Morre Mama Cax, modelo símbolo da inclusão na indústria da moda
Em Londres para uma sessão de fotos, a haitiana foi hospitalizada com coágulos no corpo, ganhou alta, mas faleceu em quarto de hotel
atualizado
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Sobrevivente do câncer e defensora da inclusão na indústria da moda, a modelo Mama Cax faleceu na última segunda-feira (16/12/2019). A notícia foi dada pelo Instagram da haitiana, na sexta-feira (20/12/2019), mas ainda não se sabe o que levou a jovem de 30 anos a morrer.
Uma semana antes do óbito, enquanto estava em Londres para uma sessão de fotos, Mama falou em suas redes sociais que deu entrada em um hospital da cidade com coágulos de sangue na perna, coxa, abdômen e perto de um filtro nos pulmões, colocado lá para o tratamento de um câncer diagnosticado na adolescência.
Segundo a atriz Jameela Jamil, amiga da modelo, Cax chegou a ganhar alta, mas não resistiu ao avanço do quadro. “Minha linda amiga era a modelo mais extraordinária. Ela foi uma sobrevivente, modelo e ativista do câncer. Ela foi mandada para casa duas vezes, prematuramente, pelo nosso subfinanciado Serviço Nacional de Saúde e morreu em seu quarto de hotel. Isso tem acontecido com tanta frequência no Reino Unido, especialmente para jovens negras “, lamentou a estrela no Twitter.
Na publicação feita pela família no Instagram da modelo, foi enfatizado que ela lutou contra a doença com “a mesma coragem” com a qual batalhou contra o câncer. “Dizer que Cax foi uma lutadora é um eufemismo. Como sobrevivente de um câncer, ela se acostumou a enfrentar vários desafios da vida, com a cabeça erguida”, dizia o post.
Aos 14 anos, a haitiana foi diagnosticada com câncer nos ossos e pulmão. Ela foi submetida a uma cirurgia de substituição do quadril, mas complicações na recuperação resultaram na amputação de sua perna direita, aos 16 anos.
“Comecei a usar as mídias sociais para falar sobre as inseguranças geradas pelo câncer infantil, que me deixou com um milhão de cicatrizes (principalmente emocionais) e uma perna amputada”, escreveu ela em um post no Instagram, em novembro.
Em seus 30 anos de vida, Mama Cax quebrou barreiras ao protagonizar campanhas e desfiles, mesmo não se enquadrando nos ultrapassados padrões da indústria têxtil. Em 2016, ela participou do primeiro desfile de moda da Casa Branca e do editorial Take Back The Beach, do renomado site Refinery 29.
Graças a visibilidade daquele ano, ela foi convidada a participar de uma campanha da Wet ‘n’ Wild, em 2017, figurou em uma capa da Teen Vogue, em 2018, e trabalhou com marcas como Sephora, Tommy Hilfiger, ASOS e Savage x Fenty, de Rihanna, onde atuou no comentado show transmitido na Amazon, em setembro deste ano.
A estrela de Barbados fez um emocionante post em seu Twitter, lembrando a importância da representatividade presente nos trabalhos da profissional. “Rainha. Uma beleza poderosa que trouxe sua força para o show da @savagexfenty deste ano, inspirando tantas pessoas em todo o mundo. Descanse em paz, irmã”, publicou Rihanna.
Mama estreou nas passarelas em um desfile da Chromat, em 2018, durante o New York Fashion Week, onde também brilhou no street style. Suas roupas destemidas, carregadas de referências, cores e formas, sempre contrastavam com suas próteses estampadas.
Nas redes sociais, Mama ganhou seguidores por falar francamente sobre os percalços de sua condição, incluindo diferentes perspectivas ao debate. A ferocidade com que ela defendia o autocuidado, o amor próprio e a autoconfiança fez dela uma força inegável, ajudando a desencadear uma fase mais empoderada na indústria da moda.
Depois de falar em um recente painel da Oprah Magazine, ela postou em seu Instagram: “O movimento body positive não é apenas sobre abraçar a si mesmo, mas todos os corpos. Eu sempre lembro ao meu público que seus corpos lhes permitiram trabalhar e, no final do dia, levá-los aos seus entes queridos. Se você não está pronto para amar seu corpo pela aparência, admire-o por onde ele te levou”, escreveu.
Em um post sobre a marca de moda Henning, onde Cax usava uma prótese transparente, ela escreveu: “Depois da minha amputação, eu tinha tantas inseguranças corporais. Se meu futuro me dissesse que um dia eu transcenderia esses sentimentos e começaria a ver meu corpo como arte, nunca acreditaria nisso”. De fato, uma obra-prima que ecoará entre os momentos mais reluzentes da moda. Vá em paz, Mama!
Colaborou Danillo Costa