Outubro ganha movimentação atípica para a moda com apresentações de grifes
Se antes a concentração de desfiles internacionais acabava no início do mês, a pandemia fez algumas marcas mudarem o cenário nesta temporada
atualizado
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Talvez você não tenha notado que este mês se mostrou um tanto atípico para o calendário fashion internacional. Tradicionalmente, as semanas de moda de primavera/verão femininas ocorrem entre o início de setembro e o começo de outubro. Desta vez, no entanto, a movimentação se estendeu até a segunda metade deste mês, com apresentações de coleções de várias marcas. Entre elas, Michael Kors, Comme des Garçons, Lanvin e Celine, além de outras que deram uma escapada dos calendários oficiais das principais fashion weeks. Teria outubro se transformado no novo mês da moda?
Vem comigo descobrir!
Como se sabe, a chegada da pandemia de Covid-19 afetou diretamente o calendário da indústria da moda. As edições físicas das fashion weeks masculinas e da Semana de Alta-Costura, que ocorrem no meio do ano, foram canceladas ou adotaram formatos digitais. Enquanto isso, grandes marcas decidiram seguir o próprio ritmo e se apresentar fora do circuito Nova York-Londres-Milão-Paris. Foi o caso de gigantes como a Gucci e Saint Laurent, que ainda não definiram quando apresentarão seus próximos trabalhos.
Uma consequência disso é que, a depender da marca, o hype pode não ser igual, assim como a movimentação de editores de moda e compradores, já que é necessário um esforço maior para encaixar o desfile na agenda dos convidados. O portal Business of Fashion lembra que esse fenômeno foi observado em 2018, quando Alexander Wang resolveu sair da Semana de Moda de Nova York. Em seu primeiro desfile fora do calendário, o impacto de mídia do estilista caiu 50% comparado à temporada anterior.
A Michael Kors, que também desfilava na Semana de Moda de Nova York, é outro exemplo de etiqueta que decidiu adotar o próprio calendário. O spring/summer 2021 da label foi exibido em vídeo, no último dia 15. Apesar de não ter feito nenhum pronunciamento desse tipo, Stella McCartney não compôs o calendário oficial da Semana de Moda de Paris, que acabou no dia 6. A britânica apresentou sua coleção somente no dia 8, digitalmente. Enquanto isso, a Celine deixou para exibir o novo trabalho só nessa segunda-feira (26/10).
A grife japonesa Comme des Garçons, que também desfila em Paris, optou por se apresentar em sua sede, em Tóquio. A francesa Lanvin elegeu Xangai para o desfile SS21, mas o vice-presidente-executivo, Joann Cheng, disse ao portal Business of Fashion que pretende continuar no PFW. Por razões particulares provocadas pela pandemia, grifes como Tory Burch, Sacai e Amiri também exibiram suas coleções fora do circuito conhecido das principais capitais da moda.
Com tudo isso, este mês de outubro se mostrou um período novo e atípico para o calendário da moda. A previsão do BOF para a maratona de desfiles de outono/inverno 2021, entre fevereiro e março do ano que vem, é que essa flexibilidade continue, mas é cedo para afirmar sobre outras temporadas. Para Tory Burch, ainda é mais eficiente aproveitar uma semana de moda. Michael Kors, por sua vez, acha exaustivo ver uma coleção acabar de chegar às lojas e, ao mesmo tempo, ter que correr para ver a próxima nas passarelas.
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Confira, abaixo, algumas novidades que as marcas trouxeram em suas coleções:
Stella McCartney
Para sua coleção verão 2021, Stella McCartney criou um “Manifesto A a Z”, no qual cada letra representa um valor rumo a um futuro mais sustentável para a marca. A vem de accountable, que significa responsável. O de orgânico, V de vegan, entre outros exemplos. Segundo a marca, a coleção reflete o “movimento consciente da moda”, com roupas, acessórios e calçados criados para a mulher em movimento, reafirmando a importância da natureza.
As peças provam que o sustentável pode ser sexy, com trabalhos em renda e cinturas marcadas. Além disso, traz mangas bufantes, estampas oceânicas e peças de alfaiataria. McCartney as definiu como itens que misturam uma pegada clássica e atlética, uma combinação com a qual ela já havia flertado no passado. O atletismo funciona como um escapismo da realidade atual. Entre os vestidos, o destaque fica por conta das peças com comprimento curto.
O desfile digital foi capturado pelo duo Mert & Marcus no Houghton Hall. O local foi construído no século 18, como uma residência para Sir Robert Walpole, à época primeiro-ministro da Grã-Bretanha.
Lanvin
Apresentada em Xangai, no Jardim Yu, a primavera/verão 2021 da Lanvin é repleta de peças para a noite, com 59 looks. Elas reúnem vestidos de festa com transparências, volumes do século 18, casacos amplos de alfaiataria e conjuntos sofisticados. As criações trazidas pelo diretor criativo Bruno Sialelli resgatam uma influência dos arquivos de Jeanne Lanvin e trazem ricas referências à arte e moda chinesa da década de 1920, assim como ao Art Déco.
Também dos anos 1920 são os resgates aos painéis do pintor e escultor Jean Dunand, que se transformaram em jacquards, bordados e estampas. As referências de época são mescladas com um toque parisiense chique e contemporâneo. Nos looks de abertura da coleção, os volumes dos casacos e das saias dos vestidos chamam atenção. À medida que o desfile avançou, a cintura foi ficando mais marcada e ganhando um ar de sensualidade.
Cores metálicas e detalhes cintilantes trazem brilho a algumas peças. Nos visuais com inspiração de época, destaque para o grande laço que aparece amarrando a cintura ou complementando o busto, característica que também remete ao trabalho da fundadora da casa francesa. Mangas volumosas, como se fossem capas, também aparecem em algumas peças.
Comme des Garçons
O escritório da Comme des Garçons em Tóquio virou a passarela do minidesfile de spring/summer 2021, algo que a marca também fez com a coleção masculina. A disruptiva grife japonesa apresentou vestidos com materiais plásticos e os volumes exagerados que são a assinatura da marca, sob uma luz vermelha que deixou tudo mais intimista. A inspiração para a coleção veio das possibilidades de mudanças positivas e progressos em meio aos momentos de dissonância, quando não há lógica e harmonia.
Alguns dos vestidos são estampados com a cabeça do Mickey Mouse, da Minnie Mouse e do urso Bearbrick, enquanto outros recebem o desenho de olhos do coração, um dos detalhes mais marcantes das criações da label. Poá e detalhes grafitados também dão as caras. As camadas e recortes das peças pretas carregam drama e intensidade. O transparente do plástico acrescenta irreverência e uma dose de modernidade, com produções tridimensionais.
Bolsos extremamente gigantes e expostos chamam atenção no último vestido apresentado. Entre os calçados, é importante destacar que há sapatos transparentes desenvolvidos em parceria com a Melissa, além dos tênis que também riscaram as passarela em alguns visuais.
Tory Burch
Terninhos, kaftans e vestidos simplificados. Este é o mood de Tory Burch para a primavera/verão 2021, apresentada com um lookbook e um vídeo curto. As cores são neutras e as estampas, clássicas, mas repletas de confiança e força. Para a designer, a “beleza está na utilidade”. Nesta temporada, ela faz resgates a memórias para criar uma coleção sólida, que traz muito do DNA de sua marca com um ar renovado.
Se uma vibe noturna comanda as coleções da Comme des Garçons e Lanvin, a de Tory Burch é diurna e solar, em grande parte. As mangas bufantes, detalhe em alta em várias coleções, também aparecem por aqui. A alfaiataria é pragmática, com um toque casual que deixa até as peças pesadas com um ar mais leve. Alguns looks montados pelo styling da marca puxam para um lado mais preppy, como as produções complementadas com pulôver.
Entre os acessórios, o destaque é dos lenços, já que as bolsas são neutras e em poucos momentos chamam atenção por si só. Nos calçados, há sandálias de dedo com tiras bem finas, chinelos de couro, sliders, loafers de salto médio decorados com palha e um tênis bordô e branco, de camurça. As fotos foram feitas no Hancock Shaker Village, no estado de Massachusets.
Michael Kors Collection
Uma paleta de cores ensolarada também invade boa parte dos looks do spring/summer 2021 da Michael Kors Collection, repleta de praticidade e usabilidade. A ideia do estilista é que as peças sejam usadas durante, pelo menos, uma década. A coleção começa com peças envoltas por uma pegada casual, com vestidos, suéteres e saias em terninho.
Branco, bege e cinza predominam nos primeiros looks do compilado, com uma aparição ou outra de um verde cheio de presença. Da metade apresentada em diante, as roupas ganham um ar sensual e vão ficando cada vez mais noturnas, terminando em nuances de azul, preto e tons terrosos.
Apesar de aparecer looks de festa aqui e ali, a impressão deixada pela coleção é que ela é feita para que as clientes possam realizar os compromissos do dia, dentro dessa nova realidade (e usando máscara, claro). Muitas criações, inclusive, podem compor looks caseiros para reuniões do Zoom e dias de teletrabalho. O desfile gravado ocorreu em um jardim comunitário da organização New York Restoration Project, fundada por Bette Middler.
Colaborou Hebert Madeira