O que esperar da Roberto Cavalli com a saída de Paul Surridge?
Grife italiana passa por momentos difíceis e pode ser vendida a qualquer momento
atualizado
Compartilhar notícia
Na manhã de domingo (24/3), Paul Surridge anunciou que deixaria a direção criativa da Roberto Cavalli. O inglês creditou sua saída a uma nova perspectiva na empresa, na qual o trabalho que ele havia sido convocado a fazer teria tomado rumos que não o agradam.
Acreditava-se que o designer tinha se estabelecido bem na grife italiana, tendo, inclusive, renovado o visual da tradicional etiqueta. Contudo, recursos escassos e a falta de investimento no desenvolvimento da rede de lojas, bem como em marketing e comunicações, teriam frustrado o estilista.
Surridge havia concordado em projetar e apresentar as coleções de 2019, porém, segundo uma fonte relatou ao WWD, o profissional foi convidado a liderar outro projeto e quer se distanciar da empresa para dar o próximo passo em sua carreira.
No entanto, a pergunta que não quer calar é: qual o futuro da Cavalli?
Vem comigo saber!
Desde fevereiro, quando a Cavalli desfilou seu outono/inverno 2019 na Semana de Moda de Milão, o futuro da grife italiana é incerto. Um dia antes do show, o estilista alemão Philipp Plein manifestou o desejo de adquirir 70% da empresa, apoiado pelo Blue Skye Investment Group. Dessa forma, os 30% restantes permaneceriam com a Clessidra, fundo de capital privado que comprou a maior parte das ações da etiqueta em 2015.
Contudo, de acordo com o jornal Il Sole 24 Ore, Plein não seria o único interessado em adquirir a marca. Renzo Rosso, da holding OTB, também se dispôs a obter a label. O empresário italiano, desde 2011, administra a linha Just Cavalli.
O CEO da grife, Gian Giacomo Ferraris, não quis se pronunciar sobre a transação, mas disse ao FashionNetwork que a marca necessita de investimentos emergenciais. “O problema era estabilizar a empresa, cujas vendas caíram, e fizemos isso. Para este ano, o volume de negócios deve registar um pequeno aumento”, relatou ao site.
Em 2017, as vendas da Roberto Cavalli caíram 1,8%, arrecadando 152,4 milhões de euros naquele ano, porém a label conseguiu diminuir seu prejuízo operacional, de 26,2 milhões de euros, em 2016, para 7,1 milhões.
Tal resultado foi alcançado graças a uma reestruturação executada nas entranhas da empresa. Foram centenas de demissões, reduções consideráveis na rede de distribuição, reorganização de produção e um audacioso relançamento da linha masculina, apresentada junto com a feminina na Semana de Moda de Milão.
A contratação de Surridge, considerada uma surpresa quando foi divulgada, em 2017, também tem relação direta com a recuperação do empreendimento. Vindo do mercado masculino, o designer deu outra cara à sensualidade boêmia da Roberto Cavalli.
Durante os dois anos em que dirigiu a grife, Paul bateu de frente com o mood sexy cravado nas entranhas da etiqueta. Porém, o trabalho dele nunca foi recebido bem pela equipe deixada por seu antecessor, Peter Dundas, que resistia às mudanças sugeridas pelo designer.
Se tal clima persistir, quem entrar na função deixada pelo estilista enfrentará desafios. Mas, antes de falar sobre as dificuldades eminentes na criação, é necessário discutir sobre quem seria a pessoa certa para a vaga, pois o nome mais óbvio para o trabalho já veio e saiu.
Dundas, que substituiu o criador da marca durante os anos áureos do estilo glamazon, era um figura acertada para a direção criativa da label, mas permaneceu no posto apenas três temporadas.
A disponibilidade de diretores criativos é um problema sistêmico em toda a indústria, mas um questionamento mais latente complica ainda mais o cenário: a Cavalli tem chance de dar certo nos dias de hoje?
Surridge entendia que o perfil apelativo vendido pela grife em seus primórdios não combina com a imagem praticada nos anos 2010. Em uma realidade na qual o sportwear e o minimalismo imperam, as peças da companhia destoavam e soavam um tanto quanto datadas.
Mais do que isso, é necessário encarar que a ressignificação do sex appeal feminino não é uma onda passageira. Se juntarmos o movimento #MeToo ao crescimento de candidatas à presidência dos EUA e à revolução no segmento de lingeries, não há como negar que qualquer modelo Cavalli dos anos 2000 pareça inapropriado para 2019.
A melhor tática para a etiqueta italiana neste momento seria contratar uma mulher para dirigir sua criação. Os debates de gênero ganham cada vez mais força na indústria, hoje governada por uma geração que rejeita o pensamento binário e o sexismo.
Apenas um olhar feminino poderia redefinir com propriedade o sexy appeal da empresa. Isso é de fundamental importância para a sobrevivência de uma das marcas mais emblemáticas da moda internacional.
Para outras dicas e novidades sobre o mundo da moda, não deixe de visitar o meu Instagram. Até a próxima!
Colaborou Danillo Costa