Nike lança quatro modelos de tênis desenvolvidos com resíduos de fabricação
Com a linha Space Hippie, gigante esportiva dá um novo passo rumo à produção sustentável ao transformar lixo em calçados desejáveis
atualizado
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Antes do novo coronavírus se alastrar pelo mundo, a sustentabilidade era o maior debate da indústria têxtil. Os maiores conglomerados do setor se apressavam para encontrar especialistas que os guiassem rumo a uma produção mais limpa, enquanto as marcas e consumidores abandonavam de vez o uso de peles. Por alguns meses, essa movimentação ficou à sombra da crise gerada pela pandemia, porém, conforme as políticas de distanciamento social são afrouxadas pelo mundo, as etiquetas de moda começam a retomar as ações voltadas à preservação ambiental. A Nike, por exemplo, acaba de lançar quatro modelos de tênis desenvolvidos com restos de sua produção.
Vem comigo conferir!
Todos os calçados da linha Space Hippie são feitos com, pelo menos, 25% de materiais reciclados, retirados diretamente das lixeiras da Nike. O nome do compilado faz referência ao hábito dos astronautas de coletar, armazenar e reaproveitar coisas encontradas no espaço. Assim como é feito na Nasa, em vez de jogar fora os recortes que sobram na fabricação de seus calçados, a companhia esportiva passou a catalogar os resíduos de fabricação, para dar vida a novos itens.
O resultado da iniciativa foi a coleção com menor quantidade de carbono da empresa. O tricô na parte superior dos tênis é completamente feito a partir de fios Space Waste, um poliéster construído com garrafas plásticas usadas e restos de tecido e linha. O amortecimento das peças, por sua vez, é criado a partir dos resquícios das solas Vaporfly, que demandam apenas metade do CO2 usado nas outras espumas da etiqueta.
Os esforços para desenvolver sapatos a partir de materiais dispensados não são bem uma novidade na moda. A concorrente Adidas, inclusive, divulgou seu primeiro modelo 100% reciclado no ano passado. Todavia, a Nike conseguiu cumprir a difícil missão de tornar o upcycling desejável.
“O design pode ser uma ferramenta para impulsionar a adoção de novos comportamentos. Esse é o objetivo aqui: fazer você querer experimentar a peça”, comentou o líder de sustentabilidade da Nike, Noah Murphy-Reinhertz, ao Highsnobiety.
O intuito da companhia é tornar a sustentabilidade atraente, independente de quanto a label irá lucrar com isso. “Acho que não cabe a nós tentar enxergar a sustentabilidade como uma maneira de vender produtos. Trata-se de participar de uma conversa que existe. Os consumidores desejam opções politicamente corretas, mas eles querem que o visual seja legal”, defendeu o estilista.
Segundo Murphy-Reinhertz, o processo criativo da linha Space Hippie começou após a gigante esportiva realocar ele e sua equipe para uma sala com recursos limitados. “É exatamente assim que o futuro do design se parece, porque temos que reconhecer as limitações para depois tentar projetar algo possível naquele contexto”, analisou Noah ao portal.
A coleção, inicialmente voltada às Olimpíadas, estava prevista para chegar o mercado no dia 11 de junho, mas a Nike decidiu adiar o lançamento no mercado americano para 3 de julho. No Brasil, as criações serão vendidas na Cartel 011, custando entre R$ 599,90 e R$ 799,90. O Space Hippie 03, modelo mais caro, é feito com pelo menos 45% de material reciclado.
Embora a única solução para o impacto da moda no meio ambiente seja consumir e produzir menos, o argumento da sustentabilidade tem sido usado para colocar mais roupas em circulação. O projeto Space Hippie poderia ser apenas mais um trabalho reciclado superfaturado, porém, a Nike conseguiu entender que sacrificar o design em nome das emissões de CO2 não é o caminho para convencer o consumidor.
Ao redirecionar uma quantidade significativa de detritos, que, de uma forma ou de outra, terminariam nos aterros sanitários, a empresa demonstra estar limpando sua bagunça antes de renovar os processos de fabricação por completo. Que este comportamento contagie toda a indústria!
Colaborou Danillo Costa