orientação, porém, não é obrigatória: cabe às marcas a decisão de aderirem ou não.
Vem entender melhor!
Um problema recorrente faz parte do cotidiano dos brasileiros: em uma loja, a pessoa experimenta uma calça 40 e o caimento fica perfeito; em outro estabelecimento, uma peça com a mesma numeração não serve. A falta de padronização sempre foi uma questão para a indústria têxtil e, se pensarmos nas peças de marcas importadas – cada país possui um sistema de medida próprio –, a situação fica ainda mais complexa.
Foi pensando nessa problemática que o Comitê Brasileiro de Têxteis e do Vestuário da ABNT definiu normas para que as marcas ofereçam aos clientes as medidas das roupas em centímetros. O objetivo é tornar o processo de compra mais assertivo.
Maria Adelina Pereira, superintendente do Comitê, disse, em entrevista à Agência Brasil, que era um desejo antigo da entidade estabelecer normas para o segmento. Segundo ela, o Brasil é um país continental que possui biotipos das mais diferentes etnias, o que dificultava a classificação das roupas em números, por exemplo.
Novas demandas
Com a pandemia do coronavírus e o fechamento do comércio, muitas empresas fortaleceram ou lançaram plataformas digitais para venda de roupas e acessórios. A falta de um provador físico mostrou para as marcas a necessidade de fornecer aos clientes medidas em centímetros, uma vez que as numerações variam de acordo com a etiqueta e até com a modelagem.
Maria Adelina Pereira também destacou à Agência Brasil que, além dos provadores nem sempre terem o espaço desejado pelo cliente, o processo de experimentar também pode sujar a roupa com suor ou maquiagem. “Tudo isso é uma grande motivação para se tentar reduzir a ida ao provador”, disse a superintendente.
“Com o e-commerce explodindo na pandemia, viu-se que é possível fazer uma venda sem, necessariamente, a pessoa entrar na roupa e aprovar a compra. Isso foi muito positivo e fez com que as marcas, as lojas e as fábricas vissem que o sistema de ‘vestibilidade’, que consiste em declarar a medida que a modelista utilizou, é muito útil”, afirmou Maria Adelina Pereira.
Alternativas criadas
Mesmo antes da pandemia, empresas que investiam no e-commerce tentavam reproduzir a experiência da loja física no digital. A Netshoes desenvolveu, em 2015, uma tabela de tamanhos de roupas e de calçados para ajudar os clientes no momento da compra on-line. A ferramenta foi criada a partir do cruzamento de dados fornecidos pela ABNT e pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O consumidor completava campos com informações de altura e peso e recebia uma sugestão de tamanho adequado, de acordo com a peça escolhida.
Outras etiquetas começaram a adotar estratégias parecidas. A C&A, por exemplo, disponibiliza no site uma tabela com as medidas, em centímetros, referentes a cada numeração. O cliente encontra o tamanho do busto, da cintura e do quadril.
A empresa também lançou, durante a pandemia, o projeto “Eu Experimento pra Você”, em parceria com o YouTube. Os vídeos postados na rede social convidavam criadores de conteúdo da internet com diferentes corpos e estilo para provar as peças e mostrar como ficavam no corpo. O objetivo era que o consumidor identificasse alguém com biotipo similar e simulasse a experiência da compra física.
Padronização amiga
Com a possibilidade de um retorno à normalidade, é natural que as pessoas queiram voltar às atividades presenciais, incluindo as de compra. Porém, o consumo por meio de plataformas digitais, como sites, Instagram e até TikTok, não deve desaparecer. Sendo assim, quanto mais uniforme for a medida das peças de diferentes marcas, melhor para o consumidor.
Apesar da ideia de padronização estar, definitivamente, fora de moda, se uma pessoa veste X em determinada loja, é interessante que ela use o mesmo tamanho em outra. A nova norma pode evitar, inclusive, que corpos antes marginalizados pela indústria da moda comprem apenas em determinadas marcas. A inclusão à tabela da ABNT pode democratizar as dimensões das roupas.
Colaborou Carina Benedetti