Morte de André Leon Talley: saiba a trajetória do jornalista de moda
Ex-editor da Vogue trouxe diversidade para a publicação e ampliou o debate sobre representatividade na indústria fashion
atualizado
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Nessa terça-feira (18/1), o mundo se despediu de um dos maiores ícones da moda de todos os tempos: André Leon Talley. O ex-editor da edição norte-americana da revista Vogue por três décadas faleceu em decorrência de um ataque cardíaco. De confidente de Anna Wintour à ativista da causa racial no meio fashion, relembre a trajetória do jornalista.
Carreira
No documentário O Evangelho Segundo André Leon Talley, lançado em 2018, a atriz Whoopi Goldberg o descreveu como “alguém que era muitas coisas que não deveria ser”. Em uma indústria que tanto privilegia pessoas que estão dentro dos padrões impostos socialmente, o jornalista de moda conquistou o seu lugar de destaque e mudou, à sua maneira, as regras do jogo. Ao longo da carreira, lidou com o racismo, gordofobia e etarismo.
Talley nasceu na cidade de Washington, nos Estados Unidos, no dia 16 de outubro de 1948. Criado pela avó no estado da Carolina do Norte, formou-se em estudos franceses na Universidade Central da Carolina do do Norte e fez o mestrado na Universidade de Brown, onde escreveu a sua tese sobre a influência das mulheres negras nas poesias de Baudelaire e Flaubert, e nas pinturas de Delacroix.
Em 1974, André mudou-se para Nova York. A decisão não poderia ter sido mais decisiva para a carreira do jornalista de moda. Tornou-se aprendiz no Metropolitan Museum of Art (MET) e, posteriormente, passou a colaborar nas revistas Vanity Fair e Interview.
Mas foi na década de 1980 que ele escreveu um importante capítulo para moda contemporânea: tornou-se o primeiro editor negro na história da revista Vogue, publicação que permaneceu por três décadas — com um pequeno hiato entre 1995 e 1998. Muito mais do que um colega de trabalho, Talley mantinha uma relação de amizade com Anna Wintour, com quem era visto na fila A de desfiles renomados.
Nas últimas cinco décadas, como ícone internacional, foi confidente próximo de Yves Saint Laurent, Karl Lagerfeld, Paloma Picasso, Diane von Furstenberg, Bethann Hardison, Manolo Blahnik. André Leon Talley tinha uma propensão a descobrir, nutrir e celebrar jovens designers.
Personalidade e estilo
“Vá para a escola, pegue o seu diploma, e siga a sua intuição. Não se desculpe por ser quem você é. O estilo pessoal é excelente quando é apoiado por conhecimento e confiança”, aconselhou André Leon Talley no livro The Chiffon Trenches.
Assim como a sua trajetória profissional, que foi marcada pela genialidade, ousadia e gosto impecável, as roupas dele eram uma declaração à parte. A dramaticidade estava nas capas com tecidos acetinados, nos óculos gigantes e nos chapéus com plumas.
O jornalista de moda nunca se preocupou em se adequar às regras da moda. Muito pelo contrário, as suas produções irreverentes chamavam a atenção por onde passava. Ele se vestia com base em suas emoções. “As roupas são o meu cobertor de segurança e meus looks são a minha armadura contra o mundo das trincheiras de chiffon”, disse no documentário O Evangelho Segundo André Leon Talley.
Legado na moda
Para o jornal The New Yorker, apenas uma palavra poderia definir André Leon Talley: único. Um dos poucos profissionais negros em posição de destaque na moda, ele rompeu barreiras e trouxe representatividade para uma indústria majoritariamente branca e elitista.
Fazendo parte de momentos históricos, foi o responsável por apresentar a Michelle Obama a Jason Wu. Depois, o estilista desenhou o vestido de posse da então primeira-dama dos Estados Unidos, tanto em 2009 quanto em 2013.
Ele também mentoriou a supermodel Naomi Campbell. Inclusive, em um icônico ensaio para a Vanity Fair, ele escalou Naomi como Scarlett O’Hara, personagem do longa E o Vento Levou. Antes mesmo da bolha fashion ter pautas raciais em voga, ele provocou o questionamento sobre a falta de protagonistas negros nas produções.
André escreveu vários livros, incluindo Valentino, ALT: A Memoir, ALT 365+ e Little Black Dress for Assouline. Também contribuiu para Valentino: At the Emperor’s Table e Cartier Panthère.
Ele foi o tema do documentário O Evangelho Segundo André e seu recente livro de memórias, The Chiffon Trenches, tornou-se um best-seller do New York Times. Em 2014, foi nomeado diretor artístico da Zappos Couture e integrou o Conselho de Curadores da Savannah College of Art and Design.
Colaborou Marcella Freitas