Microplásticos de tecidos podem inibir recuperação das vias aéreas
Estudo indicou o risco que essas minúsculas fibras podem trazer no caso de doenças respiratórias, como a Covid-19
atualizado
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O impacto nos oceanos é um dos tópicos mais comentados quando se fala sobre microplásticos têxteis, mas o problema é bem mais abrangente. Estudo recente aponta que as micropartículas das roupas de material sintético podem prejudicar a recuperação dos tecidos pulmonares em pacientes de doenças respiratórias, como a Covid-19. Além disso, os dados indicam que, em crianças, o desenvolvimento das vias aéreas pode ser afetado pelas pequenas fibras têxteis derivadas do plástico.
Vem entender o assunto!
Risco potencial
As evidências surgiram a partir de pesquisas da Universidade de Groningen, do Plymouth Marine Laboratory e da Organização Holandesa para Pesquisa Científica aplicada. O estudo focou em dois tipos de materiais: poliéster e náilon, os mais comuns em ambientes internos e, por isso, mais propícios à inalação prolongada do ser humano.
Os microplásticos podem vir, por exemplo, das roupas de material sintético ou de lençóis. Durante o uso ou quando passam por processos de lavagem e secagem, essas peças desgastam e, consequentemente, liberam as substâncias.
“Um vírus danifica os pulmões, por isso você precisa de reparo, e, se seus pulmões estiverem cheios de fibras que inibem esse reparo, então você terá outro problema além da Covid-19”, explicou a professora doutora Barbro Melgert, principal nome à frente do estudo, em entrevista ao Plastic Health Channel.
Para chegar a essa conclusão, pesquisadores colocaram sacos de ar organoides (que são como miniaturas de pulmões) e amostras de células das vias aéreas, em contato com partículas de náilon e poliéster, pequenas o suficiente para serem inaladas. O experimento durou duas semanas e concluiu que a exposição a essas fibras minúsculas pode inibir capacidade de recuperação dos tecidos pulmonares, em relação aos danos provocados por doenças respiratórias.
Impacto no meio ambiente
Não é de agora que as partículas de plástico são um assunto na indústria da moda e alvos de pesquisas nos últimos anos. O problema dos microplásticos começou em meados de 1950, quando a indústria mundial começou a produzir derivados do plástico em grande escala.
Como se sabe, as microfibras de tecidos sintéticos têm menos de 5 milímetros de comprimento e são liberadas ao longo da vida útil das peças de roupa, especialmente na lavagem. Dessa forma, essas partículas podem chegar aos rios e oceanos e funcionam como esponjas, acumulando outras substâncias químicas prejudiciais. A partir daí, são consumidas pela fauna marinha e, posteriormente, pelos seres humanos, quando se alimentam de peixes.
Para se ter uma ideia da imensidão do problema, um artigo científico da organização Ocean Wise aponta que o poliéster representa quase 3/4 da poluição por microplásticos do Oceano Ártico – um dos mais remotos. Laura Díaz Sanchez, ativista da Ocean Clean Wash, explicou que as fibras de poliéster são curtas, pontiagudas e se soltam facilmente, ficando suspensas no ar.
Esses materiais já foram encontrados em alguns dos principais órgãos humanos (pulmão, fígado, baço e rins), segundo estudo da Arizona State University (EUA). Além disso, um levantamento do Departamento de Biologia da Universidade de Victoria (Canadá) apontou que cada pessoa ingere até 121 mil partículas de plástico por ano, com variações de acordo com idade e sexo. Ainda não se sabe, contudo, os riscos à saúde provocados por essa ingestão.
Toneladas anuais de microfibras sintéticas
Conforme estudo publicado em setembro, pela Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, ambientes terrestres recebem 176,5 mil toneladas métricas de microfibras sintéticas anualmente, sobretudo de poliéster e náilon. Grande parte disso se deve ao consumo e produção em massa de fast fashion com fibras sintéticas, além do maior acesso às máquinas de lavar.
Colaborou Hebert Madeira