Nos EUA, marcas se unem para criar roupas e máscaras hospitalares
Brandon Maxwell, Los Angeles Apparel, Karla Colletto e Christian Siriano estão entre estilistas e grifes que atuam contra o novo coronavírus
atualizado
Compartilhar notícia
Há pouco mais de uma semana, a moda norte-americana viu suas lojas e fábricas fecharem, voluntariamente ou por decreto do governo, para ajudar a impedir a propagação do novo coronavírus. No entanto, em vez de focar nas vendas em domicílio, como vêm fazendo algumas marcas brasileiras, as etiquetas do país se mobilizaram para criar máscaras e roupas aos profissionais da saúde, incansáveis no atendimento de milhares de pacientes que chegam aos hospitais diariamente.
Queridinho de Lady Gaga e responsável pelos quatro visuais que a cantora usou no Met Gala 2019, Brandon Maxwell passou os últimos dias pesquisando tecidos para criar roupas de proteção a enfermeiros e médicos que lutam contra a Covid-19. De casa, o designer e sua equipe planejam fabricar máscaras e luvas de acordo com as medidas de segurança para profissionais da saúde, assim que esses requisitos estiverem claros.
Um pouco mais à frente, a Los Angeles Apparel já desenvolve máscaras cirúrgicas e, nesta segunda-feira (23/03), começa a produzir roupas de hospital. Dov Charney, fundador e ex-CEO da American Apparel, espera que sua fábrica forneça 300 mil máscaras e 50 mil batas hospitalares apenas nesta semana.
Charney começou a fabricar os itens de proteção há algumas semanas, quando previu a escassez no varejo. Como sua empresa trabalha com alguns procedimentos tóxicos, muitos de seus funcionários já usavam máscaras para se protegerem. “Não são máscaras N95, mas são equivalentes a máscaras cirúrgicas”, disse ao New York Times.
Feitas em um tecido semelhante aos usados na criação de camisetas, elas se encaixam bem no rosto e são presas por duas tiras, com um ajustador de metal no nariz. Charney agora conversa com agências federais e municipais para atender mais estabelecimentos. Até o momento, ele reabasteceu os estoques de hospitais em Seattle, Nova York, Las Vegas e no Novo México.
Os centros de saúde de Los Angeles recebem as máscaras gratuitamente, enquanto os consumidores podem comprar um pacote com três exemplares no site da Los Angeles Apparel, por US$ 30. Todas as 450 pessoas que trabalham na fábrica do empresário estão devidamente protegidas, assim como qualquer fornecedor que entra no espaço.
Além disso, os funcionários são sujeitos a verificações diárias de temperatura e distanciamento social. Até agora, ninguém testou positivo para o vírus que causa a Covid-19. A decisão de fabricar máscaras beneficia a imagem Charney, que deixou a American Apparel, em 2014, em meio a acusações de assédio sexual.
O parque industrial da empresa Karla Colletto, localizado na Virgínia, gera de 800 a 1 mil peças por semana. Porém, como muitas outras companhias, a label decidiu interromper sua produção para ajudar a combater a escassez de equipamentos de proteção individual.
Enquanto os 40 funcionários da fábrica trabalham no desenvolvimento de máscaras e roupas hospitalares, a marca aguarda os tecidos e modelagens usados pela 3M, uma das empresas que produz os respiradores N95. A meta é fornecer itens adequados aos profissionais da saúde.
Depois de finalizados, os objetos são repassados a distribuidores de suplementos hospitalares, que vendem os produtos, a preço de custo, aos locais que mais necessitam. “Como temos nossas próprias instalações, podemos ser flexíveis e trocar de marcha rapidamente”, afirma Colletto ao New York Times.
O dinheiro arrecadado garante o pagamento dos empregados, que trabalham sob as diretrizes de segurança da Administração de Segurança e Saúde Ocupacional, com 1,5 m de distância entre eles.
Depois que governador de Nova York, Andrew Cuomo, fez um apelo durante uma coletiva para que as empresas sejam criativas na fabricação de equipamentos de proteção, o estilista Christian Siriano se comprometeu a atender parte da demanda, produzindo alguns milhares de máscaras por semana.
“Felizmente, é uma coisa muito fácil de fazer. Vamos usar um tecido lavável que já temos. Isso é ótimo porque, esperançosamente, eles poderão usar as máscaras por dois ou três dias, em vez de descartá-las sempre”, afirma ao WWD.
Feitas em poli-lycra de algodão, as máscaras de Siriano estão sendo analisadas pelo escritório do governador. “Elas precisam ser brancas, para que possam ser alvejadas e esterilizadas”, explica o estilista ao New York Times.
Antes da suspensão do comércio na cidade de Nova York, as 10 costureiras do ateliê do designer foram enviadas para casa com tecidos e máquinas de costura. O ex-participante do reality show Project Runway está ciente de que sua equipe não está qualificada para fazer produtos de grau médico, mas espera conseguir ajudar assistentes sociais, recepcionistas e outros funcionários que tenham contato com os infectados.
A fabricação dos itens começou nesta segunda-feira (23/03) e, até o fim desta semana, o estilista espera gerar 1 mil unidades. Embora, inicialmente, as máscaras sejam ofertadas de forma gratuita, ele confessa que, se a demanda continuar aumentando, uma ajuda de custo não cairia mal. “Infelizmente, não posso me dar ao luxo de continuar para sempre. Meu negócio é autônomo”, defende.
Nos próximos dias, Siriano também pretende confeccionar roupas para proteção individual e máscaras de nível médico, mas, para isso, precisa reabrir seu escritório. Neste momento, ele aguarda um posicionamento de Andrew Cuomo, que averigua a possibilidade de higienizar e adequar o local de acordo com as medidas de segurança e proteção.
Ao WWD, o designer diz que espera empolgar outros colegas com sua atitude. “Eu realmente acho que, se alguém ainda tem equipes que possam costurar, especialmente em Nova York, poderíamos fazer algumas centenas por dia. Existem tantas pessoas que trabalham em um hospital. A moda pode, realmente, mudar tudo em uma semana. Ninguém está comprando roupas, então, o que podemos fazer? Espero que todos possam participar”, afirmou ao site.
Assim como as fábricas automotivas foram reequipadas durante a Segunda Guerra Mundial para abastecer os militares, a indústria têxtil tem dedicado sua produção às demandas geradas pelo surto de coronavírus. Depois de direcionar algumas de suas fábricas à produção de álcool em gel, o conglomerado de luxo LVMH fornecerá à França 40 milhões de máscaras para combater a escassez do produto enfrentada pelo país.
O grupo, que detém grifes como Louis Vuitton, Dior e Givenchy, comprou os itens de um distribuidor chinês e fornecerá, semanalmente, 7 milhões de máscaras cirúrgicas e 3 milhões de máscaras FFP2, modelo mais robusto usado na construção civil. O presidente e CEO do LVMH, Bernard Arnault, financiou a primeira entrega, que custou 5 milhões de euros, de seu próprio bolso.
Na Espanha, o grupo Inditex, que dirige a Zara, também começa a reestruturar suas fábricas para produzir roupas hospitalares, ao passo que Kerby Jean-Raymond, proprietário e designer da label Pyer Moss, emitiu um pedido de máscaras e outros suprimentos de proteção no Instagram.
Na publicação, Kerby Jean-Raymond revelou que iria transformar o escritório de sua etiqueta em centro de doação de máscaras, luvas e roupas hospitalares, acrescentando um contato no qual médicos e enfermeiros necessitados podem solicitar os itens adquiridos.
Em meio ao cenário de contenção, a coluna espera que as únicas tendências trabalhadas pelas marcas de moda sejam a conscientização e o altruísmo.
Colaborou Danillo Costa