Nosferatu: releitura com Lily-Rose Depp evoca moda gótica no figurino
A versão de Robert Eggers está em cartaz nos cinemas e tem figurino assinado por Linda Muir, colaboradora de longa data do cineasta
atualizado
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Os filmes do cineasta estadunidense Robert Eggers são conhecidos pelo cuidado meticuloso com os detalhes. Com Nosferatu, releitura do clássico de 1922, não é diferente. O horror de época, ambientado em uma cidade alemã fictícia no ano de 1838, é marcado por uma atmosfera gótica que se estende para o figurino, assinado por Linda Muir. A artista é colaboradora de longa data de Eggers e detalhou a criação das roupas em entrevistas à imprensa internacional.
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Ponto de partida
Segundo Linda Muir, Roberts Eggers tem uma visão clara no início de cada projeto. Tudo começa com uma longa pesquisa, incorporada ao roteiro, e um lookbook, que serve como ponto de partida. Para Nosferatu, a partir das informações e referências visuais apresentadas pelo diretor, a figurinista estudou peças vintage e livros de materiais têxteis alemães do início do século 19, com apoio de pinturas, ilustrações de moda e textos – naquele período, a fotografia ainda estava começando.
As peças do figurino foram feitas especificamente para o filme, de acordo com a artista. Cada detalhe de roupas, acessórios e calçados foi pensado segundo a realidade daquele período, além de fatores práticos do set. Muir analisou, por exemplo, como os tecidos reagiam à pouca iluminação dos cenários, marcados por velas, fogo e muitas sombras. Uma das fontes de consulta foi um diário de moda de 1838, ano em que a trama se ambienta.
Vestidos e alfaiataria
Além das referências mais diretas, como materiais, estampas e silhuetas, há mensagens comunicadas de forma sutil, como as diferenças entre as roupas de Ellen Hutter (Lily-Rose Depp) e Anna Harding (Emma Corrin). Enquanto a protagonista, de classe média, tem recursos limitados e poucas roupas, Anna vem de uma família rica e está sempre com looks diferentes. A joias de Ellen são de prata, enquanto as de Anna são douradas e pesadas. Linda Muir buscou cores claras e tecidos reluzentes para os looks femininos.
Os impulsos sexuais de Ellen também são contados com auxílio do figurino, como os corsets de contenção usados para amarrar a personagem à cama, ou o corpete feito com uma costura estratégica para facilitar que Depp o rasgasse durante uma das cenas.
Já no vestuário masculino, Muir precisou traduzir um período em que a alfaiataria não era padronizada. Naquela época, cada profissional fabricava as peças do próprio jeito. Um artesão especializado somente em casacos poderia não ser o melhor em camisaria, por exemplo. Até aqui, alguns aspectos sutis ajudam a comunicar a realidade de cada personagem. Quanto mais tecido usado em uma única peça, por exemplo, maior o poder aquisitivo.
Conde Orlok
O visual mais diferenciado, e um dos mais importantes, é o do antagonista, Conde Orlok (Bill Skarsgård). O personagem é três séculos mais velho do que os demais, e isso precisava transparecer nas vestes. Tecidos luxuosos, pesados e caros de centenas de anos atrás, típicos dos condes ilustrados em pinturas, agora vestiam um vampiro decadente e quase adoecido.
Além de parecer envelhecidas, as peças de Orlok, para manter o mistério, precisavam esconder as feições quase decompostas do personagem, como a capa de pele e as botas de couro utilizados pelo vilão na cena em que Thomas Hutter (Nicholas Hoult) o encontra no castelo. Por conta do peso, o casaco precisou de um arnês embutido para facilitar a performance de Bill Skarsgård.
Assim como outros profissionais de artesanato de trabalhos anteriores, Linda Muir assinou o figurino dos outros três longas-metragens de Robert Eggers: A Bruxa (2015), O Farol (2019) e O Homem do Norte (2022). A releitura de Nosferatu era um desejo antigo do diretor. No ensino médio, ele chegou a dirigir uma peça de teatro baseada no clássico do cinema que, por sua vez, é inspirado no romance Drácula, de Bram Stoker.