México x Louis Vuitton: entenda a mais nova polêmica do mundo da moda
Casa francesa é acusada de se apropriar do artesanato de artistas de Hidalgo em cadeira vendida por US$ 18 mil
atualizado
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Atenção, mundo da moda: não brinque com o México, pois o país está disposto a defender sua cultura com unhas e dentes. Depois de acusar a grife Carolina Herrera de se apropriar da identidade de seus povos indígenas em sua coleção resort 2020, o governo da nação acaba de comprar briga com outra grande etiqueta do universo fashion.
Vem saber comigo quem é o novo alvo!
Há menos de um mês, ao se deparar com as inspirações latinas de Carolina Herrera em seu mais novo compilado, a secretária de Cultura do México, Alejandra Frausto, enviou uma carta à marca. Nela, questionava a presença de desenhos e bordados característicos da terra de Frida Kahlo naquele trabalho.
No texto, Frausto pediu explicações sobre o que motivou o uso de tais elementos culturais e indagou sobre como isso beneficiaria as comunidades mexicanas. Agora, é uma cadeira da Louis Vuitton vendida a US$ 18 mil que inflamou os ânimos do governo mexicano.
Em mais uma carta enviada na última sexta-feira (05/07/2019), o Ministério da Cultura disse que ficou surpreso ao se deparar com desenhos da comunidade indígena de Otomí, do estado de Hidalgo, em uma das peças de decoração da coleção Dolls by Raw Edges, inspirada nas tradições de diversos povos e na herança de viagens da casa de moda sediada em Paris.
“Sentimo-nos obrigados a perguntar, respeitosamente, se para a elaboração da cadeira mencionada vocês procuraram e, neste caso, trabalharam em conjunto com a comunidade e seus artistas”, diz o ofício.
Frausto ainda convidou a etiqueta a trabalhar com as comunidades locais para chegar a um acordo sobre “benefícios diretos e concretos para todas as partes”, para que os artistas tenham o reconhecimento que merecem. Para a secretária, cada peça produzida pelo povoado é “única, irreplicável e, ao mesmo tempo, resultado dos conhecimentos e habilidades transmitidos por muitas gerações”.
Inicialmente, a Louis Vuitton não se manifestou sobre a situação, mas na tarde dessa terça-feira (09/07/2019), após o caso ganhar a mídia, a grife retirou a peça de suas redes sociais e emitiu um comunicado à imprensa.
Em resposta ao “inquérito”, a label do grupo LVMH disse atuar diretamente com os profissionais do estado. “Estamos, atualmente, em relacionamento com os artesãos de Tenango de Doria, no estado de Hidalgo, México, com a perspectiva de colaborarmos juntos para produzir esta coleção”, escreveram em comunicado emitido pela empresa.
Esta não é a primeira vez que a LV é acusada de se apropriar de artes indígenas em suas criações. Em 2011, o estilista Kim Jones estreava à frente da linha masculina da grife. Para marcar o primeiro trabalho na casa, ele recorreu às suas memórias de infância, no Quênia.
Entre as referências usadas pelo britânico estavam as estampas xadrez do povo Maasai, que nunca autorizou o uso de suas padronagens em qualquer produto.
Marcas como a francesa Isabel Marant e a fast fashion Zara já foram acusadas de apropriação da cultura mexicana em outros momentos. Então, para proteger a criatividade indígena e evitar que empresas copiem ou roubem suas criações sem dar qualquer contribuição às comunidades, a bancada governista do Senado do México apresentou um projeto de lei.
O Movimento de Regeneração Nacional, proposto pela esquerda mexicana, espera proteger as comunidades indígenas do plágio e dar reconhecimento e monetização aos povos nativos. Contudo, enquanto as regras sugeridas não são colocadas em prática, o governo tem abordado as empresas diretamente.
Colaborou Danillo Costa