NFTs estão na moda! Entenda a importância da arte digital no setor
Os tokens com registro em blockchain foram aderidos por grandes etiquetas. O comércio dos NFTs também chama a atenção de investidores
atualizado
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Os NFTs ou non-fungible tokens (tokens não fungíveis, em tradução livre) dão aos itens virtuais uma autenticação digital atribuída via blockchain. O assunto começou a ganhar atenção após memes e artistas abrirem as portas para o mercado, atualmente, bilionário. Não demorou para as marcas de moda também apostarem no setor, considerado a última tendência em tecnologia. De acordo com o relatório Meta Trend, que sintetizou mais de 500 trends encontradas em 40 relatórios, o consumo virtual está entre as 14 apostas culturais mais sugeridas para 2022, abraçando também os tokens. E é de olho nas movimentações da indústria da moda que a coluna preparou um compilado sobre o tema.
Vem conferir!
O que é NFT?
O metaverso é um universo paralelo acessível em realidade aumentada ou virtual. Especialistas defendem que o termo é o futuro da internet. Contudo, os NFTs são itens digitais, cujo valor está no certificado de autenticidade que os acompanha e os torna, assim, únicos. Estudiosos também chamam o conjunto de “web3”.
A autora e especialista Caroline Kalil, que escreve semanalmente sobre o metaverso na Coluna Cláudia Meireles, no Metrópoles, define: “Um token é uma representação digital de um ativo, como dinheiro, uma propriedade, obra de arte ou uma roupa virtual. Ele é registrado em um blockchain, um banco de dados coletivo, distribuído e imune a alterações”.
Em relação à posse real das NFTs, Carol explica que será apenas daquele indivíduo que possui o token não fungível. O comprovante de autenticidade é, basicamente, um código de computador que fica registrado dentro do blockchain, fazendo gerar, assim, a sua escassez.
Logo, quem investe em um NFT, dentro de um marketplace, recebe uma chave privada (código de computador). Com apenas esses números, a pessoa pode desfrutar das exclusividades deste NFT. Vale relembrar que os tokens são comercializados em criptomoedas.
Metaverso
O metaverso é mais antigo do que parece. O autor americano Neal Stephenson cunhou o termo em um compilado romântico de 1992. Nas páginas da obra do livro de ficção científica, batizado de Snow Crash (Queda de Neve, em tradução livre), o escritor detalha um mundo digital em 3D frequentado por avatares, sendo representações virtuais de pessoas.
Nos últimos anos e com o crescimento dos games, a expressão foi atualizada e muitos entusiastas falam que a população vai morar em uma realidade digital. Com o nome em alta, o Facebook atualizou o nome da empresa para “Meta”, assim como a própria definição. “O metaverso é um conjunto de espaços virtuais onde você pode criar e explorar com outras pessoas que não estão no mesmo espaço físico que você”, reforçou o CEO da rede, Mark Zuckerberg.
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Além disso, o metaverso pode ser um tipo de jogo virtual ou de realidade aumentada. Os games, como Second Life, Roblox e Fortnite, já são considerados pelo termo. Plataformas digitais também dão pistas de como vai ser a nova infraestrutura on-line.
Entre elas, está a Decentraland, pioneira entre os usuários do metaverso, que também hospedou a primeira Metaverse Fashion Week (MVFW), entre os dias 24 a 27 de março, reunindo cerca de 108 mil pessoas. Vale destacar que o ambiente é destinado à socialização e à comercialização dos NFTs, e é uma plataforma 3D administrada por um grupo de usuários.
Na primeira semana de moda no metaverso, marcas como a Dolce & Gabbana, Elie Saab, Tommy Hilfiger, Paco Rabanne, Etro, DKNY, Charles & Keith e Prive Proter, estrearam o lineup de apresentações. A italiana D&G, inclusive, desfilou 20 looks digitais para serem leiloados como NFTs.
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Marcas de moda com itens em NFT
O frenesi em relação aos produtos de moda digitais vem aumentando graças à popularização dos jogos on-line. Em novembro de 2018, a multimarcas escandinava Carlings lançou sua primeira coleção de roupas digitais. Já no ano seguinte, a Louis Vuitton anunciou a parceria com o game League of Legends.
O Fortinite e o Animal Crossing começaram a atrair marcas de moda para a plataforma do jogo, como Valentino, Marc Jacobs e GCDS. De forma paralela, as grifes também passaram a apostar em produtos exclusivamente digitais, como a Buffalo London com o tênis em chamas. A Gucci, por sua vez, criou sneakers que também podem ser encaixado nas fotos, antes de serem postadas nas redes sociais.
O assunto que está na moda, literalmente, são os NFTs, que podem mudar a percepção do comércio do setor fashion. Eles surgem como opção para quem comercializa ou compra, e busca produtos exclusivos com certificação de autenticidade, tanto na moda quanto na arte e no designer.
Marcas já embarcam no mercado dos NFTs, que rapidamente se tornou milionário. Entre as adeptas, Prada, Burberry e Givenchy. A Gucci também já decidiu apostar na onda das artes digitais e lançou o primeiro NFT como um fashion filme, inspirado na coleção Aria, integrando um leilão da casa Christie’s. O token que homenageia os 100 anos da grife foi arrematado por US$ 25 mil, no dia 3 de junho.
Em parceria com a Offsetra, a Gucci investiu em 10 toneladas de compensação de carbono, com o objetivo de reduzir os impactos ambientais da criação do NFT. O blockchain também poderá beneficiar as grifes de moda, garantindo a autoria dos produtos e facilitando as investigações de possíveis cópias.
Além das grifes internacionais, marcas brasileiras também embarcam no setor, a exemplo da Melissa, Havaianas e Pantys. Já no ramo esportivo, a Adidas entrou no metaverso em dezembro do ano passado, em parceria com três grandes nomes do mercado de NFTs: Bored Ape Yacht Club, Punks Comic e Gmoney.
Para o colecionador e investidor Alexandre Crocetti, a coleção da companhia alemã batizada de Into The Metaverse (No Metaverso, em tradução livre) criou uma comunidade e aproximou o contato dos fãs com a marca: “A chance de um projeto desse porte falhar é menor do que de outras marcas que não estão preocupadas, de fato, em criar uma comunidade com o público”, opina, em entrevista à coluna.
“Eu sempre gostei da Adidas e como tudo é muito novo nesse meio de web3, NFTs, pelo preço oferecido, valia a pena o investimento. Atualmente, os dois NFTs que comprei valem mais de US$ 5 mil. E isso não é um aconselhamento financeiro! Mas, além dos tokens, a Adidas vai entregar em novembro, um moletom, gorro e um conjunto tracksuit, desenvolvidos exclusivamente para quem quem possui os NFTs deles”, celebra.
WEN? EARLY ACCESS MINTING STARTS NOW
First look of the collaborative NFT with @gmoneyNFT @punkscomic and @BoredApeYC
Good luck and #TracksuitUp pic.twitter.com/REYOSdRbNT
— adidas Originals (@adidasoriginals) December 17, 2021
O outro lado da moeda
Para o fotógrafo de moda e criador de séries em NFTs Max Rocha, ter uma assinatura digital criptografada é importante para uma emancipação dos criadores. “As transações podem ser feitas diretamente, e você não precisa necessariamente de um de um intermediário”, aponta.
O artista também acredita na importância de criar uma comunidade que engaje nos projetos. Ele enxerga a indústria de NFTs como um local de experimentações e de inúmeras possibilidades. “No início da pandemia, eu me dediquei à produção de materiais que tinham significados para mim no momento. Eu vejo os tokens como um registro para que eles não se percam no futuro. Ainda não se sabe até onde isso vai evoluir, mas precisamos usar as ferramentas a nosso favor”, defende.
Enquanto marcas e artistas independentes conquistam espaço na indústria de NFTs, a Hōl.Studio, casa de moda digital e 3D, também dá inicio ao seu próprio ecossistema de iniciativas de base tecnológica, em busca da digitalização e sustentabilidade na moda. No portfólio, a empresa coleciona a criação de cenários, modelagem 3D para a visualização de tecidos e até eventos, como o Trendview, que reúne a indústria têxtil e de confecção para debates sobre o mercado de moda.
A empresa, criada por David Chang, e cofundada com Bernardo Nery, adiantou à coluna o lançamento da marca Fuzzee. Para a estreia, 10 looks serão transformados em NFTs. O compilado também seguirá as vertentes da hōl, que foca na arte, em colaborações e, principalmente, na redução dos desperdícios de lixo na moda.
“Temos que mostrar que essa nova leva de comunidade crypto e ambientes digitais 3D vão ser muito habituais. A gente acredita que a moda é para você vestir e também se quiser se expressar no canal digital! Logo, no nosso sentido estratégico, acreditamos que o NFT é uma porta de entrada para o metaverso”, introduz Bernardo, que acredita na moda autoral e humana.
Moda é arte?
A moda flerta com a arte há muitos séculos, influenciada diretamente pelos movimentos artísticos. Como resultado, as coleções são embasadas por conceitos. Foi no século 19 que o costureiro Charles Frederick Worth, considerado o pai da alta-costura, passou a dar forma a vestidos feitos sob medida que conquistaram o título de verdadeiras obras de arte.
De lá para cá, o público que consome, de fato, a haute couture passou a ser conhecido como um nicho de colecionadores, pelas próprias marcas de luxo. Trata-se de um segmento extremamente exclusivo e sustentado por cerca de quatro mil consumidores globais.
Para um bom colecionador, que busca exclusividade e até mira em investimentos, os NFTs das grifes podem ser uma nova aposta, destinada ao público que consome alta-costura. “O luxo está na vanguarda” e no novo mundo virtual do metaverso e NFT, porque “compartilham os mesmos valores: raridade, exclusividade, dimensão VIP, preços altos”, explicou à AFP o diretor do Journal du Luxe, Eric Briones.
O mercado dos NFTs, que vem sendo estruturado e embasado, é promissor. Um estudo divulgado pelo banco Morgan Stanley, em novembro de 2021, estima que NFTs e jogos on-line, em geral, podem representar 10% do mercado de luxo em 2030, ou até 50 bilhões de euros em receita das labels.
Colaborou Sabrina Pessoa