Milão Fashion Week tem mais de 20 desfiles presenciais em meio à pandemia
Marcas renomadas, como Fendi, Alberta Ferretti e Dolce & Gabbana, levaram convidados aos locais de apresentação
atualizado
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Em tempos de coronavírus, apesar de as semanas de moda terem passado por diversas mudanças com a ajuda da tecnologia, há quem ache que já é hora de retornar ao “normal”. O Milão Fashion Week incluiu algumas iniciativas digitais (Prada, Versace e Emilio Pucci, por exemplo), mas sem deixar de lado as presenciais com plateia. As apresentações se iniciaram na última quarta-feira (23/9) e seguem até 28 de setembro. Marcas renomadas, como Fendi, Alberta Ferretti e Dolce & Gabbana, optaram por levar convidados aos locais de desfile.
O evento dividiu opiniões e levantou questionamentos: seria este um momento propício para a realização de shows físicos, ainda que com medidas de segurança? As grifes deveriam demonstrar mais empatia com as vítimas da Covid-19 e adequação à realidade, já que a pandemia ainda é preocupante? Vem comigo!
Vale destacar que a Itália foi fortemente afetada pela Covid-19. No globo, a nação foi a mais atingida entre março e abril. Atualmente, mais de 300 mil pessoas foram infectadas pela doença no país. Por lá, o número de mortes decorrentes do novo coronavírus já passou de 35 mil.
Entre as cidades que formam o circuito principal das semanas de moda internacionais, Milão foi, até agora, o único local em que a fashion week acontece bem próximo de sua forma tradicional. Em Nova York e em Londres, os shows virtuais foram quase unanimidade. Já na cidade italiana, foram previstos 23 desfiles presenciais.
A Fendi recebeu cerca de 130 convidados em um ambiente com capacidade para 1,5 mil pessoas. Contudo, celebridades como Rita Ora e Paul Mescal chegaram a posar com os rostos descobertos. Segundo o veículo britânico Guardian, paparazzi pediram à cantora para se aproximar de Kim Jones na primeira fila e, com isso, foi necessário que a segurança intervisse para garantir o distanciamento.
No show da grife homônima de Alberta Ferretti, a plateia estava consideravelmente cheia, embora posicionada ao ar livre. Outro exemplo da falta de controle foi o desfile da Dolce & Gabbana, que gerou várias aglomerações, inclusive no front row.
Além disso, na própria passarela, dezenas de modelos, sem qualquer tipo de proteção, desfilaram juntas ao final. Apenas os estilistas e fundadores da marca, Domenico Dolce e Stefano Gabbana, apareceram vestindo máscaras. Para completar, do lado de fora, profissionais da mídia e outros participantes formaram fila.
Fendi
O spring/summer 2021 da Fendi é definido como “uma colcha de retalhos de memórias projetadas por Silvia Venturini Fendi”. “O tempo passado com a família – gerações reunidas em casa em Roma – é um catalisador para uma introspecção tranquila: na janela ou no jardim, vendo o mundo passar”, definiu a etiqueta, em comunicado.
Entre os materiais utilizados, estão linho, algodão e penas. Para completar, tecidos acolchoados, que, segundo a label, evocam imagens de roupas de cama e mesa bordadas, remetendo a lembranças maternas passadas de mãe para filho.
Na cartela de nuances, destaque para tons suaves de branco e azul. Os tons terrosos, que estão no DNA da Fendi, não poderiam faltar. Na temporada, os degradês garantiram mais charme às composições.
Em um momento que pede simplicidade, a marca deixou o exagero sobretudo para os acessórios. Entre eles, véus de seda e bolsas de couro. Além disso, a label italiana apostou em cestas no estilo de piquenique feitas de PVC reciclado e malas de lona, apontadas como soluções funcionais para o dia a dia.
Dolce & Gabbana
Batizada de DG Sicilian Patchwork, a primavera/verão 2021 da Dolce & Gabbana foi revelada no endereço tradicional, o Metropol, na Viale Piave, durante a Semana de Moda de Milão. O propósito da marca foi “representar um símbolo de união de diferenças para criar algo único à mão”.
O trabalho foi inspirado na Sicília, a maior ilha do Mediterrâneo, assim como nas silhuetas, proporções e nos volumes do arquivo da label dos anos 1990. As tonalidades vibrantes e o maximalismo foram dos outfits ao cenário, enfeitado com colagens de diversas estampas.
Apesar de ter celebrado o artesanato, pode-se dizer que a D&G remou na contramão. Enquanto várias etiquetas miram em produções mais minimalistas e comfy, a grife de Domenico Dolce e Stefano Gabbana segue com a exuberância e a vibe espalhafatosa. A atitude é considerada por muitos como uma falta de conexão com a realidade.
Talvez fosse o momento de abraçar a sensibilidade e mergulhar ainda mais no estilo da viúva siciliana, que é uma homenagem constante feita pela etiqueta. Seria uma oportunidade para demonstrar empatia com a perda de inúmeras vidas para a Covid-19. No entanto, a pegada na passarela da grife italiana foi de descontração.
Entre os mais de 90 looks na catwalk, estavam vestidos de ampulheta, jaquetas de corte acentuado e muitos acessórios de cabeça. Babados, volume e várias camadas de tecidos completaram o exagero. Em patchworks, as padronagens se misturaram. Os diversos prints englobaram florais, poá, xadrez e listras.
Alberta Ferretti
A apresentação de Alberta Ferretti também foi presencial, na Cortile della Rocchetta, no Castelo Sforzesco, de Milão. Na coleção, é possível perceber uma pegada delicada, simplista e até utilitária.
Alberta Ferretti quis personificar uma “suavidade sedutora”. “Meu instinto foi responder a estes momentos difíceis com uma gentileza que, assim como o romance, considero uma manifestação de força”, frisou a estilista em comunicado.
As combinações do spring/summer 2021 são voltadas para o dia a dia, com casualidade e leveza. O mood veranil ficou evidente com tops, minissaias, vestidos fluidos e shapes frescos.
Prada
Por outro lado, a Prada foi uma das marcas que apostaram em eventos digitais. A grande estreia de Raf Simons como codiretor criativo da grife, ao lado de Miuccia Prada, finalmente aconteceu. Para apresentar a coleção primavera/verão 2021, batizada de Diálogos, a marca preferiu um desfile sem público. O vídeo pré-gravado teve como fundo um pano amarelo-narciso que foi do chão ao teto.
O compilado de peças propõe uma ideia da “moda como reflexo e reação ao tempo em que é inventada”, inspirada pelo encontro entre a tecnologia e a humanidade, tão fundamental nos tempos atuais, de distanciamento social. Assim como as próprias vestimentas adotadas pela maioria das pessoas durante a quarentena, a coleção não tem grandes floreios: simples, refinada e usável, como um uniforme do dia a dia, conceito abraçado pelo duo de diretores criativos.
Casacos utilitários, suéteres e moletons trazem praticidade e um toque simples e direto. A grife decorou alguns tops com a etiqueta triangular que leva o logotipo da marca, na parte da frente, um pouco abaixo das golas. As estampas trazem a arte de Peter de Potter, colaborador de Raf Simons há bastante tempo. Segundo a marca, elas exploram ideias de pensamento e processo.
Destaque para os recortes vazados redondos que aparecem em blusas de mangas longas. As saias, rodadas e volumosas, são de alfaiataria e têm tamanho midi, em cores como preto e cinza. Apesar da predominância das tonalidades mais sóbrias, a coleção tem nuances de roxo, laranja, vermelho e amarelo e rosa claro. Entre os sapatos, destaque para os scarpins com linguetas.
O desfile marcou a estreia de todas as modelos do casting que riscou a passarela da marca para esta coleção. Na trilha sonora, o músico eletrônico britânico-canadense Richie Hawtin, conhecido como Plastikman, colocou os nomes de cada uma delas, que também apareceram em telas de exibição.
No desfile, boa parte das modelos desfilou segurando o casaco para fechá-lo, um dos detalhes da simbologia pensada pela Sra. Prada e Simons. Após o desfile, a dupla de estilistas respondeu perguntas enviadas por fãs ao redor do mundo.
Versace
Donatella Versace optou por um show transmitido ao vivo, tendo apenas a equipe da label presencialmente. “O mundo mudou e nós mudamos. Temos repetido isso quase como um mantra por meses, mas no fim do dia, para um designer, isso significa começar tudo de novo”, disse a diretora criativa, em entrevista à Vogue Ruway.
“Queria fazer algo perturbador e quebrar as regras, porque acho que o que funcionou há alguns meses não faz sentido hoje. Criativamente, isso significou encontrar uma maneira de trazer o DNA da Versace para uma nova realidade e para as pessoas que passaram por uma mudança profunda”, acrescentou a estilista.
A coleção foi inspirada na beleza e no lado selvagem da natureza. Com um toque de fantasia, os looks são enérgicos. Assim como o cenário da apresentação, que retratou o universo subaquático, as estampas reuniram elementos marítimos, como estrelas do mar e algas. Nas composições, modelagens oversized, ombros marcados e mangas volumosas.
Emilio Pucci
Excepcionalmente, uma das marcas que preferiram apresentar as criações 100% virtualmente foi a Emilio Pucci. A label escolheu lançar um curta-metragem durante a semana de moda italiana. Intitulado Sulla Riva, o filme tem três minutos no total.
Com direção de arte assinada por Antonio Piccirilli, e direção geral de Tommaso Acquarone, o vídeo foi produzido pela Itaca Film. Nas imagens, em meio a árvores e à beira de um lago, modelos entram em um clima bucólico, com direito a passeio de barco e até dança.
Inspirado na ilha de Capri, o spring/summer 2021 é uma colaboração com o japonês Tomo Koizumi. “É um sonho que se torna realidade. Sempre desejei criar uma collab junto com uma marca com um patrimônio tão rico. Foi um enorme prazer ter a oportunidade de me inspirar na beleza atemporal dos estilos do Marquês Emilio Pucci e na harmonia perfeita das cores da marca”, comemorou o designer.
O resultado é conceitual e traz um ar tridimensional. Afinal, a coleção é um diálogo entre o caráter dinâmico da marca italiana e as formas estruturais do estilista. “Ambos os lados estão unidos por sua paixão pelas cores, uma forte visão das mulheres e uma abordagem gráfica e ousada das silhuetas”, descreveu a grife.
Programação
Para este domingo (27/9), estão previstas apresentações de marcas como MSGM, Spyder, Ji Won Choi e MM6 Maison Margiela. Na edição atual, a Valentino também está no lineup. A grife italiana comumente desfila em Paris, mas decidiu ficar em Milão nesta temporada devido à pandemia.
O diretor criativo da etiqueta, Pierpaolo Piccioli, destacou que a situação atual obrigou a grife a tomar uma decisão incomum. “Acredito que, neste momento, é de suma importância ficar com os pés no chão e focado e trabalhar em tarefas”, opinou em comunicado. “Milão é uma nova oportunidade, um grande projeto que estou desenvolvendo junto às minhas equipes, com o objetivo de trabalhar em torno da ideia de identidade”, completou o estilista.
Na segunda-feira (28/9), último dia de Milão Fashion Week, acontecem as apresentações digitais das labels Alexandra Moura, David Catalán e Miguel Vieira. Depois, a primavera/verão 2021 segue para Paris.
Colaboraram Rebeca Ligabue e Hebert Madeira