Miuccia Prada e funcionários farão curso sobre igualdade racial
A medida é parte de um acordo que a marca firmou com a Comissão de Direitos Humanos de Nova York, depois de incidente considerado racista
atualizado
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No fim de 2018, a Prada foi acusada de blackface e gerou revolta na internet. A polêmica começou com acusações de que o personagem Otto Toto, da coleção Pradamalia, representaria um estereótipo racista. Na época, a grife italiana retirou o produto das lojas e se retratou com o público.
No entanto, o incidente também resultou em uma investigação e, posteriormente, em acordo com a Comissão de Direitos Humanos da cidade de Nova York. Como parte da negociação, funcionários da label, incluindo a própria Miuccia Prada, terão de participar de curso sobre igualdade racial. Vem comigo entender!
Entenda o caso
Em 13 de dezembro de 2018, a advogada Chinyere Ezie publicou nas redes sociais um relato indignado. O post mostrava a vitrine da loja da Prada no centro de Nova York cheia de figuras da Pradamalia. Entre elas, estavam chaveiros do boneco Otto.
A associação com blackface foi imediata. O termo refere-se a uma prática do século 19, quando brancos pintavam o rosto com carvão e usavam batom vermelho para satirizar pessoas negras em apresentações teatrais. Personagens da época, como Little Black Sambo e Golliwog, representavam essa visão racista.
“Entrei na loja com um colega apenas para ser agredida com mais e mais desconcertantes exemplos de imagens do Sambo. Quando perguntei ao trabalhador da Prada se ele sabia que haviam colocado imagens racistas em toda a loja, em um momento de surpreendente franqueza, ele me disse que um funcionário negro havia questionado sobre o blackface, mas não trabalhava mais lá”, reclamou Chinyere à época.
A acusação viralizou e foi repostada pelo Diet Prada. Depois do ocorrido, a grife se desculpou. “O grupo Prada nunca teve a intenção de ofender ninguém e nós abominamos todas as formas de racismo e imagens racistas. Nesse interesse, nós iremos retirá-los de exposição e circulação”, declarou.
“A semelhança dos produtos ao blackface não foi, de forma alguma, intencional, mas nós reconhecemos que isso não justifica o dano causado. De agora em diante, nós juramos melhorar nosso treinamento em diversidade e vamos imediatamente formar um conselho consultivo para guiar nossos esforços de diversidade, inclusão e cultura”, comprometeu-se.
Acordo
Ainda em dezembro de 2018, a Comissão de Direitos Humanos da cidade de Nova York enviou uma carta à Prada e abriu discussões. Já em janeiro de 2019, Chinyere Ezie apresentou queixa oficial ao colegiado, que iniciou uma investigação e passou a estudar as providências necessárias.
No mês seguinte, a marca italiana criou o Conselho Consultivo de Diversidade e Inclusão que havia prometido. O grupo é presidido por dois ativistas: a cineasta Ava DuVernay e o especialista em artes visuais e pesquisador Theaster Gates.
O processo se estendeu e culminou em um acordo assinado em 4 de fevereiro de 2020, ao qual o New York Times teve acesso. Como parte das exigências, a Prada terá que promover, nos próximos 120 dias, um curso de conscientização englobando o tema Equidade Racial.
As aulas serão assistidas pelos funcionários de Nova York e pelos executivos que ficam em Milão, sede da marca. O pacto também determina que o conselho consultivo da Prada continue apresentando relatórios semestrais de avanços por, no mínimo, seis anos.
O acordo impõe ainda que a etiqueta indique um oficial de diversidade e inclusão. Os candidatos serão aprovados pela Comissão de Direitos Humanos. A pessoa escolhida terá cargo de direção. Uma das responsabilidades inclui “revisar os produtos da Prada antes de serem vendidos, anunciados ou promovidos de qualquer forma nos Estados Unidos”.
Além disso, a Prada deverá informar ao colegiado “a composição demográfica” de seus empregados em todos os níveis. Outro requisito é que o quadro de funcionários seja ampliado em relação ao “número de pessoas de classes sub-representadas na indústria da moda”.
De acordo com o New York Times, a Comissão de Direitos Humanos de Nova York já está conversando com outras marcas. Dior e Gucci, por exemplo, estão na mira. O objetivo é proporcionar mudanças significativas na indústria como um todo.
Colaborou Rebeca Ligabue